A arte cura?

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Uma investigação britânica diz que sim . “Uma anedota conta que Felipe V só conseguiu superar a depressão profunda que o atormentava com o canto do ‘castrato’ Farinelli. No século XVIII, introduziram-se afrescos, imagens religiosas e esculturas como elementos decorativos em hospitais da Itália, Espanha, Alemanha e Inglaterra.

A arte cura?


Mas o estudo das artes como terapia só se desenvolveu mesmo nos dias de hoje, no final do século XX, quando um grupo de médicos e arquitetos iniciou a construção do Chelsea and Westminster Hospital, em Londres, ao qual pertenço. Este hospital estatal abriu as portas em 1993, e o seu ambiente é totalmente diferente do dos outros. A escultura ‘acrobata’, do artista Allen Jones, eleva-se do subsolo até ao terceiro piso. Noutro espaço, há um móbile, ‘Failling Leaves’ (‘Folhas que caem”) que usa as cores do arco-íris. Além dos conjuntos de música de todo o tipo que atuam duas ou três vezes por semana para os pacientes. 

Música para grávidas - Para estudar a influência terapêutica da arte e da música no ambiente hospitalar, desenhei um projeto que segue as bases da metodologia científica. Iniciamos o estudo em abril de 1999. Trabalhamos sempre com grupos de controle e recolhemos os dados de todas as pessoas que estudamos e os introduzimos num programa de informática adequado e os analisamos estatisticamente. 

Medimos as respostas fisiológicas perante manifestações artísticas distintas e em que grupos específicos de pacientes. Por exemplo, investigamos se a introdução de música ao vivo na sala de espera eleva a pressão arterial. Por experiência, sabemos que na sala de espera a pressão arterial se eleva devido à ansiedade antes da consulta. Assim, ao iniciar a consulta, mediu-se a pressão arterial em 34 mulheres que esperaram sem música, e em 54 que o fizeram na presença de músicos. Os resultados demonstraram que as pressões sistólica e diastólica podem diminuir pelo menos 3% na presença de música, crucial para mulheres grávidas com hipertensão. 

Outro exemplo: é conhecida a necessidade de diminuir a tensão, ansiedade e depressão de doentes com câncer. E descobrimos que podem reduzir-se estes fatores em mais de 32% se, durante a administração da quimioterapia, se ambientar o lugar com quadros. Além disso, os níveis de ansiedade podem abaixar até 38% se os pacientes receberem o tratamento na presença de músicos. 

Um estudo para cada caso - As medidas fisiológicas que usamos para os nossos estudos (pressão arterial, nível de cortisona, etc.) são tomadas em duas situações: numa, o grupo de pacientes está perante obras de arte ou música; na outra, o grupo de controle – na mesma clínica e em condições idênticas – não está exposto. Estas variam com o tipo de especialidade clínica com que trabalhamos. Se for maternidade, são relevantes a pressão arterial e o pulso da mãe em conexão com o bater do coração e do feto. Em cirurgia, há que ter em conta a quantidade de analgésicos que um paciente requer numa operação. Graças a uma pesquisa que realizamos tanto em pacientes como em visitantes e pessoal sanitário, antes de abordar estas experiências já conhecíamos o nível de satisfação que lhes produzia o contato com a arte. Para isso, desenhamos um teste específico que cobria todas as atividades artísticas que se desenvolveram. Todos responderam ao questionário, marcando numa escala entre um (sem efeito ou muito baixo) e 10 (efeito máximo), se as obras de arte ou a música lhes resultavam atrativos, se as haviam desfrutado e se lhes haviam ajudado a diminuir o grau de stress. O resultado da análise demonstrou que 75% de cada grupo classificou as respostas com a pontuação mais alta. Vimos que, estatisticamente, a música ao vivo produz um efeito maior que as pinturas e as esculturas, na hora de relaxar ou distrair-se dos problemas médicos; talvez porque mantém o entretenimento mais tempo e estabelece uma conexão entre o músico e o ouvinte. Além disso, os três grupos confirmaram que, segundo a sua experiência pessoal, as artes ajudavam na recuperação do paciente. 

Medir os hormônios - Este terceiro ano temos projetados estudos mais ambiciosos. Vamos medir o nível de certos hormônios e outros elementos biológicos na presença ou ausência de música e artes visuais. Podemos, por exemplo, citar a determinação do nível de cortisona, que reflete o grau de stress do paciente e pode ser muito importante naqueles casos que necessitam de analgésico ou anestesia. 

Estudaremos também a influência que as artes têm no período de recuperação: o nosso objetivo é determinar se são capazes de proporcionar um ambiente especial no qual os pacientes se recuperem mais rapidamente. Assim, encurtava-se o tempo de internamento, reduzia-se a quantidade de medicamentos e melhorava-se a saúde pública” 

 

Glossário 

Sistólica: a medida que se produz quando o coração e as artérias se contraem para empurrar o sangue  

Diastólica: a que resulta da dilatação do coração e das artérias.



Autor: D.Lawrence
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