fantasias masculinas

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

É impossível descrevê-las numa só palavra: são ao mesmo tempo simpáticas e bonitas, safadas, hospitaleiras e frágeis, atrevidas, maternais e cândidas, e autênticas tentações, Elas – você já deve ter percebido – são as garotas dos calendários, as pin-ups, que com seus sorrisos de anúncio de dentifrício e trajes reduzidos animam o passar dos meses de quem as vê.“A pin-up ideal tem que ter 15 anos e corpo de 20”, dizia o ilustrador Gil Elvgren.

fantasias masculinas


É que a verdadeira pin-up não se deixa mostrar em imagens ordinárias, revelando tudo. Opta (quase) sempre por um recato que apenas deixa antever os seus dotes físicos, sugerindo-os, incitando o desejo nos seus fãs, de modo a que, mantendo a sua integridade moral, possa ao mesmo tempo despertar o desejo e as paixões masculinas. 

E, de fato, não há melhor combinação do que a beleza e tempo. Assim, em vez de fluir implacavelmente, ele nos proporciona todos os meses uma sensação nova, uma beleza nova, pujante, renascida. Por isso é que as pin-ups, apesar de terem apresentado a sua beleza nos mais diversos meios – postais, anúncios, Internet –, se tornam muito mais fascinantes quando enquadradas num calendário.  

Rainha das pin-ups – Ainda que a fotografia fosse um êxito, as verdadeiras pin-ups foram, até a década de 60, sempre pintadas. Pode dizer-se com toda a justiça que nenhuma mulher de carne e osso tinha conseguido até então personificar a graça, a doçura, o ar fatal e desinibido das suas congêneres de papel... à exceção de Betty Page (1923). A fama é tanta que as reproduções das suas fotos excedem em número as de Marilyn Monroe e de Cindi Crawford juntas. E, por incrível que pareça, continuam a ser consideradas pelos padrões atuais de beleza, ícones do erotismo. Claro que, na época, as imagens de Betty Page provocaram escândalo entre as classes mais conservadoras da sociedade. Cada foto de Betty Page rompe com os padrões habituais da época, mostrando todo o erotismo do corpo feminino, sem nunca entrar no pornográfico, apesar de ter feito centenas de nus – o mais famoso é um em que enfeita uma árvore de natal, tendo como única peça de roupa um barrete de papai noel.

Mas nos EUA dos anos 50, não eram apenas o comunismo e o racismo que ocupavam a mente dos americanos – os atentados ao pudor eram uma preocupação quase igual, razão pela qual o governo federal viu-se obrigado a iniciar uma investigação por obscenidade. E, não fosse a modelo ter desaparecido em 1957 sem deixar rastro, não se sabe o que poderia ter acontecido. 

Longe de ter caído no esquecimento, o culto de Betty cresceu e conseguiu a verdadeira consagração: passar da película ao pincel dos artistas. Um exemplo é a tira de banda desenhada ‘Betty’, de Dave Stevens(ilustração), baseada na figura da modelo. Betty Page foi igualmente imortalizada por artistas como Olivia de Beardinis, Robert Blue e Henry Lamour. 


Até Quentin Tarantino inspirou-se nela para a personagem feminina de ‘Pulp Fiction’, interpretada por Uma Thurman.(foto) 

O reinado das ‘Petty Girls’ - O poder da ilustração era enorme e um dos seus expoentes são as imagens de George Petty (1894 - 1975). As suas mulheres, risonhas, baixinhas e extremamente torneadas, com seios grandes e cintura fina, ilustraram centenas de calendários, com um êxito tal, que começou mesmo a falar-se das ‘Petty-Girls’. Em 1950, estreou um filme exatamente com esse nome, com Robert Cummings no papel do artista e Joan Caulfield no papel de musa. As suas mulheres de papel chegaram a rivalizar em popularidade com pin-ups de carne e osso como Betty Grable (1916-1973), apesar de esta ter estado presente nas carteiras de mais de um milhão de soldados americanos na II Guerra Mundial. E apesar de as suas medidas serem muito semelhantes às dos desenhos de Petty. É que competir com a vivacidade, alegria e sensualidade das ‘Petty Girls’ era muito difícil.  

A rainha da selva - O peruano Alberto Vargas (1896-1982) começou por imitar Petty, mas há quem diga que o superou. As suas mulheres eram a antítese das de Petty, loira de olhos azuis e lábios perfeitamente desenhados, que se mostravam em poses sensuais, com formas exuberantes e tentadoras, criando um ideal de beleza que alimentou as fantasias de homens e mulheres durante mais de seis décadas. O poder dos seus desenhos foi tão grande, que bastava desenhar alguém para que se tornasse uma estrela. Foi o que aconteceu com Iris McCalla(foto), que atingiu o pico da sua carreira quando aceitou posar para um dos calendários de Vargas. O sucesso levou a que McCalla fosse convidada para fazer a série de televisão ‘Sheena, a rainha da selva’. Diz-se que ficou tão grata a Vargas que lhe concedeu algo único – fotografá-la nua. 

Elvgren, o picante – Mas o artista mais genial, e cujas obras são disputadas avidamente pelos colecionadores, foi Gil Elvgren (1914-1980). Durante a II Guerra Mundial, os seus calendários, editados pela Louis F. Dow Calendar Company, foram distribuídos aos milhares entre os combatentes americanos. Mais tarde trabalhou com a Brown & Bigelow, uma empresa onde publicou calendários atrás de calendários (chegou a fazer 20 por ano) durante quase três décadas. 

Gostava de modelos jovens e desconhecidas do grande público, apesar de terem posado para eles nomes como Kim Novak, Donna Reed ou Myrna Loy(foto). Tem que se reconhecer que todas interpretavam na perfeição o seu ‘tipo’ – a conjugação ideal entre a decência e provocação. As suas pin-ups eram mulheres angelicais, embora ao mesmo tempo lascivas e perversas. Quando andavam, sempre de saltos altos, ficavam com a saia presa em algum lado, e quando tiravam a roupa ficavam com ela presa na cabeça – eram essas poses que Elvgren gostava de fotografar. Num calendário de 1958, numa das suas imagens mais famosas, a garota chega a utilizar a sua saia para afastar a fumaça que sai de uma grelha. 


O caso Marilyn – Nesta altura, os desenhos já perdiam terreno para a fotografia. Em 1948, a desconhecida modelo Norma Jean Baker posa nua para o fotógrafo Tom Kelley. A Baumgarten Calendar Company compra duas fotos e coloca-as nos seus calendários de 1951 e 1952. Devido ao impacto que este último – ‘Golden Dreams’- teve no grande público, Hugh Hefner compra a imagem à Baumgarten, para a publicar em 1953 nas páginas centrais da então recente ‘Playboy’. O escândalo não se fez esperar. Tudo porque Norma Jean Baker era na época conhecida como... Marilyn Monroe. 



Até então, nenhuma atriz de sucesso se atrevia a posar nua, já que isso era sinônimo de atirar a carreira para o lixo. Ninguém se esquecia da luta titânica que Joan Crawford tinha travado para conseguir as películas dos filmes menos próprios que tinha feito enquanto aspirante a atriz. Felizmente para Marilyn, foi um sucesso tal que esbateu as diferenças entre pin-ups de carne e osso e as de papel. Foi aí que começou a tendência de as grandes atrizes deixarem-se fotografar nuas. Veja-se o caso de Sharon Stone, Demi Moore, ou das modelos Claudia Schiffer e Naomi Campbell, que posaram para as objetivas no pico da sua carreira. 

Mulheres poderosas – Seguindo essa tendência – e como é habitual, exagerando-a até ao máximo – nos anos 60, bares, oficinas, fábricas, todo o tipo de estabelecimentos, encheram-se de calendários com fotos libidinosas. Seios voluptuosos, corpos bronzeados envoltos em shorts curtos, monoquínis ou pedaços de tecido disforme, em poses que não faziam mais do que realçar o seu físico, incitando à admiração e desejo de quem os contemplava. As fotos tinham finalmente destronado as ilustrações das fantasias masculinas. Um bom exemplo é o de Bunny Yeager(foto).

                                                

Alta, de formas exuberantes, foi retratada centenas de vezes, ocupando por várias ocasiões o ‘centerfold’ da ‘Playboy’. Mas curiosamente é mais recordada pelos seus trabalhos atrás da câmara. Também passou pelo cinema, protagonizando filmes como ‘Bunny Yeager’s Nude Camera’ (1963) ou “Bunny Yeager’s Nude Las Vegas” (1964). Quem se lembrava ainda das ilustrações? 

                                

O aparecimento do calendário Pirelli, em 1964, veio impor de vez a fotografia. Tiradas em Maiorca por Robert Freeman, as fotos assumiam contornos artísticos, com um erotismo que se impôs como imagem de marca do autor. É curioso que tenha sido uma empresa de pneus, e cujos trabalhadores forravam as paredes com as formas voluptuosas de Raquel Welch ou Sofia Loren, a primeira a apostar num conceito mais artístico. A verdade é que, a partir daí, nada mais foi igual. 

O calendário Pirelli tornou-se um fenômeno, inacessível ao comum dos mortais. Hoje, as meninas nuas alegram os escritórios dos colecionadores, não os olhos dos caminhoneiros. Nos últimos anos, a ‘febre dos calendários’ foi tal que todas as empresas ou revistas italianas têm um. A luta tornou-se cerrada, com cada instituição tentando inovar – contratam apresentadoras de TV, estrelas do ‘Big Brother’ e fotógrafos famosos – de forma a tornar o seu, o calendário com mais visibilidade no mercado. Tanto que este ano a Pirelli(foto) optou, pela primeira vez na história, por evitar a nudez. 

 Teoria da relatividade- As características das pin-ups foram variando ao longo dos tempos. Nas décadas de 40 a 60, a expressão do rosto era uma característica fundamental. As mulheres fotografadas, marotas e provocativas, apresentavam um leque de expressões que iam da ingenuidade à surpresa, da provocação à alegria pura – os sorrisos de Betty Page e Marilyn Monroe são um bom exemplo desta última. Mas a partir dos anos 60, o ideal de beleza mudou, e impôs-se até a década de 90. As medidas das mulheres também foram mudando. As modelos tinham que ser mais altas, mais magras e mais novas. O ‘look heroin chic’ do princípio dos anos 90 foi o expoente máximo. No entanto, um estudo realizado entre as misses América de 1920 a 1980 e as ‘Playboy Bunnies’ de 1955 a 1990, demonstra que a medida das suas cinturas é entre 68 a 72 décimas partes de seus quadris. Exatamente o mesmo que o das pin-ups dos anos 50, e de Marilyn Monroe e Audrey Hepburn(foto). Em outras palavras, o ideal da ‘mulher violão’ ainda vive.

                               



Autor: Celso Mathias
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