A pressão arterial sobe - e
muito - durante um acesso de raiva. Ela permanece alta uma semana depois,
atingindo picos elevados todas as vezes que o sentimento da ira volta à
memória.
“Mesmo após uma semana, não existe sinal de redução do efeito”, dizem pesquisadores da Universidade da Califórnia e da Universidade Colúmbia em artigo publicado no International Journal of Psychophysiology, no fim do ano. Sabia-se que os hormônios do estresse, tais como o cortisol e a adrenalina, produzidos em grande quantidade pelo organismo durante os acessos de raiva, contraem os vasos sangüíneos e fazem subir a pressão arterial e o ritmo cardíaco. Mas supunha-se que esses efeitos desaparecessem tão logo passasse o acesso. As artérias de pessoas sujeitas a freqüentes impulsos de ira e de agressividade tendem a endurecer e a degenerar mais rapidamente do que as de pessoas mais calmas.
Deixar-se levar pela raiva significa correr um maior
risco de doenças do coração e de outras moléstias. A raiva é uma emoção
poderosa. Raiva descontrolada pode conduzir a discussões, brigas e ofensas
morais e físicas, pancadarias e até automutilações. Por outro lado, a raiva bem
gerenciada pode se tornar uma emoção útil, capaz de motivar transformações
positivas na pessoa.
Da mesma forma que o medo, a excitação nervosa e a
ansiedade, o acesso de raiva desencadeia na pessoa uma “resposta de combate”,
com farta produção dos hormônios do estresse. O cérebro desvia o fluxo
sangüíneo que circula nas vísceras, transferindo-o para os músculos,
preparando-os para a ação física. Os ritmos cardíacos e respiratórios aceleram,
a pressão e a temperatura sobem, a pele transpira. A mente pode tornar-se aguda
e bem focada.
A produção freqüente pelo organismo de substâncias
químicas ligadas ao estresse e à raiva, somada às alterações metabólicas que as
acompanham, podem realmente danificar seriamente vários sistemas do corpo
humano. Entre os problemas que mais cedo ou mais tarde costumam aparecer estão:
enxaquecas e dores de cabeça, problemas digestivos e dores no abdômen, insônia,
ansiedade, depressão, hipertensão arterial, doenças da pele como eczemas,
ataques do coração, enfartes.
Muitas pessoas expressam a raiva de modo inadequado e
perigoso; têm pouco controle de sua raiva e tendem a explodir em acessos de
fúria que podem degenerar em agressões e violência física contra os outros ou
contra si mesmos. A pessoa que não controla seu temperamento irascível tende a
se isolar da família e dos amigos. A característica de muitos raivosos é, no
entanto, a baixa auto-estima; eles costumam usar sua ira para manipular os
outros e se sentir poderosos e importantes.
A pessoa que não consegue controlar o seu TEMPERAMENTO
irascível tende sempre a se ISOLAR da família e dos amigos
Algumas pessoas consideram que a raiva é uma emoção
“ruim” ou “inapropriada”, e fazem de tudo para suprimi-la. Mas, quando se
tranca a raiva, ela tende a se transformar em depressão e ansiedade. Muitas
vezes, pessoas que reprimem sua raiva tendem a projetá-la sobre alvos inocentes
e indefesos, crianças ou animais domésticos.
É possível, no entanto, expressar a própria raiva de
modo bem mais saudável. Por exemplo, se você for um raivoso e sentir que está
perdendo o controle, afaste-se temporariamente da situação que o enraivece até
que a cabeça e o coração esfriem. Reconheça e aceite essa emoção como uma
componente normal da sua vida.
Tente descobrir quais as causas corretas e verdadeiras
que lhe produzem raiva. Quando você identificar o problema, considere a
possibilidade de usar estratégias diferentes para contornar ou remediar o
problema. Pratique alguma atividade física, algum esporte, ou vá correr no parque.
A não ser em casos de graves patologias
comportamentais, quando apenas a presença de um terapeuta especializado poderá
encontrar algum caminho de solução, a maior parte dos casos de irascibilidade
freqüente pode ser controlado.
É possível aprender a gerir o sentimento da raiva. Esse
aprendizado é uma das provas mais importantes a ser superadas na escola da
vida. Negar a raiva não impede a sua manifestação. Reprimi-la conduz
inevitavelmente a somatizações. Manifestá-la provoca sentimento de culpa.
Então, como gerenciar positivamente a raiva, e transformá-la em uma fonte de
energia?
Um grupo de terapeutas italianos que se apresenta com o
nome de Viviamo in Positivo (Viver positivamente, site: www.viviamoinpositivo.
org) oferece um método para o controle da raiva conhecido como Método por
Afirmações, cuja síntese é:
(1)
Tomar consciência da raiva
Perceba quais são as coisas que normalmente o fazem
enraivecer. Você vai descobrir que todas elas têm a mesma raiz: a culpa.
Durante uma semana, no final do dia (ou no primeiro
momento que estiver livre), escreva: “Hoje, me senti com raiva quando... por
que...”
No fim da semana releia tudo aquilo que escreveu:
observe as situações que lhe causaram raiva e sublinhe todas as que achar
parecidas.
Responda para si mesmo as perguntas: O que,
habitualmente, me enraivece? Me enraiveço mais comigo mesmo ou com os outros?
Existe culpa nisso? A quem responsabilizo pela minha raiva? Terminada essa
análise, passe para o segundo ponto:
(2)
Declaração de raiva – Primeiro método
Quando terminar de escrever todas as cartas: queime-as.
Ao queimá-las, faça ecoar dentro de você a frase: “Eu escolho me livrar por
completo do sentimento de raiva.”
(3)
Declaração de raiva – Segundo método
Quando encerrar sua jornada (ou em qualquer outro
momento em que isso seja possível) examine os acontecimentos que estimularam o
seu sentimento de raiva. Mantenha um travesseiro sobre os joelhos ou sobre um
colchão. Para cada situação exprima a sua raiva dando socos sobre o travesseiro
ou sobre o colchão. Se tiver vontade de chorar, chore, sem nenhuma trava ou
impedimento.
Chorar faz bem e relaxa a tensão. Desafogue sua raiva o
mais possível, permitindo que ela saia de você. Se puder (atenção aos
vizinhos!) grite ou fale em voz alta, dizendo tudo aquilo que você sente.
Quando perceber que já se desafogou o bastante, deite-se e passe à fase de
integração (veja o item 5).
(4)
Declaração de raiva – Terceiro método
No final do dia (ou quando for possível), vá para um
parque, um jardim, uma praça pública e corra, cerrando com força as mãos e
golpeando o ar como um pugilista no treino, e imaginando, a cada golpe, que a
raiva sai de você. Pare apenas quando se sentir bem descarregado.
Abrace ou encoste-se em uma árvore para absorver
energia. Ou, se a possibilidade existe, deite-se sobre a grama ou a terra nua e
procure absorver energia através da respiração.
(5)
Integração da raiva – Primeiro método
Sente-se comodamente numa poltrona, com a espinha
dorsal o mais reta possível, ou então deite-se.
Respire lenta e profundamente, sem fazer pausas. Ao
fazê-lo, relaxe mentalmente o corpo todo, dos pés à cabeça.
Quando o seu corpo estiver completamente relaxado,
continue a respirar sem fazer pausas. Rememore mentalmente a sua jornada e,
particularmente, uma ocasião em que você experimentou o sentimento da raiva.
Sempre sem interromper a respiração, observe onde está
a sensação mais forte no seu corpo no momento em que pensa na raiva e permita a
ela sair de você. Continue a respirar “sobre” a sensação e, enquanto o faz,
repita mentalmente a afirmação: “Aceito esse sentimento e o transformo em
energia: tudo isso é útil para a minha evolução.”
Continue aumentando ou diminuindo o ritmo da respiração
até sentir uma sensação de paz interior e perceber que a sensação naquela parte
do seu corpo desapareceu.
CHORAR faz bem e relaxa a tensão. Desafogue a sua
raiva, permitindo que ela saia de você. Se puder, GRITE ou fale em VOZ ALTA
tudo aquilo que você sente
Divulgação Para cada situação de raiva que você
descreveu no papel escreva uma lista das suas responsabilidades em relação a
ela. Não se deixe influenciar pelo desejo de atribuir uma culpa, nem a si
mesmo, nem às outras pessoas envolvidas. Assuma simplesmente as suas
responsabilidades no processo de criação do sentimento de raiva.
Quando terminar a lista, pegue uma folha de papel em
branco e escreva: “Posso escolher a paz em lugar de... (escreva uma por uma
todas as situações que você analisou e para cada uma repita a frase: Posso
escolher a paz em vez de escolher...”
(7)
Integração da raiva – Terceiro método
Deite-se ou sente-se tranqüilo, coloque uma música
relaxante, acenda uma vela se o desejar feche os olhos e visualize a situação
que, nos últimos tempos, mais o fez enraivecer. Mantenha os olhos fechados e a
respiração calma. Comece a modificar a bel-prazer os personagens, a paisagem, a
luminosidade, os sons, à distância até que a sensação interior mude por
completo.
Por exemplo: se na visualização da situação de raiva
você via o ambiente escuro, clareie-o. Se existiam vozes altas, troque-as por
vozes baixas, apenas perceptíveis. Se você via a imagem a uma distância muito
próxima, afaste-a; se a via em branco e negro, pinte-a com as suas cores
preferidas.
Se você estava em posição de submissão, ponha-se em
posição de ataque. Se estava calado, fale, e vice-versa. Faça uma mudança de
cada vez, e observe como você se sente, se a sensação diminuiu ou mudou de
alguma forma. Encerre o exercício quando experimentar uma sensação de bem-estar
e quando a sensação de raiva tiver desaparecido por completo.
(8)
Integração da raiva – Quarto método
Se a sensação de raiva é ligada a uma pessoa, escreva a
ela uma carta na qual você lhe explica tudo aquilo que sente. Use sempre a
primeira pessoa (eu sinto, eu experimento, eu creio) e desafogue, mas sem
insultar, procurando entender o ponto de vista da outra pessoa.
Você poderá escrever, por exemplo: “Senti raiva quando
você..., mas acho que você fez aquilo por que...; tive vontade de..., e me
pareceu que você...”
Tente fazer a seguinte experiência com duas cadeiras,
sentando ora na sua cadeira, ora na cadeira da outra pessoa com a qual você
teve um problema de raiva.
Quando estiver na cadeira “dela”, procure sentir
profundamente o que ela pensou e por que deu aquela resposta ou se comportou
daquele modo. Quando estiver na sua própria cadeira, faça emergir tudo aquilo
que você queria dizer e não conseguiu.
Esse exercício serve para fazê-lo compreender que até
mesmo aquilo que exprimimos em voz alta produz uma vibração que o outro percebe
e a que, por sua vez, reage de modo mais ou menos inconsciente.
(10)
Integração da raiva – Sexto método
Tente perdoar. Antes de tudo, perdoar a você mesmo por
ter se deixado levar pela raiva, por ter se sentido impotente, assustado, etc.
Segure um espelho e, olhando-se nos olhos, repita:
“Fiz o melhor que podia naquela situação e com os meios
de que dispunha. No futuro, farei um esforço para melhorar o mais possível, mas
neste momento tudo está perfeito do jeito que está.”
Repita ou escreva a frase até que você esteja
totalmente convencido. Em seguida, perdoe o outro e a própria situação. Sempre
diante do espelho, repita:
“Eu lhe perdôo... não aprovo o seu comportamento, mas
sei que você fez aquilo que podia, com os recursos de que dispunha e com o
conhecimento que possui. Escolho abandonar o rancor por você, e liberto a nós dois,
a mim e a você.” Repita ou escreva até estar convencido. O perdão é um ato
liberatório, cujo efeito benéfico se reflete sobre nós.
Depois do perdão, permaneça em silêncio, numa posição
cômoda, ligado à energia infinita, visualizando uma luz cor-de-rosa no centro
do seu coração. Imagine que essa luz toma a forma de uma flor de lótus que se
abre a cada inspiração e se fecha a cada expiração.
Pense intensamente no amor, relembrando com alegria uma
ocasião em que você amou ou foi amado e permaneça vivendo essa lembrança o
maior tempo possível. Lembre-se que a raiva que você sente é uma prova do fato
de que você não se comunica corretamente com os outros.
Reconhecendo isso, você poderá adotar uma mudança de
comportamento. Você está completamente livre para escolher a paz ou a guerra.
Reconhecer isso e agir de maneira coerente com a sua escolha depende unicamente
de você.