MARRAQUESCH EM DEZ PASSOS

domingo, 31 de outubro de 2010

Vibrante e cada vez mais cosmopolita, a Cidade Rosa é um caldeirão fervente de sons, cheiros e cores que nos transportam para uma atmosfera mágica. Entrar em Marrakesh é mais ou menos como descobrir um novo mundo ou ser transportado para uma nova dimensão. Não é preciso sequer ver os minaretes que rasgam o horizonte para perceber que se está num país islâmico; basta ouvir o canto hipnótico amplificado pelos altifalantes das mesquitas guiando os fiéis para a oração.

MARRAQUESCH EM DEZ PASSOS


Também não é preciso ver o deserto para perceber que ele está ali bem perto: ele pressente-se na poeira suspensa no ar e nas casas e muralhas de tons ocres. Mas para realmente captar a alma de Marrakesh é preciso acionar todos os sentidos e mergulhar sem reservas no labirinto da sua zona histórica, entre muralhas quase milenares.

No início, estranha-se a confusão de gente, bicicletas, motonetas e até carroças que constantemente ameaçam a segurança dos peões, mas depois os sons, as cores e os cheiros dos souks acabam por se entranhar na pele. Damos-lhe uma dezena de razões para se render a este destino mágico.

1 Sinta a Praça Jamaa El-Fna

Dizer que esta famosa praça é o coração de Marrakesh é, mais do que uma metáfora, uma evidência incontornável. É aqui, neste íman que nos atrai numa vertigem exótica, que a vida da cidade pulsa com mais intensidade. Jamaa El-Fna é uma experiência para todos os sentidos, um espetáculo de luzes, cores, sons e sabores. Turistas e locais atropelam-se entre encantadores de serpentes, músicos, acrobatas, contadores de histórias, dançarinos, tocadores de instrumentos que nem sabíamos que existem e até macacos amestrados. A animação é garantida durante todo o dia, mas é sobretudo a partir do final da tarde, quando o sol se começa a recolher no horizonte, que o coração de Marrakesh bate com mais intensidade. É então que surgem dezenas de restaurantes em bancas no meio da praça, oferecendo desde caracóis a espetinhos de carne assada, peixe frito e outros petiscos. Ainda que todos reclamem ter a melhor cozinha da cidade, comer aqui é sempre um risco acrescido para a saúde do intestino, mas não pode partir sem experimentar a comida do Chez Aicha, uma verdadeira instituição gastronómica há mais de duas décadas. Não é à toa que é considerado o n.º 1 dos restaurantes da praça. 

2 Perca-se na Medina

"Terão os marroquinos descoberto a fórmula para parar o tempo?" A inquietação assalta-nos à medida que nos embrenhamos na Medina, a cidade velha de Marrakesh, antiga capital do reino de Marrocos. Cada passo neste labirinto com quase 20 quilômetros de muralhas construídas no século XII parece transportar-nos para uma época que há muito julgávamos esquecida. Para lhe captar a alma é preciso deixar o guia e o mapa de lado, que a lógica não tem lugar no bulício deste formigueiro de gente que se atropela a todo instante. É ao tateá-la devagar, na cadência preguiçosa dos passos, perdendo-nos muitas vezes nos seus becos sem saída, que descobrimos uma cidade de conto de fadas, exótica como na história das mil e uma noites, com palácios, mercados coloridos e personagens intocados pelo tempo. O cenário é verdadeiramente cinematográfico, pelo que não é de estranhar que aqui tenham sido gravadas algumas cenas do filme "sex and City 2"

 3 Mergulhe nos souks

Se a Praça Jamaa El-Fna é o coração de Marrakesh, os souks são os seus pulmões. É aqui que a cidade respira com mais intensidade, neste confuso emaranhado de ruas e ruelas pedonais onde coabitam mil e um ofícios. Considerados os mais exóticos e fascinantes mercados do Magrebe, os souks de Marrakesh vendem de tudo: nas bancas e lojas coloridas é possível encontrar pirâmides de azeitonas e especiarias, tecidos, tapetes, peles, calçado, joalharia e muito mais. Caso não resista ao apelo do consumo, não se esqueça que pode fazer compras em dirhams e até em euros, mas a verdadeira moeda local é a arte de regatear: o valor de uma mala de pele pode passar de 600 para 200 dirhams (cerca de €18) ou até menos. Percorrer os souks é uma experiência imperdível, mas um verdadeiro teste à paciência. A persistência dos vendedores roça a insolência. Em qualquer caso, quem não passar por aqui não terá estado verdadeiramente em Marrakesh.

4 Experimente um hammam

Os tradicionais banhos árabes são, mais do que uma experiência para o corpo, uma importante instituição da cultura marroquina. Para lá dos banhos com sabão negro, da esfoliação, dos vapores, dos duches quentes e das massagens com óleo de Argan com promessas de benefícios terapêuticos, estes espaços encerram em si vários significados sociais. Outrora reservados às classes altas da sociedade, os hammam democratizaram-se e são hoje um importante ponto de encontro. Enquanto cuidam do corpo, as mulheres aproveitam para socializar e pôr a conversa em dia. Diz a tradição que é nos hammam que as mulheres de Marrakesh costumam procurar as candidatas para futuras esposas dos filhos. Se quiser sentir-se na pele de um verdadeiro marroquino, opte por um hammam público, com preços mais razoáveis (experimente, por exemplo, o Dar El Bacha, o mais antigo de Marrakesh, na Rua Fatima Zohra, 20). Se privilegia o conforto e algum luxo, então a melhor escolha é um hammam privado, que lhe custará entre €30 e €50.

5 Veja o museu e a madrassa

Para conhecer um pouco mais da história e da cultura de Marrakesh  vale a pena visitar o museu da cidade e a vizinha madrassa Ben Youssef. O primeiro apresenta duas coleções - uma de arte contemporânea e outra com vários objetos, incluindo peças de joalharia, cerâmica moedas e trajes -, mas impressionam bem menos que o espaço: o palácio Dar Menebhi, construído pelo sultão Medhi Hassan no século XIX e, entretanto, restaurado. Entrar no museu é não só uma verdadeira lufada de ar fresco para quem passa horas debaixo do calor abrasador que se faz sentir no verão mas também a oportunidade perfeita para observar uma arquitetura majestosa feita de portas decoradas, azulejos zellij e peças em mármore. Ao lado do museu está a madrassa Ben Youssef, um edifício centenário que recebeu em tempos a maior escola corânica do Magrebe. O bilhete conjunto para os dois monumentos custa 60 dirhams (pouco mais de €5) e inclui também a entrada na vizinha Qoubba Almoravide, o mais antigo monumento da cidade, onde se lavava o corpo antes de entrar na mesquita.

6 Faça uma pausa no Café des Épices

Depois da loucura dos souks, Marrakesh oferece muitos convites para sucumbir à arte do dolce far niente. Na hora de fazer uma pausa, um dos destinos de eleição é o Café des Épices, ideal para abraçar o ritual do incomparável chá de menta marroquino enquanto descansa os olhos no movimento da Praça Rahba Lakdima, não muito longe de Jamaa El-Fna. A melhor vista para a principal praça de Marraquesh é do terraço do Café Glacier. É o local privilegiado para observar como a praça se transforma quando o dia se despede, mas, sem surpresa, terá de consumir algo se quiser aproveitar a vista. Uma garrafa de água custa dois euros, e o serviço deixa a desejar. Bem mais simpático é o Café Argana, do outro lado da praça, onde poderá deliciar-se com os melhores gelados de Marraquesh. Não deixe também de provar um sumo de laranja natural, à venda nas bancas da praça a 30 cêntimos.

7 Renda-se à comida marroquina no Dar Moha

Já diz o velho ditado: em Roma, sê romano. Para viver plenamente a sua experiência em Marraquesh, tem de perder os receios e experimentar a gastronomia local. Apesar de muitos turistas se queixarem dos famosos distúrbios intestinais marroquinos, se tiver os cuidados básicos e escolher bem os locais onde come, deverá sobreviver à passagem pela cidade. Além dos restaurantes mais tradicionais, onde se pode saciar o estômago por poucos euros, nos últimos anos Marraquesh tem assistido ao surgimento de vários restaurantes mais cosmopolitas, com influências da cozinha internacional. Se procura uma experiência gastronómica verdadeiramente inesquecível não pode deixar de experimentar o Dar Moha, sem dúvida um dos melhores restaurantes da cidade. Reserve uma mesa ao ar livre, junto à bela piscina, e delicie-se com a inesquecível variedade de entradas e com o menu de degustação, inspirado na cozinha tradicional do país. A refeição custa 530 dirhams (€48), sem a bebida, mas justifica bem o investimento. Menos memorável é a comida do restaurante-bar Le Comptoir, mas a perícia das dançarinas do ventre ajuda a esquecer da falta de brilhantismo no prato.

8 Dê uma escapadela até Essaouira

Talvez seja o canto encantado dos ventos alísios, que sopram forte junto ao mar e fazem as delícias dos praticantes de windsurf e kitesurf. Talvez seja o labirinto de ruas e ruelas da velha Medina, com os edifícios caiados de branco e inúmeras lojas de tapetes, tecidos e artesanato marroquino. Ou talvez seja a perfeita alquimia da antiga Mogador, invadida pelos portugueses no século XVI, que mistura ingredientes das culturas árabe, africana e europeia. A verdade é que Essaouira, uma pequena cidade piscatória a 180 quilómetros de Marraquesh, uma das sete joias do país declaradas como Património da Humanidade, faz bem por merecer a visita daqueles para quem uma cidade costeira é muito mais que praia e banhos - e ninguém chega aqui para se estirar ao sol e mergulhar no mar, que até é pouco convidativo a não ser para os amantes das ondas. O encanto deste segredo revelado nos anos 60 por viajantes solitários encantados com Marrocos - e que se transformou, desde então, numa espécie de refúgio para estrelas da música e do cinema e artistas à procura de inspiração - está no charme e na autenticidade de uma terra que parece parada no tempo. Experimente-a.

9 Fique num riadd

Em Marrakesh sobram opções para uma estada confortável e tranquila, desde o superluxuoso La Mamounia - reaberto recentemente com pompa e muitas celebridades, como Gwyneth Paltrow, Juliette Binoche ou Orlando Bloom - a alternativas mais económicas. Se quer mergulhar verdadeiramente na atmosfera da cidade tem, contudo, de optar por um riad, a tradicional casa marroquina, organizada sempre em redor de um pátio interior. Há centenas à escolha, para todos os gostos e para todas as bolsas, dos mais requintados aos mais económicos. Uma eleição segura é o Riad Dar One, no coração da Medina, junto ao Palácio da Bahia. Este hotel funde o charme dos riads tradicionais com uma decoração elegante e contemporânea. Os quartos começam nos €80 por noite, mas valem bem o investimento. Os utilizadores do site Tripadvisor consideraram-no a maior pechincha de Marraquesh em 2010. Se o dinheiro não é problema e pretende mimar-se, opte pelo Maison MK, projeto de um antigo fotógrafo de moda que quis criar um dos mais cool e luxuosos alojamentos de Marrocos. Uma missão cumprida garante quem por lá passa.

10 Visite os jardins Majorelle

Ao entrar nesta pérola botânica, a agitação de Marrakesh fica à porta. Aqui, a natureza invade-nos os sentidos: seja no correr da água das fontes e no canto dos pássaros que cortam o silêncio, seja nas plantas e flores de inúmeras espécies e cores que envolvem uma vivenda Art Deco em azul-cobalto. A casa, que hoje alberga o Museu de Arte Islâmica, foi o ateliê do pintor francês Jaques Majorelle, que desenhou os jardins e os abriu ao público em 1947. Em 1980, o espaço - que é zelado por cerca de duas dezenas de jardineiros - foi adquirido e restaurado pelos estilistas Yves Saint Laurent e Pierre Bergé, que o adotaram como refúgio (após a morte do ícone da moda, em 2008, as suas cinzas foram ali lançadas). Hoje, os jardins Majorelle continuam a ser destino de eleição para turistas que pretendem escapar por momentos ao bulício da Medina de Marraquesh. A entrada custa 20 dirhams (cerca de €1,8), mas terá de pagar mais 15 dirhams (cerca de €1,4) se pretender mesmo visitar o museu.


Autor: N.Marques
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