Nos últimos anos, têm vindo à tona várias descobertas
que associam alterações genéticas a diversas patologias psicológicas. Desta
vez, uma equipe de investigadores dirigida pelo geneticista Xavier Estivill descobriu que as
perturbações de ansiedade surgem associadas a uma mutação no cromossomo 15.
Essa alteração surge em cerca de 97% das pessoas que sofrem de perturbação de
ansiedade generalizada e de ataques de pânico. Esta equipe de médicos acredita
que essa mutação possa também estar associada a outro tipo de perturbações como
a ansiedade crônica ou fobias.
Esta descoberta foi fruto de uma investigação que
começou há 10 anos quando o psiquiatra espanhol Antonio Bulbena sugeriu que as pessoas que chegavam ao seu
consultório com problemas de lassidão muscular tinham mais probabilidade de
sofrer perturbações de ansiedade do que os demais.
Estivill estudou então 140 pessoas de várias famílias
espanholas com histórias de perturbação de ansiedade, 70 pessoas sem qualquer
antecedente familiar de ansiedade, e 189 que não sofria nenhuma perturbação
deste tipo. Descobriu-se então que o material genético do cromossomo 15 surgia
duplicado em 100% das pessoas do primeiro grupo, entre 68% e 70% no segundo
grupo e apenas em 7% das pessoas do terceiro grupo, as que não tinham histórico
de perturbações ansiosas. Foi desta forma que o médico espanhol determinou uma
correlação genética em relação à ansiedade, que na sua opinião deve ser
considerado um fator de risco e não um determinismo. A mesma experiência
demonstrou que apenas entre 37% e 63% daqueles que apresentam a mutação acabam
por sofrer de perturbações efetivas relacionadas com a ansiedade. Segundo
Estivill “pode-se nascer com esta mutação ou desenvolvê-la durante o
crescimento”.
Sei que não há perigo, porém não consigo deixar de pensar
que pode acontecer alguma coisa ao meu filho. Estou inquieto e não consigo
descansar. Esta sensação pode durar meses. E acontece com alguma frequência.
Por vezes pensamentos sem importância são capazes de me tirar o sono. Noutras
vezes o coração dispara apressadamente sem qualquer razão aparente...” Esta
poderia ser a descrição que um paciente vítima de perturbação de ansiedade
generalizada faria do seu estado. Esta perturbação é uma patologia que se
camufla com facilidade e que por vezes torna-se difícil de detectar. No National Institute of Mental Health,
uma agência federal dos EUA que investiga as perturbações mentais, esta
patologia aparece descrita da seguinte forma: “Um transtorno da ansiedade pode
fazer com que o paciente se sinta inquieto sem qualquer causa aparente. A
sensação chega a ser tão incômoda que pode levar o indivíduo a suspender
atividades imprescindíveis do cotidiano, e nas suas manifestações mais extremas
pode chegar a ser imobilizadora.”
Além de determinismos genéticos, o mecanismo interno
que faz soar o alarme e põe o nosso organismo em estado de alerta pode ser
afetado por fatores externos tão cotidianos como cansaço, a má alimentação, ou
a nossa situação emocional.
Do mesmo modo o sistema imunológico fica alterado e o
organismo fica mais vulnerável às doenças infecciosas. Registrou-se, por
exemplo, que os estudantes universitários contraem mais gripes e constipações
quando chega a época dos exames. Além disso, uma produção de catecolaminas em
excesso provoca uma hiperatividade permanente que pode provocar efeitos
nefastos ao estômago, coração e pele. Com o sistema imunológico diminuído o
paciente de ansiedade expõe-se a agressões exteriores muito mais facilmente,
podendo ser alvo fácil de vários tipos de alergias e para evitar esse
sofrimento os pacientes desenvolvem comportamentos evitantes face àquilo que
julgam ser focos de ataques externos (fobias). A ansiedade torna-se assim um
círculo vicioso.
Hoje em dia, o emprego de terapias combinadas (terapias
psicológicas, sejam elas dinâmicas ou de pendor analítico ou cognitivistas,
acrescentada toda uma nova geração de remédios, mais eficazes e de efeito mais
rápido) torna cada vez mais fácil controlar a ansiedade. Não é provável que ela
desapareça por completo, mas podemos finalmente aprender a conviver com ela.
O ataque de pânico aparece sem aviso prévio e deixa
marcas psicológicas profundas. É que as sensações que provoca são de tal modo intensas
que, após a primeira crise, a pessoa vive permanentemente com receio de ter que
passar pelo mesmo.
Taquicardias, suores frios, espasmos musculares,
hiperventilação, tremores, náuseas, sensação
de irrealidade, sensação de desmaio, de loucura e de morte iminente são os
sintomas que acabam por levar as pessoas às urgências hospitalares. No entanto,
ao final de dez minutos, os sintomas acabam desaparecendo. Uma situação
estranha a juntar ao fato dos exames clínicos não revelarem nenhuma anomalia
física. Mas os ataques de pânico são mesmo assim. Aparecem quando a pessoa
menos espera, quando está descansada, e provocam sensações muitos fortes, duram
cerca de dez minutos e não têm causas físicas, o que nem sempre é simples de
aceitar.
“Quando uma pessoa se dirige ao hospital, pensando que
está morrendo de um ataque cardíaco e ouve os médicos dizerem-lhe que teve um
ataque de pânico, fica revoltada e pensando que tem uma doença que não foi
descoberta”, afirma o psiquiatra Fernando Rosas, acrescentando: “Algumas destas
pessoas acabam por se tornar hipocondríacas, passando a vida em consultas e
fazendo exames.” O que caracteriza a vida de uma pessoa que sofre de ataques de
pânico é a limitação.
Na realidade, será que a ansiedade existe mesmo fora do
nosso mundo competitivo e acelerado? Segundo o especialista em psicoterapia
comportamental José Pacheco, “a ansiedade é, seguramente, uma característica
comum a todos os grupos sociais, culturais e econômicos e inclusive afeta
outras espécies animais. Não é uma emoção apenas inerente ao homem. É normal
sentir-se ansiedade. Só é patológico a partir de um certo limite. Tudo depende
das circunstâncias, tipos de contextos e das situações que a geram”. Na opinião
deste especialista, a ansiedade atinge proporções mais drásticas quando surgem
situações potencialmente ameaçadoras, entendidas como capazes de colocar a vida
em risco. Andar de avião pode provocar ansiedade, assim como as aranhas, por
exemplo. A ansiedade traduz-se num estado de inquietação opressiva, de
apreensão por algo que possa suceder, numa tensão e numa ânsia difusa.
A paz estará no campo? - Para José Pacheco “as
angústias vividas pelos habitantes dos meios rurais são apenas diferentes das
manifestadas por quem habita nas grandes cidades. Não existem problemas de
trânsito, nem horas de pico, mas as pessoas angustiam-se perante a incerteza
dos animais procriarem ou não, das suas culturas se desenvolverem, se chove na
altura certa. Entre outros receios”. Para este especialista, os contextos são
diferentes, mas os focos de ansiedade estão lá, enquanto protagonistas de
inúmeros receios. As opiniões dividem-se, e alguns investigadores nesta matéria
defendem a tese de que os habitantes das cidades são mais vulneráveis a estados
de angústia.
Na opinião do antropólogo, Darío Páez, as culturas individualistas – mais próximas das cidades
– têm um ritmo de vida mais rápido e mais estressante, aceito por todos como
normal. Em contrapartida, entre as pessoas das comunidades rurais existe um
maior apoio social: interajuda, mas também um maior controle de todos.
Significa que muitas das responsabilidades estão repartidas, sem que tal
constitua uma obrigação.
No campo das perturbações afetivas (fobias, depressão,
neuroses de ansiedade), os medicamentos utilizados pertencem ao grupo dos
ansiolíticos e ao grupo dos antidepressivos. De acordo com Henry Gleitman,
professor de Psicologia da Universidade da Califórnia (EUA), “a eficácia dos
antidepressivos prende-se com o fato de aumentarem a quantidade de
norepinefrina e serotonina, que são substâncias químicas muito eficazes no
combate à depressão”.
No entanto, estas substâncias não são eficazes em todos
os pacientes. “A medicação não funciona de igual modo para todo mundo. Por
vezes, é necessário fazer várias experiências até se acertar”, afirma o
psiquiatra Fernando Rosas. No entanto, esta situação pode vir a mudar. Estudos
recentes indicam a possibilidade da existência de “marcadores biológicos” (como
os testes sanguíneos) que podem ajudar na adequação da medicação antidepressiva
a cada doente.
O tratamento das perturbações mentais continua a
suscitar opiniões nem sempre concordantes entre si. É que apesar das
possibilidades terapêuticas que hoje existem, ainda são muitos aqueles que se
negam a admitir a existência de um mecanismo biológico que pode ajudar a
explicar a perturbação. Portanto, para estas pessoas, o recurso à terapia
farmacológica nem sequer se coloca. Para a resolução do problema apontam o
caminho da terapia psicológica como
única solução. Perante isto, Fernando Rosas indigna-se. “É óbvio que o doente
deve seguir uma terapia que o ajude a controlar e a lidar com o estresse, a
desenvolver as suas aptidões sociais, a relaxar, a lidar com a frustração etc.
Mas se as perturbações de ansiedade revelam desequilíbrios no campo dos
neurotransmissores e se esses desequilíbrios podem desaparecer com o recurso à
terapia, parece-me ilógico não o fazer. Tem é que se ter atenção aos possíveis
excessos e avaliar bem as situações antes de prescrever qualquer medicamento.
Não faz sentido prescrever um tranquilizante perante um episódio esporádico de
ansiedade ou um antidepressivo quando uma pessoa se sente triste. Mas aqui, são
os especialistas que tem de tomar a atitude correta”.
Questionado sobre a sua posição, em relação ao possível
abuso no recurso a este tipo de remédios, Fernando Rosas afirma: “É preciso ter
em atenção que estes medicamentos visam combater situações muito específicas e
não devem ser tomados sem aconselhamento médico. Se tomados por um período longo,
os ansiolíticos podem provocar dependência. No entanto, quando uma pessoa está
fazendo um tratamento com ansiolíticos ou antidepressivos deve saber que não
pode parar de tomá-los de modo repentino. A retirada do medicamento tem que ser
um processo gradual de modo a não provocar desequilíbrios”.
Um dos argumentos mais utilizados por aqueles que se
mantêm contra a utilização destes remédios refere-se ao fato destes
medicamentos contribuírem para uma fraca consciencialização dos indivíduos face
aos seus problemas. O que, por um lado, pode ser verdade. De acordo com João
Paulo Ferreira, “se há situações que justificam plenamente o uso dos remédios,
há outras em que o recurso a estes medicamentos apenas revelam que é mais fácil
comprar um medicamento do que decidir apostar na terapia psicológica”. A
questão é que muitas vezes as pessoas sentem-se mal por não conseguirem lidar
com a frustração, com o estresse ou com a tristeza e como não sabem o que
fazer, recorrem aos medicamentos. “Quando o problema é passageiro, os médicos
devem aconselhar o paciente a procurar uma terapia... Ao invés, com os
medicamentos, o mais natural é que este volte a aparecer. Portanto, tudo é uma
questão de ponderar a gravidade e as necessidades de cada caso e decidir em
conformidade com o diagnóstico”, afirma o psicólogo. Além destes medicamentos,
existem outros aos quais os médicos recorrem com alguma frequência. São os
medicamentos ‘placebo’ e não têm
outro efeito que o de potenciar a auto-estima da pessoa. Alguns doentes
sentem-se mais confiantes e menos ansiosos por saberem que têm consigo um
medicamento capaz de parar as crises caso estas apareçam. E, por vezes, essa
segurança é o suficiente para que a ansiedade diminua