Se não vê nenhuma associação nestes dois fatos, Rachel Weisz, atriz “oscarizada” pelo
filme “Fiel Jardineiro”, ajuda. “O Botox devia ser banido do cinema, tal como
os esteróides o são nos esportes. A representação tem tudo a ver com a
expressão. Por que razão devemos passar a ferro uma testa?”, disse a britânica
à revista “Harper’s Bazaar UK.”
A incompreensão
da autonomeada porta-voz do movimento anti-Botox (ou ‘antidoping’...) em
Hollywood, apesar de extrema, encontra apoio num número cada vez maior de atrizes,
que vêem a dignidade da sua profissão aparentemente ameaçada pela toxina
botulínica. Helen Mirren, Kate Winslet,
Tilda Swinton e Penélope Cruz, entre outras, têm demonstrado o seu repúdio
perante a disseminação do uso do Botox no meio cinematográfico e televisivo,
ainda que de forma mais contida que Rachel Weisz. É ponto assente em Hollywood
que, ao apagar as rugas de expressão, paralisando-as, o Botox está também a
apagar uma das mais importantes ferramentas de uma atriz: a sua expressão
facial.
A opinião encontra eco na Europa, dos 30 aos 70 anos.
“O Botox, pela sua essência de paralisar pequenos músculos, não é aconselhável,
pois a pouco e pouco pode vir a prejudicar a expressão, ferramenta fundamental
para uma atriz”, diz Ana Brito, 35 anos. Alma Zanatti, 60 anos, e Simone de
Oliveira, 71 anos, também repudiam a falsa juventude. Nenhuma delas utilizou —
ou quer utilizar — quaisquer substâncias químicas de correção das rugas. “Cada
um é livre de fazer o que quer do seu corpo, mas esta facilidade em encher,
cortar, esticar e levantar tem levado muitas pessoas a grandes exageros e o
resultado é patético”, justifica Zanatti.
O exagero nas doses é um dos raros problemas que o
cirurgião plástico Ibérico Nogueira vê na utilização da toxina paralisante. De
resto, a sua aplicação tem tanto de eficaz como de banal: “É um disparate
dizer-se que provoca uma expressão ‘congelada’, porque isso só acontece com
doses massivas. O Botox é extremamente eficaz no tratamento de rugas de
expressão que não são corrigíveis por métodos cirúrgicos”, explica. Os rostos
paralisados e inexpressivos de algumas mulheres não são uma consequência direta
de uma aplicação de Botox, explica o cirurgião. “Formou-se um mito em torno disto,
que é completamente disparatado, é propaganda que não corresponde à realidade.
O Botox tem efeitos espetaculares, desde que bem aplicado.” E não importa se é
atriz, modelo, gestora ou empregada de limpeza. “Já fiz milhares de aplicações
e não vejo inconvenientes nenhum, sejam atrizes ou outra coisa qualquer. Só
vejo vantagens nisso”, explica o cirurgião.
A perspectiva não convence, no entanto, as principais intervenientes
no assunto: as atrizes. “Claro que há diferença no trabalho de uma atriz com
Botox e outra sem Botox”, sentencia a experiência de Simone de Oliveira. Os fatos
não a desmentem. Nos últimos anos, os Óscares de Melhor Atriz Principal e
Melhor Atriz Secundária têm sido precisamente atribuídos às mais anti-Botox de
Hollywood: Penélope Cruz, Rachel Weisz, Tilda
Swinton, Kate Winslet... “Penso que se for uma ligeira correção não afetará
o trabalho de uma atriz. O pior são as correções sucessivas, que transformam um
rosto com vida num balão insuflado. Qualquer dia não há atrizes para fazerem
papéis de mulheres velhas”, desabafa Alma, que conserva as suas marcas do tempo
sem qualquer tipo de incômodo.
Ibérico Nogueira confirma que utiliza o produto em
“praticamente todas as consultas.” Admite que podem existir complicações após
as aplicações, mas os casos são raros e não se sobrepõem às vantagens da sua
utilização. “As mulheres gastam fortunas em cremes para a cara que não fazem
rigorosamente nada — sim, porque os cremes não tiram rugas —, portanto o Botox
é não só mais eficaz como mais barato”, assegura.
Com doping ou sem doping, a reivindicação do regresso à
naturalidade como norma cinematográfica está a subir de tom. Por uma razão
muito simples, diz Simone de Oliveira. “O que é que interessa termos 80 anos e
vermos no espelho uma mulher com a aparência de 60 anos? Para quê? E enganarmos
quem? Se as pessoas tiverem talento, será com rugas ou sem rugas...”
O BOTOX
O que é a toxina botulínica?
É uma proteína purificada obtida a partir da bactéria
Clostridium Botulinum. Apesar de o produto ser conhecido como Botox, o nome
correto é toxina botulínica, visto que Botox é apenas o nome da marca que foi
pioneira na comercialização da toxina para usos estéticos. Em quantidades
elevadas, a toxina é letal, pelo que requer receita médica.
Prós: Técnica de rejuvenescimento minimamente invasiva.
Não exige anestesia. Fácil de aplicar por parte de médicos e corrige rugas de
expressão que de outra forma dificilmente poderiam ser corrigidas. As
possibilidades de complicações são mínimas e a aplicação demora poucos minutos.
Contras: Duração limitada (três a cinco meses). Requer
nova aplicação no final do prazo de eficiência da aplicação anterior. Custa
entre 350 a 700 euros, consoante o número de infiltrações que se faz (uma embalagem de 10 ml vende-se nas farmácias por quase 260 euros). Só deve ser
aplicado por pessoas com formação médica adequada. Não pode ser utilizado por
pessoas com doenças neuromusculares, alergia à albumina ou grávidas.