Passamos pela crise do México, da Rússia, do Sudeste Asiático.
Sobrevivemos à explosão da bolha das pontocom.
Conseguimos ultrapassar, mesmo que a duras penas, os ataques terroristas aos Estados Unidos.
E não sofremos as conseqüências diretas e imediatas da derrocada argentina.
Foi preciso chegar o ano eleitoral para o Brasil experimentar sua própria e incompreensível crise.
Uma crise que se fez sem dados e fatos concretos.
Vamos recordar:
No final do primeiro semestre, quando o dólar atingia a casa dos R$ 3,00, o país entrou em pânico. Mas poucas argumentações havia para explicar como e porque a moeda americana crescia tanto e tão de repente.
Também não havia indicadores econômicos que explicassem porque o Risco Brasil chegava a seus pontos mais altos.
A pergunta do momento era: o que teria acontecido de tão ruim na base da economia nacional para que o mercado virasse de cabeça para baixo e o país verificasse uma escalada sem precedentes do dólar e a conseqüente elevação das taxas de juros?
Paraíso não vivíamos, é claro.
Mas também não estávamos em um inferno.
Nos fundamentos, a economia se mantinha estável com as contas públicas equilibradas, dívidas externas e internas controladas e superávit primário, entre outros indicadores que mostravam com clareza que a turbulência era muito mais imaginária do que real.
Hoje, passadas as eleições, parece claro que o que realmente assustava e levava o mercado a especular com tanta insensatez era a preocupação com o resultado das urnas. Em todos os momentos, eles pareciam querer dizer que Luiz Ignácio Lula da Silva amedrontava os investidores internacionais.
A opinião dos especulares pouco importou e a população optou mesmo por Lula.
E novamente, sem ter grandes e convincentes explicações, o mercado financeiro dita as regras e provoca novas mudanças. Eles parecem brincar com a população que observa atônita a queda do dólar e a melhora da avaliação do Risco Brasil.
O problema é que mesmo com o dólar em queda, toda a turbulência causada pelas especulações atingiu em cheio o bolso da população. Milhões de brasileiros estão fora do mercado consumidor porque as indústrias precisam repassar os aumentos de custos com a alta do dólar e o governo insiste na política de juros altos para conter a inflação.
Lamentável todo este clima.
O que fica para o presidente que assume é a certeza de que será preciso muito mais do que simples boa vontade para acertar toda a agitação vivida no mercado financeiro nos últimos meses.
Quem depositou em Lula todas as esperanças de que ele vai mudar o país rapidamente, é melhor cair na real. O primeiro e grande desafio do presidente eleito será colocar a economia nacional de volta aos trilhos. Só depois é que ele poderá pensar em colocar, na prática, discursos como o “fim da fome”.
A nós só cabe esperar e desejar que tudo isto não mais se repita.
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