“Emocionei-me muito. É o reconhecimento de um país acolhedor”, diz o designer francês responsável pela nova cara da marca espanhola, que após mais de um século de história decidiu aventurar-se na moda de alto luxo. A tarefa que lhe foi entregue no início de 2007 não é fácil. Pela primeira vez, a El Caballo tem ao seu serviço um designer, com a missão de transformar a envelhecida marca sevilhana, que nasceu como roupa, acessórios e material de hipismo, numa marca desejada pelas fashionistas. O desafio maior foi conciliar o sabor andaluz e o couro com as tendências da moda de luxo.
Na coleção para a estação Outono/Inverno 2009/2010, as mulheres El Caballo vistas por Nicolás Vaudelet são amazonas de luxo, com calças justas de pele e botas de saltos dourados com o formato de navalha, que se aventuram também em vestidos cingidos ao corpo combinados com blusões de couro. As cores oscilam entre os tons terra e o preto, numa mistura que as coloca a meio caminho entre um picadeiro e os ambientes punk rock tão na moda. O discípulo de nomes grandes da moda francesa, como Jean Paul Gaultier, não descurou nos detalhes que confirmam a origem da marca. Longos lenços sevilhanos amarrados à cabeça, por baixo de chapéus de abas largas, associados a casacos boleros. Uma outra opção de Nicolás foi ornamentar a cabeça das modelos com boinas estilo militar, cobertas com pins, mantendo o lenço sevilhano por baixo.
As carteiras de couro, a imagem de marca da El Caballo, abandonaram o estilo comportado com o monograma da marca, próprio de senhoras mais conservadoras. Assumiram formatos inesperados, como uma bola de futebol com lantejoulas ou clutchs que se carregam presas ao pulso, por uma pulseira com corrente. Nicolás considera que se trata de uma coleção madura, a quarta para a El Caballo e a terceira que traz à passarela Cibeles. “É uma coleção mais uniforme, completa, e com a silhueta mais definida”, justifica o designer que deu os primeiros passos no mundo da moda ao serviço da casa de luxo Christian Lacroix. Foi aqui que começou a paixão pelo universo andaluz, que o fez querer emigrar para o Sul de Espanha. A viagem ficou adiada por algum tempo, os anos em que passou pela Dior, Louis Vuitton, Givenchy e Jean Paul Gaultier. Ao serviço de Gaultier, o denominado enfant terrible da moda francesa, aprendeu a trabalhar o couro em silhuetas esguias e futuristas e moldou as peças que Madonna envergou na digressão mundial Confessions Tour.
O encontro com a El Caballo devia estar escrito nas estrelas. Nicolás pediu à assessora de Joaquin Cortés — que conheceu quando desenhou o guarda-roupa do bailarino espanhol no espetáculos Soledad — que tentasse saber de algum trabalho para ele na Espanha. Queria consumar a paixão e viver mais essa cultura, para lá da música que ouvia no seu apartamento em Paris. Por força do destino, ou pura coincidência, a assessora de Cortés trabalha para a mesma empresa de comunicação que gere a El Caballo, que, por seu lado, andava dando voltas à procura do designer que iria fazer renascer a marca. A mudança para Sevilha foi rápida, e hoje Nicolás sente-se mais ligado a esta cidade do que a Paris.
Como a moda espanhola, sente-se um adolescente em busca da sua identidade, em que tudo é permitido. Paris é uma mulher madura que já encontrou o seu estilo há muito. O jovem alourado e de olhos azuis, com uma humildade e simplicidade pouco comum nos designers franceses, quer ser parte integrante dessa descoberta, ajudando a transformar Madrid numa capital de moda, com personalidade própria. Está fascinado com a alegria e abertura dos espanhóis, em contraponto com o estilo mais fechado dos franceses. Com a El Caballo está consciente que a mudança não pode esquecer as clientes fiéis, que vão querer continuar a rever-se na marca. Por isso, a ideia é colocar as modernas coleções Nicolás Vaudelet para El Caballo em novos pontos de venda, sem abandonar as linhas mais tradicionais, nem a roupa de montar a cavalo. “É difícil evoluir sem abandonar as clientes tradicionais e não queremos que haja equívocos. Queremos uma marca com várias caras”, considera.
Quanto à próxima coleção, prefere não abrir o livro. “Podia dizer que a inspiração vai ser África, mas entretanto posso mudar de ideias. É arriscado”, diz.