Aos outros,
segundo os psicólogos americanos Sheree Conrad e Michaell Milburn, da
Universidade de Massachusetts, deve faltar inteligência sexual, precisamente o
título do livro que publicaram. Estes autores transpuseram para a sexualidade o
conceito da inteligência emocional de Daniel Goleman e, à semelhança deste
autor, também o consideram exclusivamente humano. O erotismo é a combinação
perfeita entre os estímulos sensoriais - provenientes do que vemos, ouvimos,
tocamos, cheiramos – e a nossa inteligência, que se conjugam em busca do
prazer, físico e intelectual. E o nosso potencial de atração e de envolvimento
provém de tudo o que somos hoje, mas também do nosso percurso de vida, das
nossas experiências, bem ou malsucedidas, que são o nosso capital de sedução,
dizem os psicólogos. E também do nosso grau de auto-conhecimento e capacidade
de conhecer os outros. Em suma, da nossa inteligência sexual.
Competência
humana
Enquanto nos animais o impulso sexual está associado à
reprodução, nos humanos a sexualidade é uma área de prazer, comunicação e
afetos, podendo ter paralelamente, claro, também uma dimensão de procriação.
Devido à intensa malha de conexões entre a área pré-frontal e as estruturas
límbicas tradicionais, a espécie humana é aquela que apresenta maior variedade
de sentimentos e emoções. Daí que a sexualidade dos humanos tenha outra
diferença abismal em relação à dos outros animais, especificamente aos que lhes
estão mais próximos – os primatas – tornando o sexo algo muito mais
complexo.
As neurociências conseguiram identificar grupos de
neurônios localizados em todo o hipotálamo, ricos em receptores de hormônios
sexuais que se ativam quando os animais começam a aquecer, ou seja, quando
sentem o impulso sexual. De tal modo, que se estes neurônios são destruídos,
perdem todo o interesse pelas fêmeas, ficando, pelo contrário, verdadeiramente
obcecados com o sexo quando os neurônios são estimulados eletricamente. Por
isso, um gorila mesmo que esteja bastante satisfeito deliciando-se com uma
banana, não fica indiferente a uma fêmea no cio. Mais do que estímulo visual é
pelo olfato que o seu instinto de acasalamento é despertado. Por seu lado, os
seres humanos, principalmente os homens, também não são indiferentes aos
estímulos visuais. Por vezes, basta uma mulher cruzar o seu olhar para
despertar o interesse. Mas não se enganem os que pensam que as curvas ideais
são suficientes para os tornar inteligentes sexuais; o processo é mais
exigente, segundo Milburn e Conrad.
Imaginação...
O interesse pelo outro é muito mais do que a sua imagem
física, e a nossa criatividade não tem limites. “Vejo o outro com os olhos da
imaginação, o lugar físico onde se encontra é aquilo que desejo contemplar”,
descreveu Italo Calvino. Muito mais do que a limitadora realidade física, a
fantasia é a chama do erotismo, que combina sabiamente as emoções e as
projeções de cada um.
Por isso, enquanto nos animais a retirada dos
testículos conduz inevitavelmente à ausência de atividade sexual, o mesmo não
acontece com os humanos, que podem criar fantasias eróticas e sentir apetite
sexual. “A mente humana pode produzir sofisticadas fantasias eróticas sem ser
com o intuito de as materializar”, explica a bióloga Herminia Pasantes, da
Universidade Nacional do México. “O hipotálamo encontra-se sob outras
influências nervosas, principalmente o córtex, que fazem parte do nosso cérebro
desde a origem do pensamento e da imaginação”. Assim, o desejo humano pode ser
despertado com a simples imaginação de uma carícia. É esta complexa rede
neuronal que une o nosso cérebro primário ao mais desenvolvido, às emoções e ao
pensamento, o que separa o nosso erotismo do sexo animal.
Mas afinal, como é que podemos aumentar o nosso poder
de atração? Há muito que os populares livros de auto-ajuda batem na mesma
tecla: gostando de nós próprios. E isso tanto é válido para melhorar a vida
profissional, fazer amigos como para ter bom sexo. “Não depende da sorte, da beleza
ou do sex appeal inato”, escrevem os psicólogos americanos. A inteligência
sexual está ao alcance de todos os que apostem em estimulá-la, porque “depende
de capacidades que as pessoas podem adquirir, desenvolver e dominar”,
esclarecem. Os autores que desenvolveram um teste para determinar o grau de
inteligência sexual de cada um enfatizam a necessidade de conjugar
conhecimentos científicos sobre sexo, sobre si próprio (o que me atrai, o que
me excita...) e a capacidade para comunicar com os outros, ou seja, é preciso
aprender a falar de sexo, mas não de forma desligada como muitas vezes ocorre.
No livro não faltam receitas práticas para melhorar a via sexual, e os
pesquisadores chegam mesmo ao ponto de definirem o número de relações sexuais
semanal considerado ideal.
“O sexo depende de reações neuroquímicas do cérebro,
mas a zona que controla a excitação recebe sinais de duas fontes: da
estimulação física e de outras regiões que regulam as emoções e as
recordações”, dizem os psicólogos americanos, para reforçar a importância dos
afetos. Para o psicólogo José Pacheco, não há dúvidas sobre a
importância que atribuímos às emoções: “A forma como vivemos a nossa sexualidade
remete-nos para o lado emocional, tanto durante a atividade sexual como na
vivência de uma paixão”, afirma. Mas não concorda com a designação de
“inteligência sexual”. “É um conceito como a inteligência emocional, não faz
sentido. O cérebro é o centro das nossas emoções e nós temos consciência de que
a inteligência pode interferir nas emoções”, concretiza.
Associações
afetivas
Na verdade, quando alguém nos desperta a atração, o
conjunto de respostas que ocorre no nosso cérebro não é nada simples. Podemos
ter sido literalmente apanhados pelo nariz, por exemplo. “Provavelmente o nosso
bolbo olfativo captou um estímulo olfativo que despertou associações afetivas
armazenadas nos neurônios do hipotálamo e de outras estruturas límbicas. A
percepção do estímulo provoca alterações inconscientes e sensações enviadas
através de sinais nervosos para o neocórtex pré-frontal”, afirmam os psicólogos
Pablo Fernandez e Natália Ramos. Este vai organizar os sinais: tentar
etiquetá-los, ordená-los graças a recordações táteis, visuais ou olfativas, o
que vai exigir que lhe cheguem mais sensações, por exemplo, inspirando mais
intensamente. “O que fazem os lobos pré-frontais é dar sentido às alterações
químicas e hormonais e às respostas corporais que provocam. Tornam-nos mais
completos emocionalmente, realizando uma representação intelectualizada das
sensações emocionais básicas”, clarificam os autores. Mesmo quando se trata de
uma mera atração física, o nosso cérebro “intelectualiza” as informações
recebidas.
Sensação
de plenitude
O sexo ajuda a encarar a vida de uma forma mais
positiva, ajudando a prevenir depressões, enquanto incita o organismo a
produzir endorfinas – hormônios responsáveis por uma sensação de plenitude,
além de inibirem a dor. A produção de testosterona também atua sobre o sistema
nervoso, multiplicando as ligações entre os neurônios, o que acelera o fluxo
nervoso, havendo, inclusive, alguns estudos que relacionam este hormônio com
uma capacidade acrescida de memorizar. A libertação de hormônios no sangue é um
bom antídoto para o estresse: a epinefrina, liberada nos primeiros momentos da
relação sexual, contribui para aumentar a concentração de açúcar no sangue e
reforçar as defesas contra o estresse. Mas a ação da epinefrina desaparece rapidamente,
sendo necessário que a relação se prolongue para que intervenha outro hormônio
– a DHEA – que aumenta a libido e que ajuda a diminuir a ansiedade, o mesmo
acontecendo com a testosterona. Mas é a progesterona o principal anti-estresse,
proporcionando uma sensação de paz a ambos. Para conseguir usufruir destes
benefícios é importante que o sexo seja satisfatório. Para Conrad e Milburn, o
sexo é uma negociação entre o casal, em que será bem sucedido quem compreenda o
outro e consiga expressar as suas necessidades e desejos e saiba utilizar as
suas emoções
Um
circuito neurológico só para as carícias
Existem neurônios específicos só para registrar e
reagir ao contato amoroso. Ao analisar as sensações de uma mulher que perdeu a
capacidade de sentir estímulos táteis, os cientistas constataram que ela reagia
a uma leve carícia de um pincel no braço. As imagens mostram as áreas do
cérebro que são ativadas quando o braço da mulher é acariciado, as mesmas que
entram em funcionamento nas pessoas normais quando têm pensamentos românticos
ou ficam sexualmente excitadas. Os estudo foi publicado na revista ‘Nature
Neuroscience’.
Palavras-chave
do sábio erótico
Os psicólogos americanos Michael Milburn e Sheree
Conrad definiram a inteligência sexual, depois de estudarem a fundo a vida
sexual de 500 pessoas
1 – A qualidade não está no físico, a não ser no olhar
erótico, na disposição para o prazer e na aceitação dos sentimentos e gostos do
parceiro. Eros está na psique e não entre as pernas. Uma pessoa como Don Juan,
presunçoso e pretensioso, preocupado apenas com a lista das suas conquistas e
avesso a aprofundar o prazer, seria um ignorante sexual.
2 – Confiança e compreensão em relação ao outro é o que
define a inteligência sexual, e não ser o mais rápido a levar alguém para a
cama.
3 – O talento, a sabedoria, a qualidade do discurso, em
suma, a imaginação, são outros fatores que definem o sábio sexual. Cleópatra
foi assim, sem dúvida. Não era a beleza irresistível que nos mostram os filmes:
era de pequena estatura, gordinha e com um nariz proeminente; mas deslumbrou
Júlio César e Marco Antônio, os dois homens mais poderosos da época.
4 – Manter o interesse sexual idades muito avançadas
também é um sinal de inteligência sexual. Foi o caso de Anne Cumming (1917),
autora de ‘Confissões Sexuais de uma Mulher Madura’. No final do livro, promete
a continuação das suas experiências sexuais até depois dos 70!
5 – Coisa a dois. Em geral, a inteligência sexual é uma
coisa a dois, por isso, manifesta-se em toda a plenitude quando ambos os
membros do casal são sexualmente inteligentes. Por outras palavras: todos podem
praticar sexo, mas ter um relacionamento sexual intenso, profundo e variado,
com um único parceiro, só está ao alcance dos mais inteligentes.
6 – Aprendizagem: a inteligência sexual é uma variação
da inteligência emocional, por isso a aprendizagem e a experiência têm muito a
ver com ela. No livro chinês ‘Jou Pu Tuan’, de Li Yü (1611 – 1680), o
protagonista começa por ser um ignorante sexual para quem a mulher não passa de
uma propriedade, mas no decurso da sua viagem circular de grande conteúdo
sexual torna-se um sábio.
A
ciência desvendou as características físicas do orgasmo
Durante o orgasmo, produzem-se descargas sincrônicas
causadas pelos neurônios da área septal, da amígdala e dos núcleos talâmicos.
Dura entre 3 e 20 intensos segundos, em que o homem ejacula e a mulher sente
uma explosão de prazer que envolve todo o seu organismo. Perde-se parcialmente
o controle muscular e sucedem contrações involuntárias (com intervalos de menos
de um segundo entre os primeiros três a seis espasmos). Os ritmos cardíaco e
respiratório aceleram ainda mais e o cérebro é invadido de endorfinas que
transmitem uma sensação de plenitude. A progesterona é a responsável pela
sensação calmante. A mesma equipe
holandesa, recorrendo também a ressonância magnética, analisou o coito e
constatou que o pênis no interior da vagina adquire a forma de um bumerangue e
não de um S, como se pensava.Em 1999, uma equipe de cientistas holandeses
conseguiu através de uma ressonância
magnética registrar a grande dilatação que
ocorre na vagina depois do orgasmo
Meça
a sua inteligência erótica
Para conhecer a capacidade erótica, Milburn e Conrad(foto),
dois psicólogos norte-americanos, elaboraram um teste. Esta que aqui apresentamos
é uma versão reduzida mas serve para se ter uma idéia. Pegue no lápis e
responda, sem mentir para si mesmo...
Para os que estão
interessados em fazer o teste completo, convém salientar que Conrad e Milburn,
no seu livro, esqueceram-se de assinalar que o resultado deve ser multiplicado
por 100.
1 – Como avalia a
sua atual vida sexual, comparando com a maioria das pessoas?
a) Menos excitante
do que a da maioria das pessoas
b) Idêntica à da
maioria
c) Excitante
d) Atualmente não
mantenho nenhuma relação sexual
2 – Alguma vez
escondeu um segredo sexual do seu parceiro durante bastante tempo?
a) Não, nunca
b) Uma ou duas
vezes
c) Várias
vezes
d) Com freqüência
3 – Comparando o
esforço que dedica a outras áreas da sua vida cotidiana, que esforço dedica
para ter uma vida sexual ativa e satisfatória?
a) Passo grande
parte do tempo imaginando como vou conseguir ter relações sexuais mais
freqüentemente
b) Para mim uma
vida sexual satisfatória é tão importante como o meu trabalho e os meus
passatempos
c) Quando acabo as
tarefas cotidianas, não me sobram tempo nem energia para pensar em formas de
melhorar a minha vida sexual
d) Tenho vergonha
de a minha vida sexual ser tão insatisfatória, por isso não procuro pensar no
assunto
4 – Até que ponto
acha que ter relações sexuais fantásticas é um sinal de que o amor é
verdadeiro?
a) Não tem nada a
ver
b) Significa que
os membros do casal estão feitos um para o outro
c) É uma garantia
de que se está apaixonado
5 – Se você acabou
de conhecer uma pessoa de quem gosta muito e com a qual quer ter uma relação
séria, tem logo relações sexuais?
a) Espero até a
conhecer melhor
b) Algumas vezes
tive relações sexuais com parceiros antes de os conhecer bem
c) Decididamente,
sim
6 – Quando está
excitado/a tem consciência de que o que sente é um impulso instintivo, um
sentimento afetuoso ou necessidade de companhia?
a) Nunca distingo
entre impulsos físicos e emocionais
b) Às vezes tenho
consciência de que é uma necessidade meramente física
c) Às vezes tenho
consciência de que procuro companhia
d) É sempre uma
combinação de ambos
7 – Até que ponto
tem noção das características físicas que constituem o seu gênero?
a) Sinto-me logo
atraída/o por pessoas de determinado tipo
b) Atraem-me
pessoas com um determinado aspecto, mas nem sempre opto por ter uma relação com
ela
c) Atraem-me
muitos gêneros físicos
d) Nunca pensei
por que tipo de pessoa me sinto atraído.
8 – Acha que uma
experiência sexual traumática influencia posteriormente a capacidade de
desfrutar de sexo?
a) Não, se tiverem
passado vários anos
b) Se não se
sentir ameaçado pelo parceiro atual é muito improvável
c) Só se a pessoa
está demasiado obcecada com o sucedido
d) Em muitos casos
é muito provável
9 – Habitualmente,
com que freqüência tem relações sexuais?
a) Algumas vezes
por ano
b) Uma a duas
vezes por mês
c) Uma ou duas
vezes por semana
d) Três vezes por
semana
e) Quatro vezes
por semana
10 – Quantas vezes
já teve relações sexuais sem lhe interessar, só para agradar ao parceiro?
a) Nunca
b) Diversas
vezes
c)
Ocasionalmente
d)
Freqüentemente
11 – Até que ponto
está de acordo com a afirmação: a paixão sexual tem sempre um preço, às vezes
muito alto?
a) Totalmente de
acordo
b) De acordo
c) Em
desacordo
d) Completamente
em desacordo
12 – Alguma vez se
envergonhou da sua conduta ou dos seus desejos sexuais?
a) Com
freqüência
b) Às Vezes
c) Nunca
13 – Como é que
seu peso afeta a possibilidade de ter relações sexuais?
a) Não me afeta de
todo
b) Podia sentir-me
mais contente com o meu corpo
c) Estou demasiado
gordo(a) para ter uma boa vida sexual
d) Não estou
suficientemente em forma para ter uma boa vida sexual
Resultados
1 A –2 B +3 C 0 D
0
2 A +3 B 1 C –1 D
–3
3 A –1 B +3 C –1 D
–2
4 A +3 B 0 C
–3
5 A +3 B +1 C
–3
6 A –1 B +1 C +1 D
+1
7 A 0 B +1 C +3 D
0
8 A 0 B 0 C –2 D
+3
9 A 0 B +1 C +2 D
+3 E +2
10 A+3 B 0 C +1 D
–3
11 A –1 B 0 C +1 D
+3
12 A –3 B 0 C
+3
13 A +3 B 0 C –3 D
–3
Some 26 ao
resultado, divida-o por 63 e multiplique-o por 100. Esta é a sua pontuação, a
sua “inteigência sexual”.
90 ou mais:
excelente • 80-89: boa • 70-79: corresponde à média obtida pelos autores no
estudo • 60-69: baixa
Inferior a 60:
inteligência erótica muito baixa
Quantidade
é qualidade?
A nova teoria americana sobre a inteligência sexual põe
em destaque alguns amantes famosos
Tendo em conta todas as variáveis que os psicólogos
americanos Conrad e Milburn definiram, alguns dos amantes mais famosos da
história revelam-se uns incompetentes sexuais, só preocupados consigo próprios,
atentos apenas à quantidade e não à qualidade e profundidade dos
relacionamentos.
Marcelo Mastroianni
A imagem do funeral, que reuniu a viúva e várias das
mulheres que amou, deixou claro que a sua marca foi indelével, o que só se
consegue tendo em conta as necessidades do outro.