A sabedoria popular já havia anunciado: «Não há mulheres frígidas... Sim, homens incompetentes!» A comunidade científica e médica confirma: a frigidez morreu! Descansa em paz depois de anos em que foi utilizada para definir, de forma ambígua e quase sempre pejorativa, as mulheres que eram icebergs na hora do sexo. Já não há mulheres frígidas, bem como, homens impotentes. O que há são mulheres com desejo sexual hipoativo (isto é, a falta dele) e disfunção orgásmica, e homens com disfunção erétil. Novas palavras para antigos problemas.
Voltemos à defunta frigidez. Para explorar as versões modernas do fenômeno é preciso entender primeiro a sua etimologia, algo que se revela muito mais complicado do que seria de esperar. Seja porque o termo caiu em desuso ou talvez porque sempre esteve revestido de alguma ambiguidade, qualquer tentativa de definição esbarra numa teia de poucos consensos.
Nuno Monteiro Pereira, professor de sexologia, entende que aquilo a que popularmente se convencionou chamar de frigidez se referia ao que a literatura atual chama de disfunção do desejo sexual hipoativo, ou seja, a ausência de desejo sexual. O psiquiatra Francisco Allen Gomes, atribui-a «não à falta de desejo sexual, mas à incapacidade de ter prazer com o sexo». Júlio Machado Vaz entende que se aplicava às duas situações. «Umas vezes referia-se à falta de desejo sexual, outras à falta de satisfação/excitação, incluindo o orgasmo.»
Esqueçamos, portanto, a frigidez e foquemo-nos nas disfunções sexuais da mulher. A mais frequente é a perturbação do desejo sexual hipoativo. Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-IV-TR, na sigla em inglês), a «bíblia» dos psiquiatras, refere-se à «deficiência ou ausência de fantasias sexuais e desejo de atividade sexual», causando na pessoa um «acentuado mal estar ou dificuldade interpessoal». Por outras palavras, para que o problema seja considerado uma disfunção não basta que a mulher não tenha vontade de manter relações sexuais com o seu parceiro. É preciso que isso cause perturbação pessoal
Diferentes do desejo sexual hipoativo são as perturbações do orgasmo. Segundo Machado Vaz, incluem não apenas a ausência de orgasmo (conhecida como anorgasmia) mas também o atraso persistente ou recorrente em atingi-lo a seguir a uma fase de excitação normal, seja através do coito ou da masturbação. Sendo que toda mulher exibe uma enorme variabilidade do tipo ou intensidade de estimulação que desencadeia o orgasmo, o diagnóstico deverá basear-se na avaliação clínica de que a capacidade de orgasmo é menor do que seria razoável para a idade, experiência sexual e adequação da estimulação sexual que a mulher recebe.
«O desejo sexual feminino é um processo extremamente complexo, que envolve componentes biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Essa complexidade explica, por exemplo, porque não existe ainda um fármaco para combater estes problemas», lembra Nuno Pereira. A intervenção nestes casos, sublinha a especialista, passa sobretudo pela psicoterapia e pela terapia sexual com vista a derrubar as barreiras psicológicas e emocionais que se interpõem entre a mulher e a sua plena fruição sexual.
Uma solução para o problema da falta de desejo sexual feminino poderá chegar nos próximos dois anos. Desenvolvido por cientistas da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, o medicamento é um gel que aplicado na parte superior do braço deverá aumentar significativamente o número de relações sexuais satisfatórias. Já conhecido como o «Viagra das mulheres»,encontra-se na última fase de ensaios clínicos e chegará ao mercado como nome de LibiGel .