1977. Annie hall
Amor e Morte, dois dos temas preferidos. Na vida real,
a relação entre Woody e Diane durou um ano. Mas originou o romance mais
inspirado que Woody escreveu para o cinema, “Annie Hall” (o nome verdadeiro de
Diane Keaton é Diane Hall). 1977. Annie hall. Alvin Singer, um cômico sofrendo de fobias várias, apaixona-se por uma moça insegura que, alem de só vestir
estilos vintage que criaram escola, é calma e tem a vida em ordem. Woody Allen
e Diane Keaton são magníficos na harmonia humorística, de fato um casamento
artístico planejado no céu. O filme era para se chamar Sweethearts, prova de
que é sobretudo um romance e não apenas a comédia mais famosa do autor. Sedução,
riso, sintonia de alma, zanga perante as baratas enormes: tudo, bom e mau, é
minuciosamente coreografado para dizer que, quando amamos, é bom estarmos
prontos também para a discórdia e para a perda.
1979.Manhattan.
Dois casais, o mesmo problema: é difícil gostar ou
acreditar sem, primeiro, racionalizar. Diane Keaton e Michael Murphy são o par
intelectual que já espremeu da vida aquilo que ela tinha de maravilhosamente
espontâneo. Woody, emparceirado aqui com uma menina que se recusa a ser
sarcástica nos assuntos do coração (Mariel Hemingway, preciosa), é o homem que
já foi derrotado pelo cinismo. Por cima disto tudo há o manto de magia bordado
por Nova Iorque, aqui apresentada num preto e branco luxuoso exaltado pela
música de George Gershwin. Para amar é preciso ter fé. Pelo menos um bocadinho.
1983.
Zelig.
Um caso sério — embora também muito cômico, triste e
tocante — de originalidade e falta de piedade no retrato da condição humana.
Leonard Zelig é um homem discreto que, nos anos 20 e 30, obteve os favores do
público, um pouco como o herói aviador Charles Lindbergh ou a rainha Maria da Romênia.
Limitando-se à estratégia do camaleão, adapta-se para sobreviver num mundo que
exige dele total falta de caráter ou coluna dorsal. O filme é breve, apenas 87
minutos. Mas reparem na diferença: numa década em que os outros cineastas
americanos se transformavam em magnatas milionários obcecados com máfias,
guerras intergalácticas ou salteadores de arcas perdidas, Woody Allen manteve a
paródia e provou ser mais inteligente do que eles todos.
1985.
A rosa púrpura do Cairo.
Uma mulher com ar de formiguinha inofensiva refugia-se
no cinema para escapar à tortura dos dias. E não é que, ali mesmo na platéia
tristonha da América depressiva, passa a ser invejada pelo grande explorador
Tom Baxter que, no telão, vence tudo e todos com facilidade? Ela é de carne e
osso e ele é de ficção mas numa relação amorosa não se pode querer tudo.
Hilariante — sobretudo quando, na tela, os empregados de mesa percebem que já
não têm que obedecer ao script e começam a fazer aquilo que sempre
ambicionaram: sapateado! Sim, as pessoas refugiam-se no cinema para poderem,
finalmente, viver as suas fantasias. Mas é o cinema que, no fim, tem inveja da
alegria inesperada que é viver de verdade.