Vidabrasil circula em Salvador, Espírito Santo, Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo Edição Nº: 304
Data:
15/4/2002
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Entrevista

Os nomes ainda não são oficiais, mas já estão nas ruas para as eleições de 6 de outubro. Se as pesquisas de opinião que andam circulando nos bastidores estão certas, o senador Paulo Hartung, 45 anos (a serem completados no próximo 21 de abril), é o favorito para suceder José Ignácio Ferreira no Palácio Anchieta.  
Há quatro anos, eles disputaram a convenção do PSDB e Hartung perdeu para Ignácio a indicação tucana para disputar o governo. Acabou candidato a senador, eleito com quase 800 mil votos. Cacife com o qual esse ex-líder estudantil, com passagens pelo PCB, PMDB, PSDB, PPS e, agora, no PSB pretende chegar ao governo do Estado.  
Vai enfrentar um ex-aliado, o deputado federal e ex-governador Max Mauro (PTB), um velho amigo, o deputado federal João Coser (PT), e um velho desafeto, o próprio governador José Ignácio (PTN), candidato à reeleição.  
Estigmatizado como um político que prestigia um pequeno grupo e que não costuma cumprir acordos, Paulo Hartung refuta essas acusações ao abrir a série de entrevistas de VidaBrasil com os pré-candidatos ao governo. Em pleno feriado do Dia da Penha (8 de abril), ele deixou um compromisso em Nova Venécia, no norte do Estado, e visitou a redação da revista, acompanhado de três assessores, para falar de como pretende ganhar a eleição.  
Deputado estadual por dois mandatos (1983-90), deputado federal (1991-92), prefeito de Vitória (1993-96) e senador da República desde 1999, o pai de Gabriel (20 anos), Júlia (18) e marido da psicanalista Cristina fala em ampla aliança para “salvar o Espírito Santo”.  
 
“Estamos agregando forças importantes, pessoas que querem ver o Espírito Santo pela porta da frente da política nacional. Eu tenho uma fé no Estado e em nossa potencialidade que, se trabalharmos direitinho, em dois anos colocamos o Espírito Santo em outro caminho.”  
 
“Precisamos pegar essa auto-estima de nosso povo, que está lá no chão, e recuperar. Fazer o capixaba bater no peito e sentir orgulho.”  
 
– Senador, a clássica pergunta: por que o senhor quer ser governador do Espírito Santo?  
– Há quatro anos eu tentei disputar o governo, levei meu nome aos convencionais do PSDB e a história todos conhecem, mas não gasto tempo com coisas que já passaram. Não viabilizei a candidatura e saí ao Senado. Naquele momento o Espírito Santo já tinha problemas no governo e existia um movimento forte pleiteando uma mudança, um rumo novo para o Estado.  
Passei pela Prefeitura de Vitória, com administração bem avaliada, e havia um movimento forte para que eu fosse candidato. A convenção escolheu o atual governador, mas recebi para o Senado a maior votação que um homem público já recebeu na história política capixaba – 782 mil votos. Maior até do que a do governador, que ganhou em primeiro turno.  
Para mim, aquilo foi uma adesão às minhas idéias. Fiquei na expectativa e a situação se agravou muito no Estado. Temos uma crise política, administrativa e ética. Não colocar o nome hoje seria um ato de omissão em relação aos problemas do Estado. E não sou omisso. Sou cauteloso para fazer política, mas minhas posições são sempre muito claras.  
Meu nome começou a aparecer muito bem nas pesquisas, não apenas na capital, mas em todo o Estado. A eleição passada já rompeu o paradigma de que não tenho vo-  
tos além da Grande Vitória. Na eleição de senador, o município onde tive, proporcionalmente, mais votos foi Colatina.  
Não ser candidato poderia ser interpretado como posição cômoda minha, ficando no Senado para esperar a situação se ajustar no Estado. Minha carreira sempre foi corajosa e destemida, embora com os dois pés sempre fincados no chão.  
– Como o senhor pretende conseguir ser governador?  
– Minha idéia é pegar uma agulha, uma linha bem forte e tentar costurar uma aliança bem forte.  
De homens e mulheres de bem, de lideranças, de partidos, de traba-  
lhadores, empresários, todos os segmentos da sociedade, fazermos uma grande aliança para virar uma pági-  
na no Estado.  
Mais difícil do que ganhar uma eleição é fazer um bom governo, a que o capixaba tem direito. Um governo operoso, que desenvolva econômica e socialmente o Estado. E, para fazer isso, não pode ter ódio nem rancor no coração. Não pode perder tempo com perseguição de adversários.  
Esses sentimentos não fazem parte de minha militância. Ganhei a Prefeitura de Vitória numa eleição duríssima com o Dr. Luiz Buaiz, ganhei por 16 mil votos, mas isso  
não refletiu o quão disputada foi a eleição. Dias depois de eu tomar posse, a primeira pessoa que recebi foi o Dr. Luiz Buaiz, com uma pastinha trazendo os problemas da Santa Casa de Misericórdia e da Escola de Medicina (Emescam). Problemas que não eram dele, mas da sociedade capixaba.  
Tive a satisfação de resolver aqueles problemas e demonstrar à sociedade que havíamos virado uma página e queríamos unir a cidade num grande projeto, colocando Vitória bem articulada em nível nacional, bonita, agradável.  
É esse sentimento de grandeza que levo para o processo.  
– A primeira aliança desse processo já está se esgarçando, que é com o ex-governador Max Mauro. Ele vem dando declarações duras a seu respeito, levantando suspeições sobre o senhor, sobre ligações com o pessoal do Fundap, com quem ele tem uma birra danada. Que repercussões isso pode ter?  
– Vejo isso com tranqüilidade. O deputado Max Mauro viveu um período de muita dificuldade em sua vida política. Procurou-me quando quis ser candidato a deputado federal e eu lhe dei apoio. Nos elegemos os dois. Talvez ele tenha sido a primeira pessoa a lançar meu nome para governador, depois da eleição passada.  
Veio a eleição para prefeito de Vila Velha. Ele e o filho foram à minha casa pedir meu apoio. Eu lhes dei o apoio e eles se comprometeram a me apoiar para o governo. Esse compromisso não foi feito em minha casa, mas em cada comício e reunião da campanha de Vila Velha. E todas as pessoas sabem disso.  
Houve dificuldades a toda hora na campanha do Max Filho. Havia um processo na Justiça Eleitoral em Brasília e tive que atuar nesse processo para que a campanha pudesse percorrer o período eleitoral e ele pudesse ser diplomado.  
Depois o episódio do helicóptero (Max Filho teria utilizado o helicóptero oficial do Estado, clandestinamente, para filmar terras supostamente de propriedade do ex-prefeito Jorge Anders, de Vila Velha, em Nanuque, norte de Minas). A Assembléia montou um processo, o negócio foi parar no Supremo Tribunal Federal.  
Eu estava comprometido com a campanha do Laureano Zancanella, em São Mateus, e me lembro que uma manhã eu estava indo para lá quando recebi uma ligação do deputado Max Mauro pedindo que eu fosse com ele a Brasília conversar com autoridades do Supremo Tribunal Federal para explicar o que de fato se passara. Eu fui com ele e acho que ajudei bastante.  
Tive uma atitude muito positiva na reconstrução da carreira política do deputado, que estava à deriva. Se ele rompe sem nenhuma justificativa, e a cada entrevista troca as justificativas, quem tem que dar explicação não sou eu. A população de Vila Velha é quem vai julgar. Até minha esposa se envolveu na campanha do Max Filho para prefeito, porque é filha da cidade.  
Vários políticos me procuraram para dizer que não é a primeira vez que o deputado faz isso. Eu fui digno com ele, fui correto, tenho que tocar minha campanha e deixar que a história julgue essas atitudes muito incoerentes.  
– Seus adversários costumam dizer que o senhor é um político que não cumpre compromissos e, agora, o senhor fala de outro político que não cumpre compromissos.  
– Essa conversa de alguns poucos políticos não bate com a realidade.  
Eu sou ruim de fazer acordos, reconheço. Não faço qualquer acordo. Só me comprometo nos limites do interesse público. Uma vez feitos, esses acordos são cumpridos.  
O PMDB foi para a Prefeitura junto comigo. Pergunte ao Hugo Borges Filho qual foi meu comportamento nos quatro anos de Prefeitura? Deram-me o vice, o Teteco, e meu comportamento com eles sempre foi sério e digno.  
Assumi compromissos, na campanha de senador, de apoiar algumas lideranças no Estado e estive com todos eles, sem exceção.  
O que as pessoas tentam arrancar de mim são acordos que não faço. Pedem coisas para si e seu grupo que são incompatíveis com a prática que acredito no setor público. Educadamente desconverso, porque amanhã vão falar que acordei e não estou cumprindo.  
Essa conversa, Celso, carece de fatos, mas tem um lado positivo. Insistem tanto nisso porque não têm pega em outras coisas fundamentais. Sou um político honesto, de vida limpa, tranqüilo e sou bom administrador. Desde que fui administrar o Diretório Central dos Estudantes da Ufes, que viveu seu melhor momento.  
Não faço isso sozinho, mas tenho o talento de saber escolher a equipe. Saí do movimento estudantil e fui eleito deputado federal com mais de 20 mil votos. É só ver minhas leis, como a do passe livre para os idosos na Grande Vitória, a preservação da mata atlântica, o Parque da Fonte Grande. Meu trabalho como deputado estadual foi bem gerido.  
Na Câmara dos Deputados fui vice-líder do Serra, participei na Comissão do Orçamento e trabalhei naquele movimento de moralização que resultou na CPI dos Anões. Não fui sozinho. Havia lá o Genoíno, o Eduardo Jorge, o Suplicy.  
Voltei no meio do mandato para ser prefeito de Vitória e fiz uma administração muito bem avaliada pela população. Os adversários dizem que administrar Vitória é fácil, porque tem muito dinheiro. Mas por que não se fez nada antes? Por que mudou o padrão da cidade quando passamos por lá? Até VidaBrasil registrou na época que tínhamos uma equipe de governo melhor do que a dos dois governadores que atravessamos.  
Um dos meus secretários hoje é ministro (Guilherme Dias, do Planejamento). Isso é talento. Ele foi meu secretário da Fazenda.  
Mudamos a cidade, urbanizamos São Pedro, fizemos o Horto de Maruípe, construímos uma quantidade de escolas que a cidade nunca tinha visto, unidades de saúde, a ponte Ayrton Senna, que era uma cabeça de burro na Praia do Canto, urbanizamos Jardim Camburi.  
Se dizem que não cumpro acordos, mostrem os acordos que não cumpri.  
Outra acusação de meus adversários é que não expando meu grupo, que é muito fechado.  
– Essa acusação ainda existe.  
– Fui lá e fiz acordo com Theodorico Ferraço, liderança do sul do Estado. Fiz acordos com várias forças do Estado. Estamos presentes em Colatina, em Linhares, com excelente relação com o José Carlos Elias (deputado federal) e o prefeito Guerino Zanon.  
– Mas o senhor e Theodorico Ferraço sempre estiveram em posições extremas, distantes um do outro. Quem mudou, o senhor ou o Ferraço?  
– Não tem essa coisa de mudou. Isso é o oposto das afirmativas anteriores. Antes, o Paulo tinha dificuldades de fazer acordos com quem militava em campos diferentes do dele. Agora a crítica é porque faço esses acordos. Mas aliança é isso. O Ferraço tem outra formação política, outro campo de ação, embora ele venha do PTB histórico a que meu pai também pertenceu. Mas ele seguiu a carreira em determinado momento em direção diferente da minha.  
Mas é isso que é crescer na política. Estamos agregando forças importantes, pessoas que querem ver o Espírito Santo pela porta da frente da política nacional. Eu tenho uma fé no Estado e em nossa potencialidade que, se trabalharmos direitinho, em dois anos colocamos o Espírito Santo em outro caminho.  
Tenho falado em minhas palestras que há quatro anos Santa Catarina estava nos jornais por causa do governador Paulo Afonso enrolado com os precatórios. Foram lá e colocaram outro nome, que é até de um campo diferente do meu, o Espiridião Amin, e o Estado hoje só é falado positivamente, o Estado cresce, atrai investimentos.  
Acredito no Espírito Santo, mas não podemos perder tempo com bobagens. Sou de Guaçuí, terra do governador Dr. Chiquinho Lacerda de Aguiar, que fez sua campanha dizendo "sem ódio e sem rancor, Chiquinho governador". Um homem querido e amado em seu tempo.  
Precisamos pegar essa auto-estima de nosso povo, que está lá no chão, e recuperar. Fazer o capixaba bater no peito e sentir orgulho. Vamos conseguir isso, se Deus quiser. Os que não estiverem com a gente agora, não é o fim do mundo. Eu gosto de encontro. Depois vamos ver uma forma de juntar todo mundo para ajudar o Espírito Santo. Minha filosofia é de agregação.  
O Espírito Santo precisa de alguém que lidere esse processo.  
– O senhor falou na ques tão da auto-estima do capixaba. Depois que o senhor foi eleito de forma esmagadora, surgiram os problemas com o ex-ministro Elcio Alvares, as denúncias contra o governo, e que expuseram o Estado negativamente lá fora.  
E houve acusações de que o senhor estava por trás de tudo isso. É verdade?  
– Celso, essa é uma boa pergunta, que me permite falar de um tema que a imprensa capixaba nunca me permitiu falar. Primeiro, a questão do Elcio. A informação que tenho, de dois políticos insuspeitos do ponto de vista da relação com o ex-ministro, é de que o próprio ex-ministro tem hoje uma visão clara de que se equivocou ao atribuir a mim coisas que a realidade mostrou nada terem a ver comigo.  
O que não podia fazer naquele momento era defendê-lo. Não é por nada, mas porque ele não me pediu. Se ele desse um telefonema me pedindo isso, eu o faria.  
Existe muita intriga na política do Espírito Santo. Colocam-se muitas coisas para distanciar as pessoas e algumas delas dão certo, outras não. Nos últimos meses, cada vez essas coisas dão menos certo no Estado.  
Os problemas de Elcio Alvares foram exclusivamente com as Forças Armadas, por motivações que não me cabe aqui levantar.  
– As acusações contra o então ministro da Defesa, em sua opinião, não são verdadeiras?  
– Claro que não. Eu poderia ter feito a defesa do ministro, estou dizendo aqui. Cheguei a falar isso com o Gerson Camata na época. Isso para mim seria simples. Mas você disputa a eleição comigo, ganha a eleição, amanhã eu tenho uma acusação contra mim, como fica isso?  
Se você quer saber, eu e o Luiz Paulo (Vellozo Lucas, prefeito de Vitória) fomos consultados pelo Pimenta da Veiga sobre a nomeação do Elcio para o Ministério. Particularmente achava que ele deveria ir para o Sebrae, mas de maneira nenhuma me oporia à ida dele para o Ministério. Eu não trabalharia contra meu Estado, seria um ato de burrice.  
– E a questão relacionada ao atual governador?  
– Eu perdi a convenção, fiz minha campanha separada da dele. Ele tentou unir as duas campanhas e não uni porque não confiava. Tinha medo de tomar um golpe no final. Fiz a campanha solteira, já é a segunda. A de deputado federal também não cruzava com a do candidato a governador.  
Ele ofereceu a ilha de edição dele, mas não aceitei. Montei a minha. Tinha o menor tempo de televisão. O Elcio era o maior, depois o Nelson Aguiar e em terceiro era o meu. Montamos uma ilhazinha precária e fizemos nosso programa de televisão, em que eu era o âncora o tempo inteiro.  
Deu certo e ganhei. Acabou a campanha e coloquei o mandato à disposição do governador. Mas tudo o que eu fazia em Brasília, se eu fosse a um órgão buscar benefícios para o Estado, se fazia de tudo no Estado para descaracterizar minha luta e pelos cantos diziam que eu era arrombador de portas abertas.  
Veio o episódio do Banestes, quando foi denunciado o uso do banco para pagar conta de campanha eleitoral. Naquele momento me desliguei do PSDB porque achei que o fato era muito grave. Me distanciei, me filiei a um partido pequeno, o PPS, para ficar na oposição e não haver acusações de que fui bloquear isso ou aquilo.  
Vieram as eleições municipais. O governador foi para uma direção e eu para outra. Ele ganhou eleições em alguns municípios e eu ganhei em outros. Ganhamos em Vila Velha, Vitória, São Mateus, Cachoeiro, Guarapari. Ele também fez prefeitos importantes, como Aracruz, Cariacica.  
Quando acabou o processo eleitoral reuni meus companheiros e falei de uma política muito dividida no Estado, que eu poderia ser candidato ou apoiar alguém com mais chances. Isso no início de 2001. Veio o almoço de Alfredo Chaves, aquela galinha ao molho pardo. Eu fui convidado, mas avisei a todos que não iria lá e não fui.  
– Mas o almoço de Alfredo Chaves foi provocado por uma colocação que o senhor fez de que, da forma como estava, o senhor não seria candidato porque o governador José Ignácio era imbatível.  
– A imprensa foi que quis colocar isso na minha boca. O que declarei foi que o quadro era dividido e que a condição para eu ser candidato seria unir as forças de oposição. Foi isso que provocou o almoço de Alfredo Chaves.  
Nesse almoço líderes fizeram afirmações, acusações contra o governo, que reagiu com quatro pedras na mão, desafiou as pessoas que lá estavam, desafiou o prefeito da Serra e o de Cachoeiro a mostrarem provas. E o prefeito de Cachoeiro aceitou o desafio, recolheu provas e apresentou.  
Cutucou a onça. E Theodorico Ferraço resolveu responder e juntou material. Quem deu material a Ferraço? O próprio pessoal do governo, que tinha todo esse material, porque havia brigas e divisões dentro do governo. Tinha e tem, pelo que me consta. A história está aí, o tempo vai trazer à tona isso tudo.  
Agora, eu tenho que dizer uma coisa. Se eu conseguir chegar ao governo, eu não vou ser delegado de polícia. Vou ser governador do Espírito Santo. Trabalho de polícia é de polícia, de Ministério Público é de Ministério Público. O papel do governador é administrar o Estado, dar condições para todo mundo trabalhar. Eu quero reorganizar a máquina administrativa, ter um bom plano para que o Espírito Santo respire.  
Eu não consigo imaginar que o Estado, vindo a ser governado por mim, fique paralisado em coisas menores. Não vou levar métodos de delegado de polícia para dentro do Palácio.  
Se chegar lá, tenho que che-  
gar com tranqüilidade, mas com firmeza.  
– O prefeito Sérgio Vidigal, da Serra, está solto nesse processo político?  
– O Vidigal largou com um acordo político amplo, envolvendo o PDT, PSDB, PMDB, PTB, o PT, o PSB. Ele não dependeu da minha liderança nem de ninguém, como o Luiz Paulo e o Ferraço também não, para se eleger.  
– O Vidigal está na campanha de Max Mauro. O senhor acha que isso é em função de seu suplente? Que peso traz para sua campanha o senhor deixar de presente para o Estado em sua cadeira de senador o ex-prefeito João Batista Motta?  
– O povo do Espírito Santo não tem memória curta. Vão tentar montar uma campanha nesse sentido, mas não vai funcionar. Eu perdi a convenção do PSDB e fui para casa. Quem ganhasse a convenção tinha o controle do partido. A primeira pessoa que recebi em casa foi o prefeito Luiz Paulo, que veio me dizer que eu não teria lugar na chapa e que eu não deveria disputar para deputado para fazer bancada, mas que ele não seria candidato em 2000 para que eu assumisse a prefeitura.  
A segunda pessoa foi o Theodorico Ferraço falando em arranjar um jeito para eu ser candidato a senador, e meu pai era radicalmente contra essa candidatura, porque achava que o grupo vencedor da convenção não deixaria. E a terceira pessoa que foi lá em casa foi o João Batista Motta para me dizer que a vaga era dele, mas que ele queria me dar a vaga, sem qualquer exigência, nem de suplência.  
Eu disse para ele que tinha dúvidas se seria candidato, mas disse-lhe que, se eu fosse candidato, ele seria suplente, por uma questão de justiça.  
Outra coisa que precisa ser desmistificada é que o Motta fez duas administrações na Serra. E não há quem possa dizer que na primeira administração ele não foi bem sucedido. Ele colocou a Serra para a frente. Inaugurava uma montoeira de escolas de uma vez só. Na segunda administração teve um problema de caixa na reta final do governo, dinheiro que ele não conseguiu renegociar durante o governo dele, mas que no início da administração do Sérgio Vidigal a mesma bancada federal, que não conseguiu a renegociação para o Motta, conseguiu para o Vidigal. E o Elcio Alvares teve uma participação importante nisso.  
O Motta ficou com problema  
de salário atrasado, mas herdou uma situação do antecessor dele.  
É preciso fazer justiça ao homem público.  
Quando falam que não posso  
ser governador por causa do su-  
plente é porque não têm pega em outra coisa.  
– Se o Motta não fosse seu suplente o senhor acha que o Vidigal ficaria com sua candidatura?  
– Não posso responder por ele. Sempre tive uma boa relação com o Vidigal, uma relação de diálogo.  
– Mas ele tirou o PSB da administração quando o senhor se filiou ao partido para ser o candidato a governador.  
– Acho que foi um erro dele. Mas sempre tivemos boas conversas. Vou respeitar a posição que ele tiver, seja qual for. Estamos no início de abril e temos 70 dias até as definições de candidaturas, cujos registros serão a partir de 4 de julho. Em todo o Brasil o processo foi antecipado, não sei porque. Eu não estou fechando porta nem janela. Estou aberto para conversar com todo mundo.  
– O ex-governador Max Mauro disse que desistiu de apoiá-lo por causa de um tal dossiê São Paulo. O que é isso?  
– É uma brincadeira. Houve um momento em que a Força Sindical foi investigada por causa do dinheiro do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), que deve ser usado para capacitação de mão-de-obra.  
A Rede Globo e as revistas ficaram fazendo aquela pressão e a Força fez um dossiê para desviar o assunto dizendo que aquela denúncia vinha do grupo do Serra (José Serra, candidato a presidente pelo PSDB) para enfraquecer o Ciro e outras coisas. Mas isso foi desmoralizado pela imprensa nacional.  
Eu estava saindo do PPS e colocaram meu nome no dossiê. Montaram um factóide e a imprensa nacional não deu nenhuma credibilidade a isso. Pedi à Folha de São Paulo para responder, mas o jornalista me disse que era uma bobagem, que ninguém dava crédito àquilo.  
É gostar muito de dossiê para pegar uma coisa dessa sem qualquer lastro.  
– O ex-governador Max Mauro faz ligações do senhor com o Fundap. Afinal, o Fundap é bom ou ruim para o Espírito Santo?  
– O Fundap é um instrumento engenhoso para a economia capixaba. Temos uma estrutura portuária que cresceu muito na década de 70 e é subutilizada. São Paulo e Rio, que são os maiores importadores, têm estruturas portuárias congestionadas, principalmente São Paulo. A invenção do Fundap há mais de 30 anos pelos talentos de Graciano Espindola e do saudoso Alvino Gatti é engenhosa, que permite que bens e matérias-primas importadas pelas plantas industriais situadas no eixo principal de desenvolvimento do país possam entrar no Brasil pelos portos do Espírito Santo.  
Ao mesmo tempo, o dinheiro desse instrumento deve ser investido em outros projetos no Estado. O mal, portanto, não está no instrumento em si. É uma estultícia um político falar no Espírito Santo que se for governador vai acabar com o Fundap. Quem quer acabar com o Fundap é o governo de São Paulo, que está perdendo receita, o governo do Rio. O governador do Espírito Santo que falar isso não tem inteligência para governar o Estado.  
O que é preciso é dar transparência às ações do Fundap. Criar um mecanismo automático de liberação de recursos. O dinheiro entrou na Fazenda não vai ter que alguém estar lá na Fazenda para enviar o dinheiro para o Bandes. Tem que ir automático para ser liberado para investimentos em novos projetos.  
Precisamos cobrar essa transparência. O Fundap tem que deixar de ser caixa-preta.  
Podemos cobrar do Fundap outra coisa: como movimenta muito dinheiro, o Fundap precisa ter uma base social mais sólida no Espírito Santo. No mundo inteiro os projetos econômicos de grande impacto montam uma base social, inclusive que o defenda quando é atacado.  
– Como traduzir essa base social?  
– Ele tem que estar envolvido em outros projetos econômicos-sociais que mostrem que esse instrumento distribui renda no Estado, direta ou indiretamente. Por que o Fundap não pode ser lincado de alguma forma com o apoio à propriedade em base familiar, que é a tradição do Espírito Santo?  
É uma discussão que não derruba a competitividade do instrumento. E isso tem que ser feito com competência técnica e jurídica. E podemos ter uma influência maior nesse projetos novos dos fundapianos no Estado, e desenvolver esses projetos nas áreas estratégicas.  
Há muito o que fazer com a matéria Fundap, só não dá para fazer bobagem. Na hora em que fizer bobagem, quebra a maioria das prefeituras.  
Quando eu fui prefeito, não usava o dinheiro do Fundap para pagar pessoal e nem custeio. Só usava para investimento. Muitos prefeitos seguiram meu conselho. Hoje, se tirar o ICMS do Fundap tem gente que não paga a folha de pessoal.  
– Como o senhor vê a relação entre o Executivo e o Legislativo no Estado?  
– Vamos ter eleição e está nas mãos da população a renovação desses quadros.  
A relação saudável é a que tive com a Câmara de Vitória, quando fui prefeito. Era saudável, sem subserviência, mas com diálogo, mostrando o objetivo de cada projeto. E os parlamentares reivindicando do Executivo as melhorias para a qualidade de vida em suas comunidades.  
– Quando o Luiz Paulo o sucedeu na Prefeitura de Vitória, exatamente porque sua relação com a Câmara era tensa, seu conselho ao novo prefeito foi de construir uma boa relação com a Câmara. A mesma pesquisa que o colocou com boa vantagem nas eleições deste ano também aponta para a reeleição da maioria dos deputados. Em tese, o senhor, se eleito, governaria com minoria na Assembléia. Como resolver isso, diante de uma Constituição parlamentarista como a brasileira?  
– Eu sou otimista. Acho que vamos ganhar o governo e o povo vai eleger uma Assembléia Legislativa para me ajudar a governar. As pessoas não vão votar num candidato que vai atrapalhar o futuro governador. As pessoas que vão votar estão vendo tudo isso que está aí.  
O que vou apresentar ao Espírito Santo é um projeto para mudar o Estado. E esse projeto precisa do governador, do apoio parlamentar e social. Das igrejas, dos empresários, dos trabalhadores. Se a população votar nesse projeto, vai me dar uma boa base parlamentar.  
Agora, quem está na vida pública e faz beicinho não dá resultado.  
Não tenho dificuldade de conversar. A Assembléia que for colocada lá vou conversar com ela, seja com a configuração que for. Tenho certeza de que vou construir uma maioria sólida, respeitado o limite do que é público. Não destruo minha carreira política.  
Represento uma geração que deu bons profissionais ao Espírito Santo. Tenho que fazer um governo compatível com a marca dessa minha geração.  
Tenho capacidade de convencimento. Fui parlamentar, deputado estadual duas vezes, fui deputado federal, sou senador, tenho vivência com os parlamentares e conheço essa cultura. Acho que ninguém que não tenha sido parlamentar poderia ser Executivo.  
Esses parlamentares vão embarcar numa canoa que vai levar todos eles a saírem vencedores lá na frente. Caldas, eu tenho que criar esse ambiente. Eles têm que saber que vamos sofrer um pouco no início, mas depois todos podere-  
mos ser vencedores. O Gerson Camata, quando eu comecei, me chamou e pediu ajuda na Assembléia, que eu seria um vencedor. E foi o que aconteceu.  
– Senador, um comício com dois palanques em Vitória:  
um com José Serra e outro  
com Garotinho. Para qual dos dois o senhor vai?  
– (risos) Eu pensei que essa fosse a pergunta para começar a entrevista. Vou para o palanque do meu partido. Não escondo que sou amigo do Serra, fui vice-líder dele e tenho admiração por ele. Não escondo também minha amizade por duas pessoas do PT. Já fiz jantar para o Lula em minha casa em Brasília. Lula e José Dirceu são duas pessoas que estimo. O partido tem bons quadros, acaba de colocar uma negra para governar o Rio de Janeiro. Quem não vai respeitar a trajetória de um Lula?  
Sou amigo dessa gente toda, mas sou partidário. Assinei a ficha, o PSB assumiu compromisso comigo, o Miguel Arraes, de deixar eu montar uma frente aqui. O Renato Casagrande tem sido um companheiro do maior valor aqui no Estado. Todos assumiram compromisso comigo e estão cumprindo.  
Então, Celso, tenho que responder com clareza: são todos meus amigos, admiro-os, mas o meu candidato é o Garotinho. Faço campanha e peço voto.  
– Mas em casa, se dona Cristina e seu filho quiserem votar no Lula e no José Serra, está tudo bem?!  
– Não, isso não vai acontecer porque já deu uma confusão danada. Em 1989, eu abracei a candidatura do Mário Covas, que eu considerava o melhor nome para dirigir o Brasil, e a Cristina, que tem luz própria, abraçou a candidatura do Roberto Freire. Isso é interessante e não vai acontecer mais, porque ela sabe o que aconteceu.  
Eu gastei um ano para convencer o Covas de que eu estava com ele, porque fizeram muita intriga  



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