Vidabrasil circula em Salvador, Espírito Santo, Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo Edição Nº: 308
Data:
15/6/2002
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Política

Deputado confirma, em juízo, que fez doações, como bicheiro e dono de cassino, para a campanha de Max Mauro e para a Ucis  
 
Os paióis dos candidatos ao governo do Espírito Santo receberam mais uma carga de munição para quando a campanha de fato começar. E, desta vez, o grande atingido poderá ser o ex-governador Max Mauro (PTB), o segundo nas intenções de votos apuradas pelos institutos de pesquisa no Estado, atrás do senador Paulo Hartung (PSB).  
Um comprometedor depoimento foi dado no último dia 3, na Sétima Vara Criminal de Vitória, pelo deputado estadual José Carlos Gratz (PFL), presidente da Assembléia Legislativa e desafeto declarado de Max Mauro.  
Nesse depoimento, na presença do juiz Nelson Darby de Assis e da promotora Fabiana Fontanella, a mesma que colocou na cadeia por vários meses colaboradores do atual governo, José Carlos Gratz confirma que, quando era dono de cassino clandestino e de bancas de jogo de bicho em Vitória, fez doações para a campanha política que levou Max Mauro ao governo em 1986 e, depois, para a Unidade Comunitária de Integração Social (Ucis), presidida pela então primeira-dama Maria Gleyd Chianca Mauro.  
O depoimento de Gratz foi dado como testemunha de defesa do editor da revista VidaBrasil, jornalista Celso Mathias, contra quem o ex-governador Max Mauro entrou com uma representação judicial por ter veiculado na edição número 258, da primeira quinzena de maio de 2000, uma nota repercutindo informação dada pela coluna Victor Hugo, de “A Gazeta”, sobre doações de dinheiro da contravenção para a campanha de Max Mauro ao governo.  
Por conta da nota veiculada por “A Gazeta”, Max Mauro processou a jornalista Maura Fraga, que chegou a ser condenada por calúnia, injúria e difamação e ficou 31 dias em prisão domiciliar, ato revogado em 27 de março deste ano, por decisão da Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, composta pelos desembargadores Sérgio Gama, Pedro Valls Feu Rosa e Sérgio Bizzoto.  
Atitude inédita – Na mesma audiência em que Gratz deu sua declaração em juízo, também estiveram depondo, na condição de testemunhas de defesa de Celso Mathias, o presidente do Tribunal de Contas do Espírito Santo, Valci Ferreira de Souza, e o conselheiro do mesmo Tribunal, o ex-deputado Marcos Miranda Madureira, que foi diretor do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-ES), no governo de Max Mauro.  
Tanto Valci quanto Madureira confirmaram ter conhecimento das doações de José Carlos Gratz para a Ucis, na época de Max Mauro. Valci Ferreira acrescentou até mesmo ter comprovantes dessas doações em seus arquivos.  
José Carlos Gratz, Valci Ferreira e Marcos Madureira tomaram uma atitude rara em se tratando de autoridades constituídas: comparecer a uma audiência na Justiça, ainda mais na condição de testemunhas. É comum autoridades públicas serem arroladas por pessoas processadas na Justiça porque isso serve como instrumento protelatório, pois elas têm foro privilegiado e podem marcar as melhores datas, horários e locais para serem ouvidas.  
Prestígio pessoal – Nesse caso, o comparecimento foi visto por pessoas ligadas à área do Direito como uma prova do prestígio pessoal do juiz Nelson Darby de Assis, que não apenas fez a convocação formal das três testemunhas, mas também as convidou por telefone para que o processo, movido pelo Ministério Público contra o editor de VidaBrasil, não ficasse sendo protelado até a prescrição.  
Apesar disso, não deixou de ser uma surpresa a forma como a audiência transcorreu, inclusive, pela sinceridade dos depoimentos. Especialmente de Gratz, que disse ao juiz que, na época em que Max Mauro foi governador do Estado (1987-90), realmente era dono das bancas de jogo de bicho “Cinco Estrelas” e “Só vale quem tem”, ambas em Vila Velha, bem como de um cassino clandestino no Hotel Porto do Sol, em Vitória.  
Gratz acrescentou em juízo que essas atividades ilegais eram sua fonte de renda e que o governador Max Mauro sabia disso e, portanto, sabia também que as doações feitas para sua campanha e, posteriormente, para a Ucis tinham origem na contravenção penal.  
“Nunca cheguei a entregar dinheiro pessoalmente ao ex-governador, mas o fiz por várias vezes ao irmão dele, Saturnino Mauro, que era o caixa de campanha. Posteriormente, em razão de desavenças no próprio grupo político que elegera o ex-governador, Max Mauro passou a perseguir-me”, disse Gratz à Justiça do Espírito Santo.  
Nota e confirmação – Essas perseguições, segundo o deputado, culminaram com o fechamento do cassino e das bancas de jogo de bicho, depois que o senador Gerson Camata, rompido com o ex-governador, fez pronunciamento tornando público que a campanha de Max foi em parte financiada pela contravenção penal.  
Segundo Gratz, em função dessa perseguição, que chegou a levá-lo à prisão, resolveu entrar para a política. “Não há nenhuma novidade na nota da revista, que motivou esse processo do Ministério Público, pois realmente fiz doações para a campanha de Max Mauro e, depois, para a Ucis”, disse o presidente da Assembléia.  
Procurado pela reportagem da revista VidaBrasil, para se pronunciar sobre as declarações de Gratz, Valci e Madureira na Justiça, o ex-governador Max Mauro recebeu, através de seu assessor de imprensa Marcelo Martins, cópias dos três depoimentos e preferiu, em vez de conceder entrevista, divulgar uma lacônica “nota à imprensa”, em que diz:  
“A propósito das acusações levianas assacadas contra minha honra pelos senhores Celso Mathias – proprietário desta revista –, José Carlos Gratz e Gerson Camata, de que teria recebido ajuda financeira proveniente do jogo de bicho à minha candidatura ao governo do Estado em 1986, o que caracterizaria crime, devo dizer que jamais recebi dinheiro da contravenção em todas as eleições que disputei, desde 1970 aos dias atuais, pelo que processei todos os três senhores por calúnia, dando-lhes, assim, a oportunidade de provarem suas acusações em juízo”.  
O ex-governador só equivocou-se em relação ao processo contra o editor de VidaBrasil. Não foi Max, mas sim o Ministério Público Estadual, através do promotor Marcelo Zenker, quem apresentou denúncia contra o jornalista Celso Mathias, ajuizada em fevereiro de 2001, e da qual o juiz Nelson Darby teve conhecimento em 25 de junho daquele ano.  
Sobre Max Mauro ter processado José Carlos Gratz e Gerson Camata, o deputado e presidente da Assembléia disse, no mesmo depoimento na Sétima Vara Criminal de Vitória, não ter conhecimento de nenhum desses processos. “Não sei de nada, a não ser de declarações do ex-governador na imprensa de que me processaria, e jamais fui citado para responder a qualquer ação de iniciativa do deputado Max Mauro”, enfatizou Gratz.  
Escusa e confirmação – O engenheiro Saturnino Mauro, irmão do ex-governador e citado por Gratz como tendo sido quem recebeu as doações para a campanha de Max Mauro, recebeu um fax da revista na Enefer, no último dia 7, dando-lhe ciência desse fato e convidando-o a se manifestar a respeito, mas até o fechamento desta edição não havia dado nenhuma resposta.  
Já a ex-primeira-dama Maria Gleyd Chianca Mauro, hoje separada do ex-governador, atendeu à reportagem por telefone e confirmou que recebeu doações de José Carlos Gratz para a Ucis, quando era presidente da entidade de assistência social do governo.  
“O primeiro cheque do José Carlos Gratz passou pela Ucis e foi enviado para o Hospital Santa Rita de Cássia, que estava precisando de dinheiro para comprar um aparelho de raio-x dentário para o ambulatório. As doações seguintes recomendei que fossem feitas diretamente ao hospital. Quem entregou o aparelho de raio-x à presidente do ambulatório, Arlete Pernambuco, foi a Rita Gratz, mulher do José Carlos”, disse Maria Gleyd.  
A ex-primeira-dama, entretanto, disse que não sabia que José Carlos Gratz era bicheiro e que entrou nessa história inocente.  
“O Mauro Murad, engenheiro dono da Construtora Rio Doce, sabia que estávamos com dificuldades na Ucis e foi quem me disse que o Gratz queria fazer doações, o que achei, em princípio, muito bom. Depois percebi que haveria uso político disso. Quanto a doações para a campanha, não tenho conhecimento de nada. Eu participava da campanha de forma muito alienada, apenas reunindo minhas amigas para pedir voto. Em política, as pessoas usam muito umas às outras”, disse Maria Gleyd.  
Novos rumos – O comparecimento de Gratz, Valci e Madureira à Justiça para o contundente depoimento como testemunhas vai mudar os rumos da ação movida pelo Ministério Público contra a revista VidaBrasil, a partir da representação do deputado federal Max Mauro, na avaliação das advogadas Ednéia Vieira e Lúcia Roriz, que representaram o jornalista Celso Mathias na audiência na Sétima Vara Criminal. O diretor da revista estava viajando para Salvador, a serviço da empresa, na data da audiência.  
A partir dos depoimentos das testemunhas, começaram a correr os prazos do rito processual. Em três dias, o Ministério Público e a defesa fazem as alegações finais e, a qualquer momento, pode sair a sentença do juiz Nelson Darby de Assis.  
A defesa vai pedir ao juiz que decrete improcedente a denúncia contra o diretor da revista e que o processo seja extinto, uma vez que as testemunhas arroladas confirmaram a informação veiculada na nota que originou a denúncia da promotoria.  
Liberdade de expressão – “Difamação e calúnia é quando se acusa a pessoa de coisas que ela não fez. Não foi o caso. A revista apenas usou a liberdade de imprensa para trazer a público uma informação que, agora, confirmou-se verdadeira. O que valeu para nós, da defesa, foi a confirmação da informação, principalmente pelo deputado José Carlos Gratz, que foi muito convincente em seu depoimento e contou detalhes de sua vida, até então desconhecidos pelo próprio juiz. Assim, cai por terra a tese da calúnia e difamação”, antecipa-se Ednéia Vieira.  
Na defesa prévia do jornalista, as advogadas já haviam argumentado que “a notícia veiculada na revista VidaBrasil expressa a livre manifestação do pensamento, o que lhe é garantido pela Constituição Federal”.  
Sobre essa liberdade de expressão, o jurista João Barbalho é incisivo: “A livre manifestação do pensamento favorece o exame e crítica dos atos das autoridades públicas e leva seus abusos e desvios ao conhecimento dos poderes competentes para corrigi-los”.  
Agora, que se sabe que, ao contrário do que diz o deputado federal e ex-governador Max Mauro, ele já recebeu, sim, ajuda financeira de uma atividade considerada ilegal, a contravenção penal, representada pelo jogo do bicho e cassino clandestino, conforme confirmou em juízo o deputado estadual José Carlos Gratz, ele mesmo o doador quando era dono de bancas e de cassino, resta o julgamento das urnas à conduta ética do candidato Max Mauro e uma proclamação: mais uma vez, venceu a liberdade de imprensa!  
 
 
 

  
Max

Max

Max

Gratz

Valci

Madureira

Maria Gleyd

A jornalista Maura Fraga

O juiz Nelson Darby de Assis

a promotora de justiça Fabiana Fontanellav

senador Gerson Camata

Ednéia Vieira e Lúcia Roriz, advogadas do jornalista Celso Mathias

Sem avaliar a gravidade dos depoimentos prestados em juízo envolvendo o seu nome com o jogo do bicho durante a campanha para o governo do Estado e na sua administração, o ex-governador Max Mauro recusou-se a conceder entrevista e limitou-se a produzir uma nota lacônica onde acusa o jornalista Celso Mathias de leviano e avisa que o está processando. Aproveita e envolve também na pendenga o nome do senador Gerson Camata.Quanto ao processo movido por ele contra o editor de VidaBrasil, trata-se de um equívoco do ex-governador. Na verdade, Mathias que nunca afirmou e sim reproduziu nota da jornalista Maura Fraga, falando sobre as ligações do governo dele com o jogo do bicho, está sendo processado pelo Ministério Público, que agora tem à disposição os depoimentos colhidos na Sétima Vara Criminal

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