Uma das maiores atrações turísticas de Amsterdã, o
célebre Bairro das Luzes Vermelhas, onde as prostitutas se apresentam aos
clientes em vitrines, está mudando. Num número crescente de janelas, as
mulheres são substituídas por manequins de plástico vestidos com roupa de
autor.
Este é o sinal mais visível de um ambicioso plano da
câmara municipal, que quer retirar a prostituição da sua zona tradicional,
atribuindo os espaços a estilistas e artistas. Numa primeira ação, o município
adquiriu a um proprietário de bordéis os seus edifícios, por 16 milhões de
euros. Com esta medida foram «recicladas» 51 vitrines e muitas das já foram
cedidas a jovens desenhistas, fotógrafos e estilistas. No centro da cidade
existem ainda mais 400 destas janelas, a maioria das quais também deverá
desaparecer ou mudar de ramo.
Estas alterações, que foram iniciadas há alguns meses,
não significam que as autoridades municipais tenham se tornado subitamente
pudicas. Aliás, a prostituição está legalizada desde 2000 e as prostitutas
pagam impostos e fazem descontos para a segurança social. Segundo cálculos
oficiais, só as transações sexuais representam 70 milhões de euros por ano.
O problema é que os tempos mudaram. Em certos aspectos,
as autoridades admitem que estão enfrentando problemas criados pela permissiva
política holandesa. E, além da prostituição, outras medidas são bem o sintoma
de que a Holanda não está disposta a tolerar a permissividade de outrora. Por
exemplo, o número dos famosos «coffee-shops», onde se podem consumir drogas
leves, e certos políticos baianos chegaram a frequentar,estão sendo reduzidos, e até a política sobre a presença de estrangeiros
está endurecendo
«Demo-nos conta de que quem explora a prostituição já
não são pequenos empresários, mas grandes organizações criminosas, implicadas
no tráfico de mulheres e de droga, em assassínios e outras atividades
ilícitas», disse há tempos o prefeito, Job Cohen, justificando as medidas para
dar uma nova vida ao Bairro Vermelho.
No lugar dos bordéis estão sendo abertas desde Janeiro butiques, ateliês, restaurantes e bares. A empresa de vestuário C&A e o Fortis Bank querem investir no bairro e está planejada a ampliação do metrô. Aos jovens «designers» foi oferecida a possibilidade de se instalarem nos edifícios por uma renda mínima, ou somente pelos custos de manutenção, e de usarem as janelas como «showrooms». Roswitha van Rijs(foto), uma criadora de calçado, que tem o seu ateliê no bairro, decidiu instalar-se ali porque um dia lhe telefonaram, oferecendo boas condições. «Evidentemente que não podia dizer que não!», exclama. Muitos dos novos moradores pensam que o projeto vai vingar. É o caso da estilista Mada van Gaans: «As prostitutas irão ficar, assim como a moda. Eu espero que tudo possa coexistir. “E até agora tem sido uma história de sucesso», afirma. No caso da marca Lew, criada por Kim Leemas e Merel Wicker(foto) e que ocupa um prédio inteiro, a empresa já estava sediada no bairro mesmo antes do projeto Red Light Fashion Amsterdam. A dupla considera que a zona é uma boa fonte de inspiração para as suas criações.
Quanto às prostitutas que tiveram de abandonar as vitrines,
algumas mudaram para outras zonas da cidade, outras foram empurradas para as
ruas, denunciam os sindicatos. Mariska Majoor, uma ex-prostituta do Centro de
Informação da Prostituição, diz que o De Wallen - como é conhecido o bairro em
Amsterdã, vai tornar-se tão chato como o Joordan. Mariska teme que o espírito
de bairro se perca como aconteceu no bairro operário Joordan: descoberto pelos
novos ricos, que lá se estabeleceram, registrou uma explosão nos valores do
imobiliário e os restaurantes têm hoje menus a preços exorbitantes.