Se, de alguma forma, o The Doors encaixavam na postura "paz e amor" muito própria dos anos
sessenta, o inverso também era verdade. O acesso a outra dimensão, que estaria
na origem do nome do grupo (proposto por Jim depois de ler The Doors of Perception de Aldous Huxley), era promovido pelo uso
intensivo de ácidos (a primeira droga de eleição de Morrison) e estava
certamente de acordo com o fascínio que a cultura oriental exercia sobre vários
elementos do The Doors. Mas o The Doors, sendo californiano da gema, nunca
aceitaria ir para São Francisco com flores no cabelo, fazendo alusão a uma
canção de Scott McKenzie que tão bem descrevia os ares do seu tempo. Logo no
álbum de estréia, The End, uma faixa que começou por ser uma canção de amor (“This
is the end, my friend”) transformou-se num épico às avessas com mais de onze
minutos onde Jim Morrison evocava o complexo de Édipo para berrar que queria
matar o pai e ter relações sexuais com a mãe. Ou seja, o The Doors sempre viveu
num equilíbrio, obrigatoriamente instável, em que o reino da luz era perpassado
pelas sombras das trevas.
Esse equilíbrio tornou-se impossível quando, ainda
nas palavras dos elementos da banda que sobreviveram a Jim Morrison, a
dependência do álcool por parte do vocalista fez vir ao de cima o seu alter
ego, o Jimbo(aquele aviãosinho mesmo do desenho
animado). Essa foi a fase em que Morrison levava para o estúdio de gravação os
seus colegas de farras, quase inviabilizando a gravação dos dois últimos álbuns
do The Doors. Partiu então para Paris, de forma a reabilitar-se, mas seria
encontrado já morto, pela sua namorada Pamela
Courson, a 3 de Julho de 1971.