Paris tem a Torre Eiffel, Londres o Big Ben, Veneza a
Praça de São Marcos: Genebra tem o lago Geneva e o seu jato. Ele faz parte do
bilhete de identidade da cidade. Além do lago, há outro símbolo, mais distante:
o Mont Blanc, às vezes discreto, por estar envolto entre nuvens, de outras se
impondo com a sua fachada nevada, de uma imponência quase ameaçadora.
Mas Genebra é
também a cidade da sede européia das
Nações Unidas, que pode ser percorrida em visitas guiadas. Dos parques
maravilhosos e dos seus Jardins Botânicos, vastíssimos, cuidados de forma
magnífica, com cercas de madeira e espaços para pequenas ovelhas (como se
estivéssemos no campo!) e recantos artisticamente floridos, do (muito
turístico) relógio feito de flores,
junto à “Promenade du Lac”— não fosse esta uma cidade suíça. É a terra das
duas margens do lago, dos bondes deslizando a toda a hora, dos relevos
desenhados e dos relógios nas fachadas, das escadas, entre as casas antigas,
até à catedral de Saint-Pierre,
belíssima, de traçado românico e gótico e com uma fachada neoclássica. Esta é a
urbe dos cafés em torno da catedral e de janelas nas ruas estreitas, onde,
atrás das portadas de madeira, vemos o rendilhado delicado das cortinas cor de
creme, entre lojas de antiguidades, com alambiques de cobre e velhos
frasquinhos de farmácia.
Genebra ostenta traços
da presença de portugueses por lá. Além da Livraria Camões e do Café Pessoa: na
catedral de Saint-Pierre, um túmulo ostenta dois escudos, sendo um deles de
Portugal. É o da princesa Emília de Orange-Nassau (1569-1629), que em 1597
casou com o príncipe português D. Manuel, filho de D. António, prior do Crato
(ali se encontra também sepultada a filha de Emília, Marie Belgia). Evocação
muito mais recente da presença dos portugueses é assinalada numa lápide, no
Café Landolt: ali se reuniam os oposicionistas exilados do regime salazarista.
Uma placa colocada em 1999, quando se comemoraram os 25
anos da Revolução dos Cravos, assinala o fato e inclui um agradecimento à
cidade. Há várias décadas por aquele mesmo café passava outro exilado, este
russo, Vladimir Ilitch Ulianov, que viria a ser conhecido sob o nome de Lénine.
A mesa onde ele se sentava já não existe, embora alguns ainda garantam tê-la
visto identificada.
Genebra é,
ainda, a cidade de Voltaire, que ali viveu numa mansão chamada “Les Délices» “e onde hoje funciona o
excelente museu e instituto com o nome do filósofo francês. É, igualmente, a
cidade onde morou Calvino, que fez dela um bastião do Protestantismo — a urbe
está cheia de evocações históricas sobre o movimento protestante, apresentando
um Museu Internacional da Reforma, muito interessante, embora parcial na
apresentação do tema. Genebra é
metrópole de avenidas, de parques vastos, monumentos e ruas magníficas cujo
sossego, habitado por árvores de copas altas e prédios oitocentistas.
A cidade-sede da ONU é cosmopolita nalgumas artérias,mas parece guardar um quieto espírito de bairro noutras.
Aeroporto. O avião começa a descolar suavemente da pista. Atrás, a imagem assustadora do Mont Blanc. É mentira!Afinal, grande parte das suas encostas está nua de neve. Não chega a dar medo.