É uma “cana” portuguesa..

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

...Com certeza! A bagaceira portuguesa Aldeia Velha ficou famosa no início dos anos 80 com um anúncio de televisão e ainda hoje é líder de mercado. Existem anúncios de televisão que permanecem na nossa memória durante anos, sem sabermos porquê, ainda que não sejamos clientes habituais do produto anunciado.

É uma “cana” portuguesa..



É o caso da Aldeia Velha. Na geração que tem agora 35 anos ou mais, quem não se recorda do mítico jingle ‘É cá dos nossos, é cá dos nossos, Aldeia Velha para os nossos copos’? Apostamos que poucos.

 O anúncio, criado por João Rapazote Fernandes, entrou nos ouvidos portugueses de tal forma que ”já ninguém se lembra de outros anúncios à Aldeia Velha”, sublinha José Salvação Barreto, responsável pela marca, atualmente distribuída pela Pernod-Ricard. O seu impacto foi tal que, curiosamente, ainda hoje esta bagaceira é líder de mercado em Portugal, sendo também “exportada para 20 países, entre os quais Suíça, França, Bélgica, Brasil, EUA ou mesmo Israel”, garante. Por isso, uma “revolução na imagem da Aldeia Velha está fora de questão. Não há mais necessidade de publicidade. Pelo menos por enquanto”. Sentencia

Mas afinal de onde vem este líquido transparente com reflexos dourados e 40% de álcool que, sobretudo no Norte do país, é o primeiro mata-bicho de muito bom trabalhador? O processo começa em Riachos, Torres Novas, na destilaria de Zuzarte Reis, de 78 anos. É lá que chega a matéria-prima, o bagaço de uva (casca e semente da fruta), oriundo na maioria de cooperativas do Oeste, Ribatejo e Alentejo, que será destilado duas vezes antes de seguir para os armazéns de envelhecimento no Bombarral, onde deverá permanecer pelo menos um ano em cascos de carvalho.

Depois da destilação e antes de entrar nos cascos, o bagaço tem de ir a laboratório para ser provado e aprovado. Curiosamente a responsável pelo controlo de qualidade tem apenas 29 anos e não se lembra de ver algum anúncio da marca na televisão. “Fazemos análises químicas, depois a prova e comparamos com o padrão que temos também numa garrafa. Faço provas de outro tipo de bebidas, mas da que gosto mais é da Aldeia Velha”, revela Mariana  Gaspar ( no centro da foto), acrescentando que não entende a “opinião retrógrada acerca da bebida”, até porque “é ótima até para fazer caipirinhas”, exemplifica. A maioria dos consumidores de bagaceira é do sexo masculino e a imagem da marca está muito associada à rudeza, virilidade/força, ao trabalho físico, à forte graduação alcoólica e a homens com formação acadêmica muito básica, com idade compreendida entre os 40 e os 65 anos.

Segundo Salvação Barreto, o produto é “consumido puro, prioritariamente após a refeição (almoço principalmente), com o café”. A maioria dos clientes toma apenas uma dose por cada ocasião de consumo, mas alguns a ingere também logo pela manhã, antes de iniciar o trabalho (o chamado mata-bicho), tendo, contudo “parte significativa deste tipo de consumo matinal sido substituído por cerveja e uísque”, admite. Com a adesão à União Européia e a consequente harmonização de impostos, as categorias tradicionais perderam consumidores, que, pelo mesmo preço, passaram a consumir bebidas internacionais com imagem mais sofisticada e mais bem aceites socialmente, caso do uísque.

A zona geográfica com maior incidência de consumo de bagaceira (cerca de 50% do total) é a Área 3 Norte (litoral de Coimbra a Valença do Minho, excluindo o Grande Porto), sendo que 85% do mesmo tem lugar em pequenos cafés e snack bars.

Em Portugal, o mercado de bagaceira atinge anualmente cerca de 132.000 caixas de 9 litros, segundo informação prestada pelos maiores produtores ao “International Wines & Spirits Report”, embora tenha caído nos últimos 10 anos a um ritmo anual de 6,6%. “A categoria é liderada pela marca Aldeia Velha, que vende no mercado interno aproximadamente 16.000 caixas (quota de 12,3%), seguida pela S. Domingos, com cerca de 10.000 caixas (quota de 7,5%). “O restante consumo está ‘pulverizado’ por dezenas de pequenas marcas com pouca expressão isolada”, explica José Salvação Barreto.


Autor: Celso Mathias
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