Creio que antes de falar do livro devo falar um pouco
de mim, a autora. Portanto me apresento; meu nome é Noemia Meireles Nocera.
Minha primeira formação profissional foi o curso técnico de química industrial.
Anos depois, graduei-me em matemática. No entanto, em vez de lecionar, fiz
treinamentos em informática e, por treze anos, exerci com sucesso a profissão
de analista de sistemas. Naquela época, buscava uma vida menos dura do que a
que havia tido em minha infância e adolescência. Isto, porém, não me bastava,
tanto que, nas horas vagas, fazia poesias. Desejando uma atividade que
atendesse às minhas demandas íntimas, tornei-me psicóloga. Após vários anos na
prática desta última profissão, percebi que ainda não havia encontrado o real
significado de minha vida. Vislumbrei-o ao me imaginar relatando os dramas
humanos através de histórias inventadas. A primeira delas materializou-se no
livro “Enseada do Segredo”.
Esta história tem como foco uma mentira familiar, e se
situa num subúrbio imaginário do nordeste brasileiro, no período da ditadura
militar. No entanto Frederico, o protagonista, ignora tanto a mentira familiar
como a realidade por trás da ordem estabelecida em seu país; retalhos desta
realidade aparecem, inicialmente, através de sussurros amedrontados e vão
sugerindo a situação política da época. Mas, o que lhe era negado conhecer,
Frederico pressentia, era como se algo errado houvesse em torno de si... ambas
as mentiras interferindo em sua vida. Assim Morgana Gazel vai tecendo os fios
até finalizar a trama da história. Morgana Gazel é a narradora que existe em
mim.
Ao decidir enveredar por esse caminho, pensei em
direcionar minhas escritas, de modo a contribuir no processo de humanização do
homem. Intenção que, logo percebi, não podia ser imposta ao livro, pois eu não
conseguia controlar o que vinha a minha mente. Entretanto se imiscuíram, no
texto do “Enseada do Segredo”, mensagens subliminares favoráveis à vida, aos
bons costumes e à conscientização de direitos e deveres; elas aparecem
disfarçadas ora nos diálogos ora na conduta dos personagens. Observando-as e
sabendo como são efetivas na aquisição de novos comportamentos e valores,
concluí que, independentemente do meu controle, um caráter educativo revelou-se
no livro. Deve ter sido Morgana quem me presenteou com isso.
Depois que este livro me foi entregue pela editora no
início de agosto do ano passado, desejando que ele chegue às mãos de quantos
possam usufruir algum benefício ao lê-lo, passei a me ocupar diligentemente em
sua divulgação. Naquele mês, lancei-o em três lugares diferentes, Salvador, São
Paulo (na Bienal) e Rio de Janeiro. E, no dia nove de janeiro, fiz um
lançamento em Fortaleza. Também já o doei a instituições, onde vivem pessoas
que teriam dificuldade em adquiri-lo, como o presídio Lafayete Coutinho, o
Conjunto Penal de Mulheres e o Abrigo do Salvador. Neste último local, espero
que ele proporcione aos idosos pelo menos alguns momentos de reflexão e prazer.
Agora, estou elaborando um projeto, visando conseguir patrocínio para publicá-lo
em braile e em áudio, respectivamente código e formato que darão às pessoas
cegas a possibilidade de o ler.
Mesmo trabalhando para apresentar ao mundo o “Enseada
do Segredo”, escrevi oitenta páginas do segundo livro, cuja história se
intitula Liberdade Negada. Neste último, o drama resulta da intolerância
política da ditadura militar e da conduta de um pai, contaminada por essa
intolerância. Este livro tal qual uma vida em gestação clama minha atenção. É
doloroso, mas lhe faço ouvidos moucos e continuo a cuidar do primeiro, a quem
me dedicarei até que ele possa caminhar sozinho.