O título do livro, em inglês, soa como um aviso: Why
First Borns Rule the World and Last Borns Want To Change It (“Porque os primogênitos
governam o mundo e os irmãos mais novos querem mudá-lo”, numa tradução livre).
Michael Grose, o autor, bem podia ser uma das armas da prometida revolução:
australiano, pai de três filhos está a vinte anos distribuindo conselhos sobre
as melhores fórmulas para educar a prole. Em entrevista via “e-mail”,
desconstruiu a conspiração.
Os
primogênitos querem mesmo governar o Mundo? Os primogênitos
nascem numa posição régia e gostam de manter esse estado das coisas. Os pais
atribuem-lhes mais responsabilidades que aos restantes irmãos e têm
expectativas muito altas para os filhos mais velhos, transferindo para eles
alguma liderança dentro da dinâmica familiar. Muitos primogênitos são mandões
porque aprendem a controlar ou exercer poder sobre os seus irmãos mais novos.
Essa
transferência de responsabilidade é positiva? É, mas os pais têm
que ter cuidado para não lhes exigir demasiado ou pô-los sob demasiada pressão.
De
que forma a ordem por que nascemos pode interferir na nossa vida?
Influencia os rendimentos, as escolhas profissionais e a forma como nos
relacionamos com os outros. Tem um impacto muito maior do que a maioria das
pessoas pensa.
E
pode mesmo influenciar a inteligência? Pode sim. Segundo um
estudo recente realizado por pesquisadores noruegueses, os primogênitos e
aqueles que foram educados como tal superaram os restantes irmãos nos testes de
QI em mais de dois pontos. Há quem aponte lacunas metodológicas ao estudo,
nomeadamente comparando filhos de diferentes famílias. De certa forma, esta
questão tem menos a ver com a ordem com que se nasce e mais com a forma como se
é educado. Os filhos que nascem em segundo lugar podem ser como os primogênitos
em termos de responsabilidade, sentido de liderança, perseverança, etc., se
assim forem educados. Muitas vezes, os pais podem valorizar um filho mais em
função do gênero, ou seja, se o filho do gênero que desejavam nasce em segundo
lugar ele pode ser educado como se fosse um primogênito. O temperamento também
influencia. Um segundo filho com mais força de vontade pode ter um ascendente
sobre um primogênito mais pacato, apesar de estas situações serem excepcionais.
O que explica esse ascendente revelado pelos primogênitos
em relação aos seus irmãos?Os primogênitos são superestimulados pelos pais
e por outros adultos. Durante alguns anos, recebem a atenção exclusiva dos pais
e passam menos tempo na companhia de outras crianças que os irmãos que nascem
mais tarde. Têm, por isso, um maior contacto com a linguagem e os conceitos
adultos. Além disso, os pais levam mais a sério a tarefa de educar o primeiro
filho e esperam mais dele em termos acadêmicos.
É
possível os pais dedicarem a mesma atenção a todos os filhos?
Não. Os pais tendem a identificar-se de forma diferente com os seus filhos e
podem muitas vezes favorecer um em relação aos outros sem sequer se aperceberem
disso. Para conseguir um tratamento mais igualitário... Vou dar um conselho
para cada posição (em que o filho nasce): não ponham demasiada pressão no primogênito
porque ele já coloca pressão suficiente sobre si próprio; dediquem tempo em
exclusivo aos filhos do meio porque eles sentem falta disso; e não deixem de
exercer alguma pressão sobre o mais novo, porque geralmente este tem demasiada
liberdade. E assegurem que todos os filhos, e não apenas os mais velhos, podem
tomar certas decisões e realizam certas tarefas.
No
seu livro, explica como a ordem de nascimento influencia também a personalidade
dos irmãos. Quais as principais diferenças? Os primogênitos
são mais responsáveis, ambiciosos, perfeccionistas, determinados e concentrados
nos seus objetivos. Para eles, a aprovação dos adultos é muito importante, já
que, muitas vezes, os pais transferem autoridade para eles. Os segundos tendem
a ser o contrário dos primeiros. São mais flexíveis, mais sociáveis, mais
propensos a deixar a família primeiro. São muitas vezes mais competitivos
também. Os mais novos são mais persistentes, muitas vezes manipulativos, pondo
outras pessoas ao seu serviço, brincalhões, criativos e até desafiadores. Podem
muitas vezes ser mais bem sucedidos que os seus irmãos mas de uma forma menos
convencional dentro da tradição familiar. Muitos são mestres no charme e
assumem riscos elevados na vida.
Quantos
irmãos tem? Tenho três. Sou o mais novo.
Preferia
ter sido o primeiro? Não. Estou na posição perfeita, ou seja,
sou o mais novo da família por seis anos. Tive mais liberdade que os meus
irmãos e pude observar a forma como eles interagiam com os meus pais e não
cometer os mesmos erros. Dito assim, parece que, afinal, é preferível ser o
último a nascer e não o primeiro. Todas as crianças acreditam que a posição em
que nasceram foi a pior, mas as crianças mais novas tendem a admitir que
nasceram numa posição mais fácil. Os pais dão-lhes mais liberdade e são mais
mimadas pelos irmãos mais velhos.
Tem filhos? Sim, três.
E
confirma a teoria que os primogênitos são mais inteligentes?
Não em termos de linguagem ou sucesso acadêmico. As irmãs têm aí a vantagem do gênero.
As mulheres amadurecem mais cedo nas áreas da linguagem e das competências
sociais, por isso, em muitas formas, podem ser mais inteligentes que o seu
irmão mais velho. Por isso, a minha filha mais velha, que nasceu em segundo
lugar, assumiu o papel de primogênito, e o que nasceu em primeiro lugar adotou
um papel mais secundário dentro da dinâmica familiar. É algo que acontece muito
quando o primogênito é um rapaz, mas, a seguir, vem uma moça.
Obrigado
Dr. Michael.