Jovem aos Setenta

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Jovial e vigoroso aos 70 anos, Tom Jones lança um disco de gospel e fala sobre a sua carreira, a sua vida, o amor, o seu longo casamento e Jesus Cristo. Chegou ao estrelato em 1965. Correu mundo de imediato, foi sex simbol. de várias gerações e juntou a voz a nomes como Aretha Franklin e Ray Charles. No lançamento do seu novo álbum, Tom Jones concedeu esta entrevista em Londres à repórter Karina Duran.

Jovem aos Setenta


“Eu tive muita sorte. Apaixonei-me quando era ainda adolescente. A minha mulher é minha amiga. Ainda adoramos falar um com o outro, ainda adoramos estar um com o outro. Nascemos no mesmo local, fomos crianças juntos. Temos muito em comum, uma vida em comum. Isso é muito importante. Não sei como é que uma relação de amor pode resultar se não for assim. Vi muita gente nesta profissão casar três e quatro vezes porque acham que estão apaixonados no início mas depois apercebem-se de que não estão.”

Quando ouvimos o seu novo álbum, “Praise & Blame”, sentimos que é mais introspetivo, é de alguma forma uma reflexão. Fala de você mesmo. É isso?  

Sim. Basicamente é isso. O disco é o resultado daquilo que queria fazer a muitos anos, um álbum de gospel. Mas nunca tive essa oportunidade. As editoras querem sempre que produzamos música comercial, quanto mais comercial melhor. Desta vez, porém, a Island Records deixou-me levar adiante a minha vontade.

Não é difícil mudar tanto? Muito. As pessoas não gostam que lhes demos aquilo que não conhecem, também não querem que mudemos. Mas o disco também tem como ritmo e ambiente musical o rock’n’roll.

Esse som lembra-nos menos os hits da sua carreira.

Fui sempre muito influenciado pelas grandes bandas de rock’n’roll, quando era adolescente, durante os anos 50. Quando comecei a gravar, o que mais queria era fazer o que essas bandas faziam. Queria tocar com um grupo. Mas o meu primeiro sucesso, “It’s Not Unusual”, afastou-me dessa sonoridade. Era demasiado poderoso. E levou-me nessa direção. Não podia ir por outro caminho. A minha editora também não me deixaria fazê-lo.

Como é que se lida com tanto sucesso?

É assustador e deslumbrante ao mesmo tempo. O meu primeiro ano de sucesso foi em 1965, com “It’s Not Unusual”. Esse ano foi absolutamente estonteante.

Qual era o seu maior prazer nessa época?

Conhecer toda essa gente mais famosa da música. Isso foi a primeira grande, grande coisa que me aconteceu. Depois, foi ter o meu disco nos tops ao lado dos Beatles, ultrapassá-los mesmo. Ver isso nos jornais era inacreditável. Uau! Estou competindo com os maiores. Sou tão grande quanto eles.

Como é que consegue manter a voz tão forte e clara aos 70 anos?

Bebo muita água (risos).

O que é que a sua carreira lhe trouxe de melhor e de pior?

O pior foi não ter tido logo sucesso quando cheguei a Londres. Lancei um primeiro disco que não funcionou. Foi em 1964. Não estava a conseguir ganhar dinheiro suficiente e a minha mulher teve que ir trabalhar para uma fábrica. Tinha que estar em Londres para poder conseguir dar certo nesta vida, mas comecei a pensar que se não conseguisse teria que voltar para o País de Gales e cantar em clubes.

O amor foi sempre um dos temas favoritos do seu público. Qual é para você a relação perfeita entre um homem e uma mulher?

Eu tive muita sorte. Apaixonei-me quando era ainda adolescente. A minha mulher é minha amiga. Ainda adoramos falar um com o outro, ainda adoramos estar um com o outro. Nascemos no mesmo local, fomos crianças juntos. Temos muito em comum, uma vida em comum. Isso é muito importante. Não sei como é que uma relação de amor pode resultar se não for assim. Vi muita gente nesta profissão casar três e quatro vezes porque acham que estão apaixonados no início mas depois apercebem-se de que não estão. Continua a gastar mais energia do que a poupá-la... Sim. Isso acontece, mesmo aos 70 anos, porque gosto muito do que faço. Deus deu-me esta voz e ela ainda é poderosa. Sinto-me bem a cantar nesse ritmo e quando me ouço ainda tiro prazer da sonoridade.

E porque é que quis fazer um disco de gospel?

 Porque adoro a música gospel e sou cristão.

 É um disco onde diz obrigado a Jesus?

Absolutamente. Mas faço-o sempre. Rezo todas as noites.

Qual é o seu público hoje?

Muita gente me acompanha desde os anos 60, mas há muitos jovens a me ouvir. Estive há pouco tempo num festival de música onde só havia praticamente jovens, e foi este álbum que cantei. Não cantei “Sex Bomb” ou “Delilah”. E eles adoraram.

 Alguma vez se sentiu uma sex bomb?

Claro que sim! Ainda o sou.


Autor: Katia Duran
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