Os jesuítas foram os responsáveis pelo seu
descobrimento e catalogação, bem como a divulgação do seu sabor e propriedades
calmantes. Todavia ainda não havia vislumbrado o que o maracujá, a fruta da
paixão, tem de mais belo, a sua flor. Missionários espanhóis do século XVI
viram a flor do maracujá e ficaram
Na linguagem
caipira, Catulo da Paixão Cearense fez uma linda poesia aqui traduzida para o português
dos letrados: “Ah! pois então eu lhe conto, a estória que ouvi contar, a razão
pro que nasce roxa, a flor do maracujá. Maracujá já foi branco eu posso até lhe
jurar, mais branco que claridade, mais branco do que o luar. Quando a flor
brotava nele lá pros confins do sertão, maracujá parecia mais um ninho de
algodão. Mais um dia, há muito tempo num mês que até não me lembro, se foi
maio, se foi junho, se foi janeiro ou dezembro. Nosso Senhor Jesus Cristo foi
condenado a morrer numa cruz crucificado, longe daqui como o quê. Pregaram Cristo
a martelo e ao ver tamanha crueza, a natureza inteirinha, pôs-se a chorar de
tristeza. Chorava os campos, as folhas, as ribeiras. Sabiá também chorava nos
galhos da laranjeira. E havia junto da Cruz um pé de maracujá carregadinho de
flor, aos pés de Nosso Senhor. E o sangue de Jesus Cristo, sangue pisado de dor,
pingava no pé do maracujá, tingindo de roxo, cada flor. Eis aqui seu moço a estória
que ouvi contar, a razão porque nasce roxa, a flor do Maracujá.”
Mas foi Fagundes Varela que a transformou
no símbolo da paixão, numa belíssima declaração de amor: “pelas rosas, pelos
lírios, pelas abelhas sinhá, pelas notas mais chorosas do canto do sabiá, pelo
cálice de angústias da flor do maracujá! Pelo jasmim, pelo goivo, pelo agreste
manacá, pelas gotas de sereno nas folhas do gravatá, pela coroa de
espinhos da flor do maracujá. Pelas tranças da mãe-d'água que junto da fonte
está, pelos colibris que brincam nas alvas plumas do ubá, pelos cravos
desenhados na flor do maracujá. Pelas azuis borboletas que descem do Panamá,
pelos tesouros ocultos nas minas do Sincorá, pelas chagas roxeadas da flor do maracujá!
Pelo mar, pelo deserto, pelas montanhas, sinhá! pelas florestas imensas que
falam de Jeová! pela lança ensangüentado da flor do maracujá! Por tudo que o céu
revela por tudo que a terra dá, eu te juro que minh'alma de tua alma escrava
está!!.. Guarda contigo este emblema da flor do maracujá ! Não se enojem
teus ouvidos de tantas rimas em A, mas ouve meus juramentos, meus cantos ouve,
sinhá! Te peço pelos mistérios da flor do maracujá!”