O desenvolvimento de um teste sanguíneo de diagnóstico e de uma vacina abrem uma nova janela de esperança no combate à principal causa de demência. Os números assustam. Estima-se que em todo o Mundo existam mais de 18 milhões de pessoas com Alzheimer, uma doença neurológica degenerativa que é a principal causa de demência entre os idosos. Em 2025, poderão ser 34 milhões, quase o dobro.
Como a enfermidade não tem para já cura, os esforços de investigação têm-se concentrado no desenvolvimento de meios de diagnóstico precoce e fármacos que possam retardar a sua progressão. O primeiro objetivo pode estar para breve. A Amorfix, uma empresa canadense de biotecnologia, estará colocando no mercado um teste sanguíneo que permitirá diagnosticar a doença. A boa notícia não chega só. A União Européia acaba de reforçar o investimento numa vacina cujos testes clínicos em humanos já estão iniciando
O desenvolvimento de uma ferramenta de diagnóstico simples é uma ajuda preciosa no combate ao Alzheimer. Cálculos recentes apontam para que metade dos afetados nos sete principais mercados farmacêuticos do Planeta continue por diagnosticar. A explicação é simples: atualmente, o diagnóstico só pode ser confirmado post mortem com uma análise no cérebro, pelo que os médicos são obrigados a confiar em exames cognitivos e de memória, TACs, ressonâncias magnéticas e outros exames laboratoriais, muitas vezes caros e invasivos mas nem sempre eficazes. Se é certo que a taxa de precisão é, ainda assim, bastante elevada (entre 85 a 90% dos casos confirmam-se após a morte), a taxa de diagnóstico é pobre, ou seja, muitos pacientes não chegam a receber o diagnostico da doença.
O teste desenvolvido pela empresa canadense aposta na detecção de depósitos de peptídeos de beta-amilóide, que são um potencial indicador biológico da presença da patologia. A beta-amilóide está presente no sangue dos indivíduos normais, mas acredita-se que níveis significativos de fragmentos da proteína se acumulam em placas no cérebro de doentes com Alzheimer, sendo depois libertados na corrente sanguínea. A presença dos peptídeos no sangue pode, assim, segundo os especialistas, confirmar a doença.
O teste foi desenvolvido pelo canadense Neil Cashman, um especialista internacional que já havia criado um diagnóstico para a Síndrome de Creutzfeldt-Jakob, conhecida como “a doença da vaca louca”, e espera fazer o mesmo para outras patologias neurológicas, como a doença de Lou Gehrig. Para além de permitir atacar a enfermidade com melhores resultados numa fase precoce, o teste representará um passo de gigante rumo ao desenvolvimento de medicamentos mais eficazes. Com cerca de 450 milhões de pessoas em todo o Mundo com mais de 65 anos, o mercado alvo da Amorfix pode valer qualquer coisa como quatro mil milhões de euros.
Os depósitos de peptídeos de beta-amilóide são também o alvo de uma vacina que está a ser desenvolvida pela empresa austríaca Affiris GmbH e que acaba de receber um apoio de 2,4 milhões de euros da UE. Em Setembro de 2005, o grupo de investigadores austríacos havia já anunciado resultados positivos de uma primeira vacina, capaz de alcançar uma redução de dois terços das plaquetas em modelos pré-clínicos com doença de Alzheimer. Agora, o objetivo passa por especificar melhor o alvo da vacina, ou seja, os peptídeos corretos a atingir, permitindo que “a reação imune atue apenas contra a forma degenerada da proteína e que isso seja feito sem atacar a forma natural”, explicaram os responsáveis da companhia. Os testes clínicos em pacientes já foram iniciados, e o desenvolvimento da vacina está em fase final
No Brasil estima-se que sejam cerca de 1.200.000 os casos atingidos por esta patologia do foro neurológico.