A república mais jovem do mundo tem mais habitantes
do que muitas cidades da Europa, dois milhões estão na capital. Os dez anos de
guerra civil obrigaram muitos nepaleses a descer das montanhas para Katmandu.
Quem sabe não teria sido assim que nasceu um país com comida de rua sempre em
movimento? Fruta à venda em bicicletas, salgadinhos preparados em carrinhos de
mão, snacks em armários de madeira móveis.
A alimentação de um nepalês é à base de arroz,
lentilhas e legumes. O dhal bhat que tantos conhecem como prato típico
do Nepal. Cerca de 80 por cento da população vive com menos de dois euros por
dia, mas não falta variedade alimentar. Basta olhar para o que vai rolando
entre as duas refeições principais. Dentro de um cone de papel serve-se arroz
frito com milho e lentilhas, torrados, amendoim, tomate, batata cozida, cebola,
malagueta verde, sal e lima. Salpicada com duas colheres generosas de chilli,
bem à moda nepalesa das montanhas, o dhal bhat, arroz com lentilhas, é sempre
fresco. Preparado de propósito para quem chega. E não há limite de quantidade.
Cada um come o que precisa para ficar bem. No Nepal, há tradições rigorosas no
que diz respeito à alimentação. A partir do momento em que o arroz é cozinhado,
só pode ser tocado pela pessoa que o vai comer. Com duas exceções: a mulher
pode terminar o que fica no prato do marido e as crianças têm autorização para
comer o que sobra dos pais. A boca fica anestesiada, mas o sabor delicioso
consegue acordar as papilas gustativas.
Num pequeno armário de vidro guarda-se pani puri,
bolas de farinha crocantes. Recheiam-se com batata e mergulham-se em molho
picante antes de se desfazerem na boca. Ao lado, está chaf, uma panela de batata com caldo de legumes e malagueta a fervilhar. Temos a boca ardendo, é hora
de mastigar grão de bico espalmado em forma de mini batata frita. Temos de
parar por aqui. Daqui a pouco vamos almoçar na casa da família Bhattachan.
Precisamos de espaço no estomago.
Tem o sorriso mais puro que alguma vez vimos. Sushil
Bhattachan é guia de trekkings para grupos nipônicos. Ele fala melhor japonês,
a mulher, inglês. Não quer que fiquemos preocupados, explica. Não estamos o nosso
sorriso indica isso. A lição de culinária começa com a preparação de achar de tomate
(Cortam-se os tomates em pedaços, depois de bem
limpos de peles e sementes, e coloca-se no fundo de um frasco com boca larga.
Por cima, as malaguetas esmagadas, uma camada de sal e suco de limão, a cobrir,
e assim sucessivamente ate terminar. Rega-se o preparado com o azeite. Tapa-se
a boca do frasco com um pano e deixa-se em descanso um mês para fermentar e
formar uma geléia, que é muito aromática e muito picante. Serve-se com qualquer
prato.)
, onde o peixe seco dá um toque especial. Recebemos
um thaali, prato de metal com vários compartimentos, com arroz e os vários
acompanhamentos. Galinha, espinafres, achar de tomate, achar de batata e dhaal,
claro. Somos nepaleses, por isso não há talheres. Com a mão direita em forma de
concha, o polegar vai empurrando a comida boca dentro. A simplicidade nos
conquista.