Mais que um bronzeado

segunda-feira, 23 de maio de 2011

O paraíso do Jet - set mantém o seu encanto.Admito ter vivido toda a vida obcecada com Saint-Tropez. Quando criança, na década de 1960, ficava pregada à nova televisão a cores, fascinada com a publicidade sensual do Bain de Soleil. Os corpos bronzeados e tisnados do sol a mergulhar no distante Mediterrâneo ao som daquele hipnótico jingle publicitário: “Bain de Soleil, for the Saint-Tropez tan”. Aquilo para mim era o Verão na televisão.

Mais que um bronzeado



Passaram décadas até que no mês passado consegui finalmente ir à praia dos meus sonhos. Uns amigos disseram-me, apesar de nunca terem ido lá, que Saint-Tropez tinha perdido o encanto e que a época de ouro, em que era o epicentro resplandecente da sociedade francesa, tinha acabado. Mas achei a antiga vila de pescadores, que Brigitte Bardot ajudou a transformar num paraíso do jet-set, muito longe do fim. As mais recentes lojas Dior, Pucci e SuperdryStore — onde o campeão mundial de Fórmula 1, Lewis Hamilton, e David Beckham se vestem com aquele ar casual estudado ao milímetro — estão sempre cheias, como se ignorassem a recessão econômica mundial.

Sem dúvida que Saint-Tropez é a Meca de quem vai às compras. É na Place de la Garonne, onde os iates do tamanho de um boutique hotel se encontram atracados, que abriu a renovada Pucci e mais uma série de outras lojas de alta-costura e joalherias. Parece ser o local indicado para encontrar aquele Breitling de 30 mil euros. É também o lugar ideal para se passar uma tarde a bebericar um rosé Provença no terraço do bar do Hotel Sube, com vista para o porto. Este hotel, o mais antigo da cidade, há muito frequentado por escritores e artistas europeus e americanos, foi remodelado, mas preservou todo o seu ar original. Na Senequier, a pastelaria ao lado, comem-se uns deliciosos nougat de claras, mel e pistaches.

Ao longo da Rue Georges Clemenceau, a uns meros três minutos a pé do porto, há lojas exclusivas com artigos feitos à mão. No nº 16, o Atelier Rondini, as sandálias são feitas sob medida, e no nº 4, a Marinette, encontramos excelentes artigos para decoração de mesas, toalhas, atoalhados e velas. Às terças e sábados, das sete da manhã à uma da tarde, é no mercado de St. Tropez, ao ar livre, que podemos comprar cestos coloridos, atoalhados de Provença  charcutaria e especiarias exóticas.



Tive de ir ao Hotel Byblos, o lendário local de festas das estrelas de rock, onde Mick Jagger se declarou à sua primeira mulher, Bianca, no quarto 401, e onde regressaram para celebrar um casamento verdadeiramente mediático (byblos.com; €594). Ao break-fast, o meu filho adolescente descobriu música ao vivo no hotel — música techno hipster, que contribui para um ambiente ‘sempre em festa’. O jantar à beira da piscina são tapas e cocktails sonoramente ativados por um grupo de jazz, de gente nova e sexy, tocando samba. Ultimamente, as aparições de Mick Jagger deram lugar aos vislumbres de Puff Daddy, Tom Cruise, Naomi Campbell e Elle Macpherson. No andar de baixo, o Spoon, de Alain Ducasse, um restaurante ao ar livre mesmo ao lado do hotel, serve de rampa de lançamento para as festas de fim de dia, durante as quais os notívagos ganham alento à custa de uns rolinhos de sushi ao estilo californiano.

O que o Byblos é para festas, é La Réserve para repouso e meditação. O novo espaço abriu o mês passado, no cimo da falésia, em Ramatuelle, a aldeia vizinha (quartos desde €400; lareserve-ramatuelle.com). Umas cortinas de linho branco transparente, a toda a altura das janelas, flutuam ao sabor da brisa à frente de portas de vidro deslizantes. É impossível uma pessoa não se descontrair ao avistar a enorme extensão de paisagem costeira. Um SPA de luxo completo só reforça o ambiente zen.

Não há dúvida de que as praias são a atração principal de Saint-Tropez. No Club 55, os turistas podem alugar uma espreguiçadeira e um chapéu-de-sol por €50 ao dia, mas o melhor é o restaurante-tenda. As cadeiras brancas e as toalhas azuis da Provença tornam as mesas irresistíveis. Mas a mega-salada às camadas, por €25, é a grande sensação. Uns raminhos de couve-flor enormes, tomate bem maduro e grande, cogumelos lindíssimos, cenoura, rabanetes, cebolinho e pepino são primorosamente dispostos em cima de uma prancha de cortiça para que os comensais a possam cortar e levar o que lhes apetecer.

O grande encanto de Saint-Tropez é a sua exclusividade Que importância tem os preços proibitivos para quem, como nós, não é da realeza, se é igualmente difícil conseguirmos chegar lá! Uma pista de pouso a 10 km da cidade é o suficiente para os aviões particulares. Para os outros, o aeroporto comercial mais próximo fica a mais de duas horas de distância, em Nice. O Eurostar oferece uma viagem de quatro horas e meia a um preço razoável (€80; eurostar.com) com uma grande regularidade, entre Paris e Toulon, a uma hora de carro. Os hotéis garantem o transfer da estação.

Mas é esta exclusividade que faz de Saint-Tropez um destino de sonho, mais até do que Cannes ou Nice. Há qualquer coisa de romântico em viajar durante horas para comer uma lindíssima salada às camadas, que a maior parte das pessoas nunca mais irá ver, e passear pelo mesmo areal por onde andou Brigitte Bardot e por onde hoje descontaida e casualmente passam Avril Lavigne e uma amiga. Para quem ainda se lembra daqueles anúncios melódicos, de meados do século passado, dos bronzeadores solares, Saint-Tropez é mesmo isso.


Autor: Byagn
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