Ouvimos uma série de explosões, muita poeira e o
estádio estrebuchou. Alguns ensaiaram palmas, que não foram seguidas pela
grande maioria.
Foi lá também que presenciei oito campeonatos do meu
clube e, em especial, o único “bi” no estádio (o de 1964/1965) e sua entrada no
segundo campeonato nacional, em 1972. A firma de meu pai, a Embacil, foi a
encarregada da parte elétrica da obra de ampliação do estádio, que lhe
possibilitou ter um anel superior, aumentando sua capacidade de 40 mil para
mais de 90 mil pessoas. Minha despedida do estádio, entretanto, foi muito antes
de sua interdição, quando assisti, no atual milênio, a vitória eletrizante do
meu clube sobre o nosso arquirrival, por 6 X 5. Doravante só assistiria aos
jogos em casa — leia-se a casa do meu clube, o Barradão.
Mas, voltando a minha decisão, levantei hoje às oito
horas da madrugada e tomei café resolvido a enfrentar de cara o sentimento com
a implosão. Havia pensado em levar
“painho” (agora com 88 anos), mas fiquei em dúvida sobre a emoção que
experimentaria ao rever, nestas condições, a sua obra. O que me decidiu foi
olhar pela janela (moro no bairro do Tororó que fica nas imediações do estádio)
e ver o Dique do Tororó interditado aos veículos. Logo após, recebi o amável
convite de “Lourdinha”, sindica de um prédio que fica na Rua José Duarte e que
oferece melhor visibilidade do que o meu para o infortúnio, digo melhor, a
implosão.
Às 9h30, vesti a minha camisa do Vitória e me dirigi ao
terraço do referido prédio, observando com satisfação que ainda há locais onde
pessoas de classe média se reúnem, em dias especiais. Os moradores foram
chegando aos poucos: havia ali umas quarenta pessoas. Vimos gente no terraço de
muitos prédios, inclusive uma equipe de filmagem. Havia seis helicópteros
sobrevoando a área. Os moradores até acenaram com as mãos, esperando sair em
algum programa de televisão. Alguém lembrou, brincando, que deveriam “ter
cobrado ingressos” para ajudar o condomínio. Mas, como os torcedores do Vitória
eram maioria, achamos que a renda deveria ser destinada a pagar o salário dos
jogadores do “Já ía”, pois se não este iria mais tarde despencar na tabela.
Na hora marcada, às dez horas, a implosão não
aconteceu. Não faltou quem dissesse que “issó é coisa da Bahia”, onde nem uma
implosão começa na hora. Outro observou que ainda não havia sido formada a rede
de televisão, é que estavam transmitindo o grande premio de automobilismo.
Enquanto esperávamos, desfrutamos de agradáveis conversas. Procurei saber do
pessoal mais próximo se haviam ido ao estádio. Uma senhora havia ido, mas “pra
nunca mais voltar”. É que, para azar dela, foi na inauguração do anel superior
e passou pelo mesmo sufoco que eu passei naquela que (esta sim!) seria a maior
tragédia da Fonte Nova.
Fiquei surpreso com o número de pessoas ligadas pelo
celular com a mídia. Várias pessoas estavam sintonizadas com a transmissão da
TV e diziam “ainda nem começou a contagem regressiva”! Seria tipo réveillon,
onde a decisão sobre a hora de implodir não caberia ao chefe da engenharia, mas
o diretor da rede de televisão? Aproveitei pra ouvir os comentários. Alguém
lembrou que o Ministério Público tinha colocado obstáculos à derrubada do
estádio; mas que, nos últimos dias, havia feito um acordo para “baratear” a
obra: ao invés de R$ 1,6 bi, havia passado pra R$ 1,4 bi… Outro observou que a
implosão estava se realizando um mês antes das eleições. Não faltaram os
“bairristas” magoados que afirmavam: “Só assim o bairro do Tororó sai na mídia
mundial”!
Começaram a tocar músicas pelo celular. Dali a pouco,
alguém disse: “chegou a hora”. A implosão atrasou 27 minutos (alguém contou),
mas ocorreu. Ouvimos uma série de explosões (pareciam fogos juninos um pouco
mais barulhentos), muita poeira e o estádio estrebuchou. Alguns ensaiaram
palmas, que não foram seguidas pela grande maioria. Um garotinho chorou, mas
não sei se devido ao barulho ou a tristeza. Quanto a mim, senti uma ponta de tristeza
e saí logo após o “espetáculo”. Neste momento, ouvi um dos moradores dizer: “é
triste”.