A fotografia e o surf são apenas algumas das suas atividades.
A elas há a acrescentar uma pousada, uma imobiliária, a criação de gado, o
cultivo de palmito, e, até pouco tempo, a produção de cachaça, que interrompeu
temporariamente “por absoluta falta de tempo”. Os seus dias são cronometrados,
como se vê: além de tudo isto, ele também se ocupa com questões comunitárias e
ambientais, especialmente na região de Paraty,
no estado do Rio, onde estão
concentrados os seus negócios.
Descendente
decreto de Pedro I — Pedro IV em Portugal — dom Joãozinho pertence à quinta
geração de uma família de origem portuguesa que fincou raízes no Brasil a
partir de D. Pedro II. “Nossa família não só proclamou a independência como tem
uma importância fundamental na formação do Brasil como nação”, diz orgulhoso.
“A
preocupação com a ecologia sempre foi um traço familiar”, costuma ressaltar
quando lembra a atitude vanguardista do imperador
Pedro II, que, nos idos de 1865, plantou na Tijuca, no Rio, a única
floresta urbana do mundo. Gosta de enfatizar, também, que “a princesa
Leopoldina era botânica”, e a princesa Isabel — autora da lei que aboliu
definitivamente a escravatura — acompanhava expedições botânicas pelo Brasil.
O apreço
pela natureza e o conhecimento do país onde vive foram incutidos na sua
formação. Enquanto os seus amigos iam passar férias para a Disneylândia, o pai
levava-o a percorrer o Brasil de carro, às vezes acampando, para conhecer
regiões perdidas no mapa. “Aprendi com meu pai a dar muito valor à cultura e à
identidade brasileiras.”
Atualmente,
um dos empenhos de dom Joãozinho é que Paraty seja reconhecida pela UNESCO como
Patrimônio da Humanidade. É uma forma de ajudar a preservar a arquitetura da
cidade histórica, que constitui o quinto destino turístico de ingleses e
franceses no Brasil e na qual tem a Pousada
do Príncipe. “Se as pessoas não se engajarem na luta comunitária, este
mundo vai acabar antes do que se imagina”, diz como preâmbulo às suas posições.
E continua: “A ambição dos países ricos é uma coisa suicida. O consumismo de
uns 30 anos para cá virou uma doença, uma obsessão a ser analisada. Hoje, você
entra num shopping e compra o que não precisa. Troca de carro sem necessidade.
O pior é que esse modelo tornou-se lei, todos aspiram a ele.”
Muito
antes do recente relatório da ONU sobre as alterações climáticas e os efeitos
do aquecimento global, dom Joãozinho já pregava uma mudança radical e rápida no
comportamento do consumidor e das multinacionais. A frase que melhor sintetiza
o seu pensamento é: “Pense globalmente, mas aja localmente”, um dos “slogans”
dos movimentos verde. “Preocupe-se com o mundo, mas cuide do lixo do seu prédio,
seja a formiguinha que você é”, apregoa.
A sua parte, ele garante que faz. Lava todas as
embalagens recicláveis e tem o mesmo carro há oito anos, que só será trocado
agora por um motor a álcool, porque polui menos. Roupas? Compra pouco, de
tempos em tempos. “Só uso calças bege, camisa branca ou azul e terno, quando
necessário. Essas roupas duram muito, tenho bermudas de vinte anos atrás.”
Esse conjunto de atitudes e opiniões torna-o um
representante estimado da família real brasileira. O apreço a causas nobres,
pelo menos teoricamente, faz jus à tradição aristocrática: segundo ele, exceto
meia dúzia de príncipes que vivem como celebridades, há outros trezentos que se
dedicam a assuntos sociais significativos nos seus países. Por isso, dom
Joãozinho gosta de contar que, no ano passado, ao ser entrevistado pela revista
americana “New Yorker”, deu uma
resposta irônica quando a repórter lhe perguntou sobre o “Jet set”: “It’s not
my beach” (não é a minha praia).
Comentários como este, e outros mais contundentes,
fazem parte do seu vernáculo... se o assunto for política. Radicalmente contra
a guerra do Iraque, afirma não entender como nos Estados Unidos, a maior
democracia do mundo, não tenha surgido um pedido de “impeachment” na época de
Presidente George W. Bush quando ele mentiu e, baseado nessa mentira, levou o
país para a guerra. “Por muito menos, nós aqui no Brasil fizemos um ‘impeachment’.”
Apesar dessas observações, dom Joãozinho define-se
apenas como um “patriota”, nem de esquerda nem de direita. “Os membros da
família real não podem posicionar-se partidariamente”, informa. “A democracia
plena é minha grande batalha, para mim as liberdades são sagradas.”
Cultivar beleza, nome e dinheiro “é uma atitude
decadente”, na opinião de dom Joãozinho. Claro que o desapego a tais atributos
é mais fácil para quem, como ele, nunca padeceu a falta de nenhum. Mas é sempre
louvável que um príncipe avesso a revistas de celebridades acredite que nas
suas páginas deveriam estar “biólogos, presidentes de ONG ou pessoas que prestem
algum serviço relevante”.
Desde a juventude que dom Joãozinho pensa assim. Aos 20 anos, enquanto os seus amigos se divertiam em bares e discotecas, dom Joãozinho passava temporadas de dez dias entre os índios no Parque Nacional do Xingu. E já nessa época o príncipe fotografava: tem oito livros com fotos de natureza e temas ambientais. O mais recente é Piauí, Luz do Mar e do Sertão.
Casado com uma arquiteta que, segundo ele, também “trabalha
muito”, o príncipe brasileiro difere da imagem tradicional do nobre, sobretudo
na maneira como assume a paternidade. A sua filha de 17 anos tem síndrome de
Down e ele é o tipo de pai cuidadoso e preocupado, que a leva ao médico, e
contribui para combater o estigma social que cerca a doença. “I do my Best”
(faço o meu melhor) declara com modéstia.