Vidabrasil circula em Salvador, Espírito Santo, Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo Edição Nº: 323
Data:
30/1/2003
Capa | Edições anteriores| Assine já | Fale com a redação
Página visitada: 1983247 vezes
» Índice
» Perfil
Gilberto Gil assume Ministério e diz que vai fomentar a produção daquilo que ele mais entende: cultura
» Autos
Honda apresenta seus carros-conceito de alta performance na mostra Sema 2002, em Las Vegas
» Triângulo
Unesco premia Uniletra Financeira pela sua participação em projeto voluntário em Santa Teresa
» Turismo
No Le Mont Saint Michel, um passeio carregado da magia e da espiritualidade de um tesouro medieval
» Turisnotas
Com a alta do dólar, brasileiros trocam férias na Europa por roteiros cinco estrelas no Brasil
» Luxo
Ralf Schumacher se casa na Igreja Católica e presenteia a família com um jatinho e um luxuoso iate
» Editorial
Que responsabilidade é essa?
» Boca Miuda
Derrotado para deputado federal no ES, Albuíno Azeredo consegue boquinha no governo de Rosinha Garotinho  

Perfil

Com vocês, o ministro Gilberto Gil  
É a primeira vez que um artista da MPB chega a um posto tão alto na política federal. Filiado no Partido Verde, Gilberto Gil teve uma atuação política discreta e, apesar de ser ativo em situações sociais e um importante formador de opinião, somente uma vez experimentou ser vereador, eleito com um número expressivo de votos, na eleição municipal de 1988, em Salvador. Sobre a sua experiência anterior na política, Gil diz ter "enfrentado uma situação de inapetência", quando confrontado com os afazeres diários na Câmara dos Vereadores. "A situação agora é diferente, já que estarei lidando com a minha área, a cultura", disse o compositor.  
Apesar de intimamente ligado à música, Gil expandiu a sua atuação para a direção de festivais musicais, criação de uma rádio online (Expresso 2222), participação em eventos sociais e outras atividades pelo país.  
Hesitação – Com uma extensa carreira, mantém a respeitabilidade que poucos, no Brasil, podem dizer que têm. Tanto que não tem medo de uma possível rejeição da sua atuação como ministro. "Rejeição é coisa natural na política. Não me ofendo facilmente e não busco o confronto à toa", diz.  
Antes, porém, de ter sido revelada a novidade, Gil hesitou entre o cargo e a normal atividade como artista. Tentou despistar a imprensa, dizendo não ter poupanças que lhe possibilitassem viver apenas com o salário de ministro (cerca de 8 mil reais), e que só poderia concordar com a escolha de Lula se pudesse manter a sua carreira em paralelo com o trabalho em Brasília. Assim foi, e Gil será ministro de segunda a sexta-feira, mantendo os seus compromissos de cantor durante os fins-de-semana. No dia 1º de janeiro, o cantor não escondia a alegria de tomar posse junto de Lula.  
Entretanto, Gil já reafirmou achar possível continuar a cantar enquanto exerce as funções ministeriais: "Não acho que possam haver impedimentos para tanto", disse o baiano, que conta com o apoio do amigo e ator Sérgio Mamberti e do diretor teatral Hamilton Vaz Pereira para assessorá-lo.  
"Vou dialogar com os setores que são independentes e têm suas comissões autônomas. Não vamos produzir cultura. Vamos fomentar a sua produção", disse o cantor, que conta ainda com o aplauso de amigos como Caetano Veloso e Chico Buarque e quer, segundo as suas próprias palavras, "que o tropicalismo chegue ao Ministério da Cultura".  
Sobre as dificuldades de trabalhar em Brasília, de segunda a sexta-feira, e fazer shows aos sábados e domingos, Gil diz que tudo irá depender das questões ministeriais. "Isso tem que ser definido por um conjunto de conveniências, possibilidades ou impossibilidades legais", frisa.  
Visual – Quanto ao visual descontraído, onde as sandálias de couro, calças jeans e camisetas são indispensáveis, o ministro diz não se importar se precisar usar terno, mas garante que vai tentar imprimir seu próprio estilo no governo.  
"Não vamos esquecer que a quebra do protocolo está muito atual", brinca, apoiando-se também no fato de o presidente eleito não ser muito dado às “formalidades exageradas” do Planalto.  
Gilberto Gil quer levar para o Ministério e, também, para fora do país, a mesma imagem de "paz e amor" que o consagrou: "Vou representar o país da mesma maneira que já represento. Com misticismo brasileiro, essa mensagem de mestiçagem que o Brasil lança para o mundo. Represento isso para o mundo, como criador de cultura e como ministro não poderei estar representando outra coisa senão isso”.  
Mal começou o mandato, Gilberto Gil já se arrisca a dizer que quer "deixar a marca de um Brasil que reencontra o projeto e retoma a crença na sua grandeza, nessa caminhada histórica em uma liderança e ritual. Todos os atos criativos e produtivos do homem são cultura, são culturais. São artes, são atos, são ofícios, são tecnologias que estão interagindo. A cultura é um constante processo de produção e transformação da sociedade da vida humana em seus atos de falar, de pensar e de expressar. Por isso, tem de exercer um Ministério da Cutura quem pense dessa forma, e é por isso que Lula me escolheu". Assim disse o senhor ministro!  
 
A trajetória  
Nascido em Salvador, em 26/06/1942, o artista passou a infância em Ituaçú, no interior da Bahia, onde começou a interessar-se por música. Filho de um médico e de uma professora, o garoto teve uma vida típica de criança da classe média, sem grandes dificuldades financeiras. A estréia musical aconteceu através de um compacto lançado em 1962, Povo Petroleiro, com a marcha Coça, Coça, Lacerdinha. De lá para cá, a sua biografia transformou-se num infindável número de acontecimentos significativos, dentro da música e adjacências. O disco de estréia foi Gilberto Gil – Sua Música, Sua Interpretação, em 1963. Fã de João Gilberto, chegou a cantar no mesmo estilo bossa-nova. Em 1965, conheceu o seu parceiro mais recorrente, Caetano Veloso, na direção do show Inventário. No mesmo ano, já morava em São Paulo e circulava pelos meios culturais da cidade. Com Maria Bethânia, Gal, Tom Zé e Caetano, participou de vários espetáculos teatrais, o que chamou a atenção da cantora Elis Regina, que passou a incluir músicas de Gil no seu famoso programa de televisão. Em 1968, lançou o LP Gilberto Gil, dando início ao “tropicalismo” e tendo Caetano Veloso como principal figura.  
Em 1969 começa o período mais político de sua carreira. O cantor foi preso pela ditadura militar e lançou a irônica Aquele Abraço, uma das músicas mais famosas. Em seguida, partiu com Caetano para o exílio em Londres. Ficou quase três anos fora do país. Em 1990, ganhou o Prêmio Shell pelo conjunto a sua obra, além de receber o título de Cavaleiro da Ordem e das Artes atribuído pelo Ministério da Cultura Francês.  
Desde o início dos anos 60, Gil consolidou-se como uma das mais criativas e influentes personalidades da música brasileira e a sua carreira internacional já lhe rendeu, inclusive, um Grammy na categoria de Melhor Disco de World Music, em 1998, pelo álbum Quanta ao Vivo.  
Pai de cinco filhos, é atualmente casado com a produtora Flora Gil, com quem tem sociedade em todos os projetos profissionais.  

  
Com vocês, o ministro Gilberto Gil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, surpreendeu a todos ao convidar uma mega-estrela da MPB para ocupar o Ministério da Cultura

O show não pode parar...

Gilberto Gil na companhia da sua mulher e do filho

O pai do “tropicalismo” e sua musa Flora

O novo Ministro durante exílio político em Londres

O cantor em ocasiões diferentes, com os amigos Moraes Moreira...

... e o parceiro Caetano Veloso

Gil e Ivete Sangalo

A irreverência do tropicalismo

Gilberto Gil com o colega e amigo Milton Nascimento

Gilberto Gil durante um dos seus shows

Copyright © 2001, Vida Brasil. - Todos os direitos reservados.