QUEM CHEGA PRIMEIRO MANDA

sábado, 8 de maio de 2010

O educador australiano Michael Grose, autor de um Best-seller cujo titulo em tradução livre para o português é “Porque os Primogênitos Governam o Mundo e os Irmãos Mais Novos Querem Mudá-lo”, explica como a ordem de nascimento pode afetar a nossa personalidade. Ele mesmo, o mais novo de quatro irmãos e pai de três filhos, tenta explicar a sua discutida tese. Convence?

QUEM CHEGA PRIMEIRO MANDA

 


O título do livro, em inglês, soa como um aviso: Why First Borns Rule the World and Last Borns Want To Change It (“Porque os primogênitos governam o mundo e os irmãos mais novos querem mudá-lo”, numa tradução livre). Michael Grose, o autor, bem podia ser uma das armas da prometida revolução: australiano, pai de três filhos está a vinte anos distribuindo conselhos sobre as melhores fórmulas para educar a prole. Em entrevista via “e-mail”, desconstruiu a conspiração.

Os primogênitos querem mesmo governar o Mundo? Os primogênitos nascem numa posição régia e gostam de manter esse estado das coisas. Os pais atribuem-lhes mais responsabilidades que aos restantes irmãos e têm expectativas muito altas para os filhos mais velhos, transferindo para eles alguma liderança dentro da dinâmica familiar. Muitos primogênitos são mandões porque aprendem a controlar ou exercer poder sobre os seus irmãos mais novos.

Essa transferência de responsabilidade é positiva? É, mas os pais têm que ter cuidado para não lhes exigir demasiado ou pô-los sob demasiada pressão.

De que forma a ordem por que nascemos pode interferir na nossa vida? Influencia os rendimentos, as escolhas profissionais e a forma como nos relacionamos com os outros. Tem um impacto muito maior do que a maioria das pessoas pensa.

E pode mesmo influenciar a inteligência? Pode sim. Segundo um estudo recente realizado por pesquisadores noruegueses, os primogênitos e aqueles que foram educados como tal superaram os restantes irmãos nos testes de QI em mais de dois pontos. Há quem aponte lacunas metodológicas ao estudo, nomeadamente comparando filhos de diferentes famílias. De certa forma, esta questão tem menos a ver com a ordem com que se nasce e mais com a forma como se é educado. Os filhos que nascem em segundo lugar podem ser como os primogênitos em termos de responsabilidade, sentido de liderança, perseverança, etc., se assim forem educados. Muitas vezes, os pais podem valorizar um filho mais em função do gênero, ou seja, se o filho do gênero que desejavam nasce em segundo lugar ele pode ser educado como se fosse um primogênito. O temperamento também influencia. Um segundo filho com mais força de vontade pode ter um ascendente sobre um primogênito mais pacato, apesar de estas situações serem excepcionais.

O que explica esse ascendente revelado pelos primogênitos em relação aos seus irmãos?Os primogênitos são superestimulados pelos pais e por outros adultos. Durante alguns anos, recebem a atenção exclusiva dos pais e passam menos tempo na companhia de outras crianças que os irmãos que nascem mais tarde. Têm, por isso, um maior contacto com a linguagem e os conceitos adultos. Além disso, os pais levam mais a sério a tarefa de educar o primeiro filho e esperam mais dele em termos acadêmicos.

É possível os pais dedicarem a mesma atenção a todos os filhos? Não. Os pais tendem a identificar-se de forma diferente com os seus filhos e podem muitas vezes favorecer um em relação aos outros sem sequer se aperceberem disso. Para conseguir um tratamento mais igualitário... Vou dar um conselho para cada posição (em que o filho nasce): não ponham demasiada pressão no primogênito porque ele já coloca pressão suficiente sobre si próprio; dediquem tempo em exclusivo aos filhos do meio porque eles sentem falta disso; e não deixem de exercer alguma pressão sobre o mais novo, porque geralmente este tem demasiada liberdade. E assegurem que todos os filhos, e não apenas os mais velhos, podem tomar certas decisões e realizam certas tarefas.

No seu livro, explica como a ordem de nascimento influencia também a personalidade dos irmãos. Quais as principais diferenças? Os primogênitos são mais responsáveis, ambiciosos, perfeccionistas, determinados e concentrados nos seus objetivos. Para eles, a aprovação dos adultos é muito importante, já que, muitas vezes, os pais transferem autoridade para eles. Os segundos tendem a ser o contrário dos primeiros. São mais flexíveis, mais sociáveis, mais propensos a deixar a família primeiro. São muitas vezes mais competitivos também. Os mais novos são mais persistentes, muitas vezes manipulativos, pondo outras pessoas ao seu serviço, brincalhões, criativos e até desafiadores. Podem muitas vezes ser mais bem sucedidos que os seus irmãos mas de uma forma menos convencional dentro da tradição familiar. Muitos são mestres no charme e assumem riscos elevados na vida.

Quantos irmãos tem? Tenho três. Sou o mais novo.

Preferia ter sido o primeiro? Não. Estou na posição perfeita, ou seja, sou o mais novo da família por seis anos. Tive mais liberdade que os meus irmãos e pude observar a forma como eles interagiam com os meus pais e não cometer os mesmos erros. Dito assim, parece que, afinal, é preferível ser o último a nascer e não o primeiro. Todas as crianças acreditam que a posição em que nasceram foi a pior, mas as crianças mais novas tendem a admitir que nasceram numa posição mais fácil. Os pais dão-lhes mais liberdade e são mais mimadas pelos irmãos mais velhos.

 Tem filhos? Sim, três.

E confirma a teoria que os primogênitos são mais inteligentes? Não em termos de linguagem ou sucesso acadêmico. As irmãs têm aí a vantagem do gênero. As mulheres amadurecem mais cedo nas áreas da linguagem e das competências sociais, por isso, em muitas formas, podem ser mais inteligentes que o seu irmão mais velho. Por isso, a minha filha mais velha, que nasceu em segundo lugar, assumiu o papel de primogênito, e o que nasceu em primeiro lugar adotou um papel mais secundário dentro da dinâmica familiar. É algo que acontece muito quando o primogênito é um rapaz, mas, a seguir, vem uma moça.

Obrigado Dr. Michael.

 


Autor: Adolfo de Castro
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Existe 1 comentário para esta publicação
quinta-feira, 6/5/2010 por Aparecida Mendes
QUEM CHEGA PRIMEIRO MANDA ?
A tese é por demais interessante, mas não convence. Podemos aprimorar personalidade, mas não mudar...
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