“Eu
tive muita sorte. Apaixonei-me quando era ainda adolescente. A minha mulher é
minha amiga. Ainda adoramos falar um com o outro, ainda adoramos estar um com o
outro. Nascemos no mesmo local, fomos crianças juntos. Temos muito em comum,
uma vida em comum. Isso é muito importante. Não sei como é que uma relação de
amor pode resultar se não for assim. Vi muita gente nesta profissão casar três
e quatro vezes porque acham que estão apaixonados no início mas depois
apercebem-se de que não estão.”
Quando
ouvimos o seu novo álbum, “Praise & Blame”, sentimos que é mais
introspetivo, é de alguma forma uma reflexão. Fala de você mesmo. É isso?
Sim. Basicamente é isso. O disco é o resultado daquilo
que queria fazer a muitos anos, um álbum de gospel. Mas nunca tive essa
oportunidade. As editoras querem sempre que produzamos música comercial, quanto
mais comercial melhor. Desta vez, porém, a Island Records deixou-me levar adiante
a minha vontade.
Não
é difícil mudar tanto? Muito. As pessoas não gostam que lhes
demos aquilo que não conhecem, também não querem que mudemos. Mas o disco
também tem como ritmo e ambiente musical o rock’n’roll.
Esse
som lembra-nos menos os hits da sua carreira.
Fui sempre muito influenciado pelas grandes bandas de
rock’n’roll, quando era adolescente, durante os anos 50. Quando comecei a
gravar, o que mais queria era fazer o que essas bandas faziam. Queria tocar com
um grupo. Mas o meu primeiro sucesso, “It’s Not Unusual”, afastou-me dessa
sonoridade. Era demasiado poderoso. E levou-me nessa direção. Não podia ir por
outro caminho. A minha editora também não me deixaria fazê-lo.
Como
é que se lida com tanto sucesso?
É assustador e deslumbrante ao mesmo tempo. O meu
primeiro ano de sucesso foi em 1965, com “It’s Not Unusual”. Esse ano foi
absolutamente estonteante.
Qual
era o seu maior prazer nessa época?
Conhecer toda essa gente mais famosa da música. Isso
foi a primeira grande, grande coisa que me aconteceu. Depois, foi ter o meu
disco nos tops ao lado dos Beatles, ultrapassá-los mesmo. Ver isso nos jornais
era inacreditável. Uau! Estou competindo com os maiores. Sou tão grande quanto
eles.
Como
é que consegue manter a voz tão forte e clara aos 70 anos?
Bebo muita água (risos).
O
que é que a sua carreira lhe trouxe de melhor e de pior?
O pior foi não ter tido logo sucesso quando cheguei a
Londres. Lancei um primeiro disco que não funcionou. Foi em 1964. Não estava a
conseguir ganhar dinheiro suficiente e a minha mulher teve que ir trabalhar
para uma fábrica. Tinha que estar em Londres para poder conseguir dar certo nesta
vida, mas comecei a pensar que se não conseguisse teria que voltar para o País
de Gales e cantar em clubes.
O
amor foi sempre um dos temas favoritos do seu público. Qual é para você a
relação perfeita entre um homem e uma mulher?
Eu tive muita sorte. Apaixonei-me quando era ainda
adolescente. A minha mulher é minha amiga. Ainda adoramos falar um com o outro,
ainda adoramos estar um com o outro. Nascemos no mesmo local, fomos crianças
juntos. Temos muito em comum, uma vida em comum. Isso é muito importante. Não sei
como é que uma relação de amor pode resultar se não for assim. Vi muita gente
nesta profissão casar três e quatro vezes porque acham que estão apaixonados no
início mas depois apercebem-se de que não estão. Continua a gastar mais energia
do que a poupá-la... Sim. Isso acontece, mesmo aos 70 anos, porque gosto muito
do que faço. Deus deu-me esta voz e ela ainda é poderosa. Sinto-me bem a cantar
nesse ritmo e quando me ouço ainda tiro prazer da sonoridade.
E
porque é que quis fazer um disco de gospel?
Porque adoro a
música gospel e sou cristão.
É um disco onde diz obrigado a Jesus?
Absolutamente. Mas faço-o sempre. Rezo todas as noites.
Qual
é o seu público hoje?
Muita gente me acompanha desde os anos 60, mas há
muitos jovens a me ouvir. Estive há pouco tempo num festival de música onde só
havia praticamente jovens, e foi este álbum que cantei. Não cantei “Sex Bomb”
ou “Delilah”. E eles adoraram.
Alguma vez se sentiu uma sex bomb?
Claro que sim! Ainda o sou.