... numa retrospectiva dedicada a Tim Burton,
um dos últimos autores do cinema americano contemporâneo. Um delicioso
freakshow que desembarca na parte alta de Manhattan, a exposição é já
considerada “a mais completa monográfica” alguma vez organizada pelo museu e
reúne 700 objetos: pinturas, desenhos, fotografias, storyboards, marionetes, maquetes,
peças de vestuário e props de filmes, a maioria inéditos ou raramente vistos
(550 provêm da coleção pessoal de Burton). Paralelo à exposição, acontece um
ciclo dedicado à filmografia de Burton, que inclui blockbusters como “Batman”
(1989), clássicos como “Eduardo Mãos de Tesoura” (1990, para muitos o
seu melhor filme), dois filmes de animação stop-motion (“O Estranho Mundo de
Jack”, 1993, e “A Noiva Cadáver”, 2005) e duas pérolas: os curtas
“Vincent” (1982) e “Frankenweenie” (1984).
Não é a primeira vez que o MoMA convoca para o
seu núcleo uma exposição em torno da sétima arte. O pioneiro Georges Méliès, em
1939, e os estúdios da Pixar, em 2006, estiveram na origem de duas mostras. Mas
desta vez os curadores do MoMA vão mais longe, comparando Burton a Andy Warhol
e considerando-o “um grande artista numa variedade de suportes”, não só no
cinema. Para montar a exposição, vasculharam os arquivos pessoais do cineasta,
percorrendo 27 anos de carreira num diário visual inédito, onde pinturas a óleo
surgem ao lado de desenhos à esferográfica.
Burton confessou-se surpreendido com o fato de
ser objeto de uma exposição, e acrescentou: “Eu não cresci numa verdadeira
cultura de museu”. Com efeito. Timothy William Burton (n. 1958) cresceu em
Burbank, um subúrbio aborrecido da Califórnia. A placidez do lugar não foi
obstáculo, mas antes estímulo, a uma imaginação fértil, onde nada existia e
tudo tinha de ser inventado. Ou desenhado. Burton, que nunca parou de desenhar
(mesmo quando os professores lhe diziam que chegava de rabiscos) estudou no
California Institute of the Arts e iniciou a sua carreira como animador nos
estúdios da Disney. Entre a luz e a sombra, o terror e o amor, bebendo do
gótico e do Expressionismo alemão, Burton é o orquestrador de uma
cinematografia única, onírica, visualmente poderosa, tão estranha quanto
enternecedora. É na improbabilidade das personagens e histórias de Burton, na
sua capacidade de conciliar o irreconciliável (a beleza e a crueldade, o
macabro e a doçura, o estranho e o familiar) que reside grande parte da sua
magia.
A exposição termina em 26 de Abril, já depois da estréia da esperadíssima versão de Burton do clássico “Alice no País das Maravilhas”, prevista para Março.