michelin;pneus e paladar

domingo, 28 de setembro de 2008

O Guia da capa vermelha surgiu como um brinde de um fabricante de pneus e transformou-se na bíblia da gastronomia. Não há chef que não sonhe em ter o seu nome inscrito no famoso livro, criado há 108 anos

michelin;pneus e paladar

Todo mundo já consultou, ou pelo menos ouviu falar do famoso Guia Michelin. Neles figuram os melhores restaurantes de uma cidade, região ou país, sendo que as classificações mais altas são atribuídas através de uma, duas ou três estrelas.

Para quem faz turismo gastronômico e tem condição de pagar para comer bem, o Guia é uma companhia indispensável. Para a maioria dos grandes chefes de cozinha, não figurar nele, é o mesmo que não existir. Ele mexe com o quase sempre muito sensível emocional dos grandes chefes do mundo e todos os anos há uma disputa cerrada pela conquista, sobretudo, das três estrelas. Quem não conhece nomes como , o El Bulli do espanhol Ferran Adriá, ou Alain Ducasse e Paul Bocuse? Além de avaliar a qualidade dos restaurantes e hotéis, o Guia é responsável também por revelar novos talentos da cozinha. A verdade é que, mesmo que esta luta pelas estrelas pareça uma briga de crianças, por trás desta briga de caçarolas entre inspetores e chefes de cozinha, há um negócio extremamente lucrativo. Cada estrelinha carimbada no Guia Michelin pode equivaler a uma boa quantidade de dinheiro a mais no caixa dos empresários da gastronomia. Não é raro se gastar num restaurante com três estrelas do Michelin, uma média de R$1,5 mil por pessoa.

«Quem não está no Michelin, dá o braço direito para entrar», garante André de Quiroga, conde de Rocamor, um gastrônomo que prefere apresentar-se como «pessoa com conhecimentos de gastronomia da óptica do utilizador». Acostumado a organizar festivais de gastronomia na França, Bélgica ou Espanha e defensor das denominações de origens portuguesas, André de Quiroga não tem dúvida de que o Michelin é «a referência universal»: «Quer se confie nos inspetores que avaliam os hotéis e restaurantes, ou não». O Guia Michelin é o ‘standard’ da gastronomia. Trabalha sob a escola francesa que é única e universal. Os franceses exportam chefes para todo o mundo, assim como a melhor escola de hotelaria é a da Suíça»,arremata

        

Mas a extrema importância que o Guia ganhou ao longo dos anos tem sido também alvo de críticas que acompanham, por vezes, episódios rocambolescos. Como o ocorrido há cinco anos, quando o famoso «chef» Loiseau deixou a França em estado de choque ao suicidar-se depois do então diretor do Guia ter feito alguns reparos à sua atuação. Há quatro anos outro fato pitoresco; um ex-inspetor do Guia revelou, em livro, que só 10% dos dez mil estabelecimentos citados são examinados anualmente e que apenas cinco críticos trabalham, na realidade, para a bíblia que classifica e define os restaurantes, que têm o direito de apresentar contas astronômicas aos seus clientes.

Fundada em 1891, a Michelin distribuiu gratuitamente o primeiro Guia aos motoristas em 1900, durante a Exposição Universal em Paris. O livrinho continha inúmeras informações sobre uso e conserto de pneus, indicações de postos de gasolina, hotéis, mapas urbanos, restaurantes e serviços de correio, telégrafo ou telefone. O objetivo da empresa era claro: incentivar o uso do automóvel e, consequentemente, o mercado dos pneus. Mas ao mencionar a frase «Este guia nasceu com o século e durará tanto quanto ele», os irmãos André e Edouard Michelin parece que já pressentiam o sucesso da publicação.

 Em 1920 os irmãos ficaram exasperados ao descobrir várias edições do Guia empilhadas, a servir de suporte da bancada de uma oficina. «O ser humano só dá valor àquilo que paga», disseram, e a partir desse ano o guia deixou de ser gratuito. Seis anos depois surgem as famosas estrelas. Uma estrela tem o significado «muito boa cozinha na sua categoria». Os níveis de duas e três estrelas aparecem cinco anos depois, para os estabelecimentos do interior e em 1933 para os restaurantes de Paris, com as definições «vale a pena fazer um desvio» e «vale a pena ir até lá». Nessa mesma década surge o grupo de inspetores Michelin, formado por profissionais, anônimos e funcionários da empresa.

As informações fornecidas no Guia eram tão corretas que, em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, a Michelin autoriza a reimpressão da última edição do guia publicada em 1939, por causa das centenas de mapas detalhados e atualizados sobre as cidades. Antes da invasão da Normandia, os Aliados, temendo que a sua entrada viesse a ser retardada nas cidades francesas, onde a sinalização havia sido destruída pelo inimigo, fizeram questão de fornecer aos seus oficiais a edição especial cuja única diferença para a de 1939 era a menção na capa «Somente para uso oficial».

Desde então, o Guia não parou de evoluir, e além de França outros países ganharam edições próprias, estando disponíveis atualmente 13 versões, de 21 países: Alemanha, Suíça, Áustria, Portugal, Espanha, Itália, França, Reino Unido, Irlanda, Estados Unidos da América, Suécia, Noruega, Finlândia, Grécia, Bélgica, Holanda, República Checa, Dinamarca, Hungria, Luxemburgo e Polônia.

 

O GUIA MICHELIN ESTÁ TAMBÉM DISPONÍVEL NOS SISTEMAS GPS PORTÁTIL, NO SITE WWW.VIAMICHELIN.COM E NOS PDA, PERMITINDO CONSULTAS POR CRITÉRIOS DIFERENCIADOS, COMO PREÇO, NÍVEL DE CONFORTO, TIPO E QUALIDADE DA CULINÁRIA, ENTRE OUTROS


Autor: Celso Mathias
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