Uma equipe internacional, que inclui S. Godinho, do Conselho de Investigação Médica
da Unidade de Genética de Mamíferos de Harwell, no Reino Unido, descobriu uma
mutação genética que pode explicar o porquê de algumas pessoas só conseguirem
adormecer mais tarde.
A mutação, batizada
de “After Hours” (Afh) («fora de
horas» em inglês), afeta o relógio biológico dos mamíferos, um mecanismo
fisiológico regulado por sinais vindos da retina para o hipotálamo e que se
move em ciclos de aproximadamente 24 horas conhecidos como ritmos circadianos —
do latim circa (cerca de) e dies (dia), isto é, cerca de um dia. Estes ritmos
são essenciais para o funcionamento das funções vitais do organismo, sendo hoje
“cada vez mais evidente que as perturbações mentais, a obesidade e o cancer poderão
resultar” da sua desregulação, sustenta a cientista. Os investigadores
começaram por provocar mutações genéticas em ratinhos de laboratório para
estudar as alterações nos seus ritmos diários. Desta forma, descobriram que o
gene Fbx13 é responsável pela mutação Afh, “até agora desconhecida como estando
ligada ao ritmo circadiano do animal”.
Identificado o gene na base da anomalia, o passo
seguinte será confirmar, com base na similaridade genética entre mamíferos, a
correspondente mutação nos humanos. “Pretende-se agora fazer a transposição d
o
estudo para a espécie humana e tentar corrigir, por exemplo, determinados
comportamentos de alguns indivíduos conhecidos como homens/mulheres-corujas,
isto é, aqueles indivíduos, fora do comum, que dormem preferencialmente durante
o dia e estão despertos à noite”, revelou Godinho.
Segundo a pesquisadora, está aberto o caminho para a
identificação de outros genes responsáveis pela desregulação dos ritmos
biológicos, bem como para a "produção de fármacos que corrijam tais anomalias".
Uma das propostas para resolver problemas relacionados com o sono chega dos Estados Unidos. Cientistas da Universidade de Wisconsin-Madison estão desenvolvendo um aparelho que esperam ser capaz de induzir o sono e resolver, assim, os problemas de insônia. Para isso, recorreram a uma técnica denominada Estimulação Magnética Transcraniana (TMS, na sigla em inglês) que envia impulsos magnéticos que atravessam o crânio e estimulam ondas cerebrais lentas características do estado de sono profundo. Estas ondas elétricas, com cerca de um segundo de duração, percorrem o cérebro aproximadamente mil vezes por noite e são essenciais para a aprendizagem, a memória e o raciocínio.
Durante a experiência, publicada na revista “Proceedings
of t
he National Academy of Sciences”, os investigadores foram capazes de
induzir nos voluntários ondas idênticas àquelas que o cérebro produz durante o
sono profundo, pelo que acreditam que a técnica pode um dia ser utilizada para
o tratamento da insônia. Outra possibilidade seria a indução, por este meio, de
“sestas revigorantes” que poderiam trazer os benefícios de uma boa noite de
sono em apenas algumas horas. Contudo, o líder da investigação, Giulio Tononi, admite serem
necessários mais estudos para esclarecer se o sono induzido desta forma iguala
as virtudes de um sono normal.
