Já se pode ficar tranquilo
A recente descoberta de um gene associado à ansiedade pressupõe um avanço gigantesco para tentar compreender uma perturbação que até 1980 ainda não estava catalogada e apenas se manifestava em expressões populares do gênero “estou com os nervos à flor da pele”.
Nos últimos anos, têm vindo à tona várias descobertas que associam alterações genéticas a diversas patologias psicológicas. Desta vez, uma equipe de investigadores dirigida pelo geneticista Xavier Estivill descobriu que as perturbações de ansiedade surgem associadas a uma mutação no cromossomo 15. Essa alteração surge em cerca de 97% das pessoas que sofrem de perturbação de ansiedade generalizada e de ataques de pânico.
Esta equipe de médicos acredita que essa mutação possa também estar associada a outro tipo de perturbações como a ansiedade crônica ou fobias.
Esta descoberta foi fruto de uma investigação que começou há 10 anos quando o psiquiatra espanhol Antoni Bulbena sugeriu que as pessoas que vinham à sua consulta com problemas de lassidão muscular tinham mais probabilidade de sofrer perturbações de ansiedade do que os demais.
Estivill estudou então 140 pessoas de várias famílias espanholas com histórias de perturbação de ansiedade, 70 pessoas sem qualquer antecedente familiar de ansiedade, e 189 que não sofria nenhuma perturbação deste tipo. Descobriu-se então que o material genético do cromossomo 15 surgia duplicado em 100% das pessoas do primeiro grupo, entre 68% e 70% no segundo grupo e apenas em 7% das pessoas do terceiro grupo, as que não tinham histórico de perturbações ansiosas. Foi desta forma que o médico espanhol determinou uma correlação genética em relação à ansiedade, que na sua opinião deve ser considerado um fator de risco e não um determinismo. A mesma experiência demonstrou que apenas entre 37% e 63% daqueles que apresentam a mutação acabam por sofrer de perturbações efetivas relacionadas com a ansiedade. Segundo Estivill “pode-se nascer com esta mutação ou desenvolvê-la durante o crescimento”.
Sei que não há perigo, po-
rém não consigo deixar de
pensar que pode acontecer alguma coisa ao meu filho. Estou inquieto e não consigo descansar. Esta sensação pode durar meses. E acontece com alguma frequência. Por vezes pensamentos sem importância são capazes de me tirar o sono. Noutras vezes o coração dispara apressadamente sem qualquer razão aparente...” Esta poderia ser a descrição que um paciente vítima de perturbação de ansiedade generalizada faria do seu estado. Esta perturbação é uma patologia que se camufla com facilidade e que por vezes torna-se difícil de detectar. No National Institute of Mental Health, uma agência federal dos EUA que investiga as perturbações mentais, esta patologia aparece descrita da seguinte forma: “Um transtorno da ansiedade pode fazer com que o paciente se sinta inquieto sem qualquer causa aparente. A sensação chega a ser tão incômoda que pode levar o indivíduo a suspender atividades imprescindíveis do cotidiano, e nas suas manifestações mais extremas pode chegar a ser imobilizadora.” Estas sensações – que levaram o mafioso Tony Soprano, da famosa série televisiva, a consultar um psiquiatra – surgem, por vezes, sem que se determine ao certo o objeto da ansiedade. Talvez por isso, não seja surpreendente que, segundo as estatísticas, entre 15 a 20% dos pacientes que dão entrada nos serviços de urgência dos hospitais apresentem algum transtorno relacionado com ansiedade.
Inquéritos realizados junto a médicos dos serviços de urgência, demonstram que a ansiedade e a depressão constituem o quinto diagnóstico mais frequente entre os números de casos que dão entrada diariamente nos hospitais.
“Vivemos na era da ansiedade”, diz um estudo publicado no ano passado pela APA (American Psyquiatric Association, a responsável pela edição do manual de referência DSM-IV): o custo econômico da ansiedade em 1990 ascendeu a 32% dos 147,8 bilhões de dólares que constituem o orçamento total destinado à saúde mental.
O que é que está havendo? Faça-se aqui um ponto da situação: todo mundo tem ansiedade. A ansiedade é uma resposta primitiva que nos permite, por exemplo, correr mais depressa perante uma ameaça. O nosso metabolismo aumenta, a respiração acelera, o ritmo cardíaco dispara, transpira-se etc. Se a intensidade do processo ansioso aumenta ou se torna muito frequente, então deixa de ser um mecanismo de sobrevivência para se tornar uma fonte permanente de sofrimento. Surgem assim as palpitações, pressões e dores no peito, dificuldade em respirar, sensação de asfixia, enjôos, visão turva, insônias etc. Estes são os sintomas mais frequentes relacionados com estados de ansiedade, mas uma crise extrema pode desencadear um ataque de pânico durante o qual a pessoa pode sentir-se à beira da loucura ou experimentar a sensação de que vai morrer.
A origem genética - Durante os últimos anos, e dados os recentes avanços na decodificação do genoma humano, os cientistas têm procurado determinar se existem causas genéticas para as mais variadas patologias. Investigadores do Hospital Duran y Rynbalds, em Barcelona, estabeleceram uma relação entre as perturbações ansiosas e uma determinada mutação no cromossomo 15. Verificaram que essa mutação estava presente em cerca de 97% de pessoas que sofrem de ansiedade generalizada ou crônica. Esta descoberta vem lançar nova luz na discussão sobre as origens físicas e psíquicas da ansiedade e abre novas possibilidades de cura. Uma das possibilidades relacionadas com esta descoberta, esperam os cientistas, é a de realizar a detecção precoce em pessoas que apresentem alto risco de padecer, por exemplo, de ataques de pânico, uma das manifestações do quadro das perturbações de ansiedade que mais sofrimento causam. Os responsáveis por esta descoberta acreditam que “deste modo podem atuar antes de os sintomas começarem a produzir-se”. E acreditam, também, que a longo prazo as indústrias farmacêuticas podem passar a produzir remédios mais eficazes e mais seguros para o tratamento da ansiedade. No entanto, apesar desta descoberta, o determinismo genético não é implacável. Na realidade, não foi encontrada uma relação direta entre esta alteração cromossomática e um ataque de pânico. Verificou-se que só entre 37% e 63% dos indivíduos onde se verificava a alteração acabaram por sofrer um ataque de pânico. Uma correlação que não é suficientemente forte para estabelecer uma relação de causalidade efetiva. Por isso os mesmos investigadores aceitam que “o papel dos fatores ambientais não deixam de ser decisivos no desencadear dos ataques de pânico.”
Além de determinismos genéticos, o mecanismo interno que faz soar o alarme e põe o nosso organismo em estado de alerta pode ser afetado por fatores externos tão cotidianos como cansaço, a má alimentação, ou a nossa situação emocional.
Importância do meio ambiente - “Se estivermos durante um largo período de tempo alimentando-nos mal, esgotados, ou se crescemos num meio hostil, o nosso patamar de perigo baixa, ou seja, o alarme de perigo dispara muito mais cedo do que deveria e olhamos o mundo em busca permanente de ameaças de inimigos. Quando temos amigos, somos amados e o nosso trabalho nos satisfaz, então esse patamar sobe e passamos a ter menos probabilidades de ficar vulneráveis aos insultos e às agressões cotidianas”, escrevem C.J. McCulloughm e R. Woods Mann no seu livro Managing Your Anxiety, que se tornou um dos clássicos de auto-ajuda do gênero. Este limite de perigo também é influenciado pelas experiências que fomos tendo ao longo da nossa vida e parece que, por exemplo, quanto mais perigo sentimos durante a infância mais probabilidades temos de vir a ter esse limite em baixo e fazer uma vigilância constante do que nos rodeia.
Os psicólogos, por seu lado, estabeleceram os traços da personalidade que revelam uma maior probabilidade de desenvolver uma ansiedade elevada: pensamento rígido, necessidade excessiva de aprovação, dependência, perfeccionismo, necessidade de manter o controle, tendência a não prestar atenção às necessidades do corpo. Segundo o ‘Manual de Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais, DSM-IV’, um instrumento precioso para psicólogos e psiquiatras, uma das características que ressalta é a grande capacidade efabuladora de quem sofre de ansiedade: “Nos casos de ansiedade podem por vezes surgir, em paralelo com a preocupação excessiva relativamente a problemas reais, imagens e impulsos que se associam aos pensamentos, que podem ser imagens de catástrofes. O sujeito apresenta dificuldade em controlar estes pensamentos”. Isto é o que, por vezes, em linguagem comum se chama ‘fazer filmes’. Alguns psicólogos reconhecem nestes pacientes uma grande capacidade imaginativa que traduz por vezes num excelente nível de criatividade. Que só não se torna mais visível em termos sociais e em situações de trabalho devido ao bloqueio que a própria perturbação ansiosa provoca. A responsabilidade não é só do genoma. O cérebro também tem culpa no cartório. Investigações recentes no campo da neurologia vieram demonstrar que quando se está ansioso o cérebro estimula o sistema nervoso parassimpático que, por sua vez começa a libertar catecolaminas – noradrenalinas, dopamina e adrenalina – que em parte são as responsáveis pelos sintomas que nos levam a sentir à beira da loucura ou da morte.
Os prêmios Nobel da medicina Eric R. Kandel, J. H. Schwartz e T.M.Jessel puseram a nu o processo pelo qual as catecolaminas se ativam e se transmitem de célula para célula. A partir daqui, os cientistas acreditam que será mais fácil encontrar soluções eficazes para deter o efeito das catecolaminas no desencadear dos ataques de pânico. Por exemplo, quando falamos em público, uma das situações que mais ansiedade provoca, a composição do nosso sangue altera-se e passa a conter mais adrenalina.
Do mesmo modo o sistema imunológico fica alterado e o organismo fica mais vulnerável às doenças infecciosas. Registrou-se, por exemplo, que os estudantes universitários contraem mais gripes e constipações quando chega a época dos exames. Além disso, uma produção de catecolaminas em excesso provoca uma hiperatividade permanente que pode provocar efeitos nefastos ao estômago, coração e pele. Com o sistema imunológico diminuído o paciente de ansiedade expõe-se a agressões exteriores muito mais facilmente, podendo ser alvo fácil de vários tipos de alergias e para evitar esse sofrimento os pacientes desenvolvem comportamentos evitantes face àquilo que julgam ser focos de ataques externos (fobias). A ansiedade torna-se assim um círculo vicioso.
O caminho do êxito - Hoje em dia, o emprego de terapias combinadas (terapias psicológicas, sejam elas dinâmicas ou de pendor analítico ou cognitivistas, acrescentada toda uma nova geração de remédios, mais eficazes e de efeito mais rápido) torna cada vez mais fácil controlar a ansiedade. Não é provável que ela desapareça por completo, mas podemos finalmente aprender a conviver com ela.
A ansiedade revela sempre a existência de
uma preocupação que, por sua vez, supõe
a existência de um problema. Frente a um perigo, a ansiedade (através do aumento dos níveis de adrenalina e noradrenalina) permite que o indivíduo foque a sua atenção naquilo que poderá constituir uma ameaça, mantendo-o alerta e em estado de vigília. Este é, portanto, o lado positivo da ansiedade: um estado de sobre excitação que mantém o indivíduo preparado para uma resposta de luta ou fuga caso a situação o justifique. Dito assim, a ansiedade parece nem sequer ser um problema. Mas é. Para quem sofre de ansiedade generalizada, ou da síndrome do pânico, ela é mais do que um problema grave para passar a ser um modo de vida.
Um medo antigo - De acordo com os especialistas, as perturbações de ansiedade podem aparecer em qualquer pessoa. No entanto, existem pessoas mais propensas às fobias, às depressões, à ansiedade generalizada e à síndrome do pânico. Então que pessoas são estas? “São pessoas mais instáveis, com alguma insegurança e que podem ter sofrido episódios de ansiedade na infância. Neste tipo de perturbações, além da componente genética, a componente ambiental também tem grande influência”, explica o médico psiquiatra Fernando Rosas. Estudos realizados por cientistas norte-americanos concluíram que os filhos de pais que sofrem de depressões graves ou de ataques de pânico têm nove vezes mais probabilidade de vir a sofrer da mesma perturbação, ou de qualquer outra perturbação afetiva, do que os filhos de pais sem qualquer perturbação. Acontece, então, que a genética e o comportamento apreendido cozinham em segredo uma crise de pânico.
O medo do medo - O ataque de pânico aparece sem aviso prévio e deixa marcas psicológicas profundas. É que as sensações que provoca são de tal modo intensas que, após a primeira crise, a pessoa vive permanentemente com receio de ter que passar pelo mesmo.
Taquicardias, suores frios, espasmos musculares, hiperventilação, tremores, náuseas, sensação de irrealidade, sensação de desmaio, de loucura e de morte iminente são os sintomas que acabam por levar as pessoas às urgências hospitalares. No entanto, ao final de dez minuto, os sintomas acabam desaparecendo. Uma situação estranha a juntar ao fato dos exames clínicos não revelarem nenhuma anomalia física. Mas os ataques de pânico são mesmo assim. Aparecem quando a pessoa menos espera, quando está descansada, e provocam sensações muitos fortes, duram cerca de dez minutos e não têm causas físicas, o que nem sempre é simples de aceitar.
“Quando uma pessoa se dirige ao hospital, pensando que está morrendo de um ataque cardíaco e ouve os médicos dizerem-lhe que teve um ataque de pânico, fica revoltada e pensando que tem uma doença que não foi descoberta”, afirma Fernando Rosas, acrescentando: “Algumas destas pessoas acabam por se tornar hipocondríacas, passando a vida em consultas e e fazendo exames.” O que caracteriza a vida de uma pessoa que sofre de ataques de pânico é a limitação.
“Depois de sofrer o primeiro ataque, a pessoa vive permanentemente com receio de que este possa voltar a acontecer e começa a evitar certos espaços e ambientes. Só que isto ainda é pior porque o fato de estar sempre ansiosa potencia o aparecimento de uma nova crise”, afirma João Paulo Ferreira, psicólogo clínico. Mas há mais. É que as pessoas que sofrem de ataques de pânico tendem a desenvolver um comportamento fóbico.
“Se um indivíduo tem um ataque num elevador começa, primeiro, evitando elevadores, mas acaba evitando qualquer lugar fechado. Do mesmo modo, se o ataque seguinte se der no meio da rua, o indivíduo começa a evitar não apenas a rua em que tal aconteceu, mas qualquer espaço aberto”, afirma o mesmo psicólogo.
O médico é necessário - Perante este panorama, não será de estranhar que as limitações a que as pessoas vão se impondo contribuam para o aparecimento de um quadro depressivo. “Ao verem as suas competências sociais reduzidas (em alguns casos as pessoas chegam a ter de deixar de trabalhar), os indivíduos acabam por se sentir inúteis, tornam-se hipersensíveis e vulneráveis, com tendência a isolarem-se”, afirma Fernando Rosas.
Neste ponto, já se tornou notório que as pessoas que sofrem da síndrome do pânico necessitam de um acompanhamento médico especializado. Seguir ao mesmo tempo uma terapia psicológica e farmacológica parece ser, até agora, a única maneira de por um fim ao medo.
Na realidade, será que a ansi-
edade existe mesmo fora do
nosso mundo competitivo e acelerado? Segundo o especialista em psicoterapia comportamental José Pacheco, “a ansiedade é, seguramente, uma característica comum a todos os grupos sociais, culturais e econômicos e inclusive afeta outras espécies animais. Não é uma emoção apenas inerente ao homem. É normal sentir-se ansiedade. Só é patológico a partir de um certo limite. Tudo depende das circunstâncias, tipos de contextos e das situações que a geram”. Na opinião deste especialista, a ansiedade atinge proporções mais drásticas quando surgem situações potencialmente ameaçadoras, entendidas como capazes de colocar a vida em risco. Andar de avião pode provocar ansiedade, assim como as aranhas, por exemplo. A ansiedade traduz-se num estado de inquietação opressiva, de apreensão por algo que possa suceder, numa tensão e numa ânsia difusa. Em alguns países asiáticos, como o Japão e a Coréia, por exemplo, sofre-se um medo incomensurável de poder tomar atitudes suscetíveis de ofender as outras pessoas. Nestas culturas, o sentimento de ansiedade está patente em múltiplos gestos. Ruborizar-se, o olhar diretamente o outro ou a emanação inevitável de determinados eflúvios corporais pode ser encarado como uma atitude ofensiva, tanto assim, que existe uma expressão em japonês - ‘taijin kyafusho’- para ilustrar tão desagradável situação. No Ocidente é sobretudo preocupante fazer figuras ridículas. A realidade difere de povo para povo e de grupo para grupo. Por isso, a compreensão destes fenômenos deve ser sempre contextualizada. Na China existem determinados grupos sociais para quem subir o Evereste ou visitar a Finlândia não consta dos sonhos. Pura e simplesmente porque sentem pânico em relação ao frio e ao vento. Transtornos designados ‘pa-leng’ e ‘pafeng’, respectivamente. Consideram que estes podem afetá-los com uma carga de energia negativa – Yin. Para combatê-la, cobrem-se de roupa e procuram ingerir alimentos picantes para manter o corpo quente. Há habitantes de zonas da China, Índia e Sri Lanka que acreditam poder morrer caso ejaculem muitas vezes, pois consideram o esperma uma substância vital. O medo de morrer está presente no seu cotidiano. As pessoas que alimentam estes receios nem sequer imaginam que, segundo um estudo realizado em 1986, muitos dos norte-americanos compartilham os mesmos sintomas por um motivo bem diferente: um conflito nuclear.
A paz estará no campo? - Para José Pacheco “as angústias vividas pelos habitantes dos meios rurais são apenas diferentes das manifestadas por quem habita nas grandes cidades. Não existem problemas de trânsito, nem horas de pico, mas as pessoas angustiam-se perante a incerteza dos animais procriarem ou não, das suas culturas se desenvolverem, se chove na altura certa. Entre outros receios”. Para este especialista, os contextos são diferentes, mas os focos de ansiedade estão lá, enquanto protagonistas de inúmeros receios. As opiniões dividem-se, e alguns investigadores nesta matéria defendem a tese de que os habitantes das cidades são mais vulneráveis a estados de angústia.
Na opinião do antropólogo, Darío Páez, as culturas individualistas – mais próximas das cidades – têm um ritmo de vida mais rápido e mais estressante, aceito por todos como normal. Em contrapartida, entre as pessoas das comunidades rurais existe um maior apoio social: interajuda, mas também um maior controle de todos. Significa que muitas das responsabilidades estão repartidas, sem que tal constitua uma obrigação. Contrariamente, nas culturas muçulmana e cigana, onde a vida em comunidade é tônica assente, a tomada de uma atitude diferente da partilhada por todo o grupo entende-se como traição, gerando ansiedade. Enfrentar a ansiedade é ainda um processo muito complicado sobretudo no Ocidente. Outras culturas criaram mecanismos com a dupla função de prevenção e alívio da ansiedade. Caso das técnicas orientais como o Yoga, a meditação, o tai-chi. A psicoterapia é o tratamento indicado para as ansiedades patológicas. Os medicamentos atenuam mas não resolvem as questões de fundo. O ideal é haver uma sinergia terapêutica medicamentosa conjugada com psicoterapia. O Yoga, o controle respiratório, caminhadas, “jogging”, são algumas das técnicas empregues para ajudar a controlar a ansiedade”, explica o psicólogo José Pacheco.
Assim que os médicos consi
deraram as perturbações
mentais uma doença, começaram a tentar curá-las através dos métodos tradicionais em que confiavam. No entanto, durante muito tempo, a maioria destas tentativas fracassou. Hoje, apesar do muito que ainda falta saber sobre as causas (e logo a cura) das perturbações mentais, o panorama é mais animador. Nos últimos trinta anos, foram descobertas várias substâncias químicas que parecem aliviar algumas doenças mentais, bem como várias perturbações afetivas.
Além das intervenções de caráter psicológico (como as psicoterapias ou psicanálise) é possível intervir também no sistema biológico. Hoje, sabemos que as perturbações podem ser provocadas ou podem provocar distúrbios biológicos que podem ser cobertos com a administração de medicamentos adequados.
No campo das perturbações afetivas (fobias, depressão, neuroses de ansiedade), os medicamentos utilizados pertencem ao grupo dos ansiolíticos e ao grupo dos antidepressivos. De acordo com Henry Gleitman, professor de Psicologia da Universidade da Califórnia (EUA), “a eficácia dos antidepressivos prende-se com o fato de aumentarem a quantidade de norepinefrina e serotonina, que são substâncias químicas muito eficazes no combate à depressão”.
No entanto, estas substâncias não são eficazes em todos os pacientes. “A medicação não funciona de igual modo para todo mundo. Por vezes, é necessário fazer várias experiências até se acertar”, afirma o psiquiatra Fernando Rosas. No entanto, esta situação pode vir a mudar. Estudos recentes indicam a possibilidade da existência de “marcadores biológicos”(como os testes sanguíneos) que podem ajudar na adequação da medicação antidepressiva a cada doente.
Eficácia - O tratamento das perturbações mentais continua a suscitar opiniões nem sempre concordantes entre si. É que apesar das possibilidades terapêuticas que hoje existem, ainda são muitos aqueles que se negam a admitir a existência de um mecanismo biológico que pode ajudar a explicar a perturbação. Portanto, para estas pessoas, o recurso à terapia farmacológica nem sequer se coloca. Para a resolução do problema apontam o caminho da terapia psicológica como única solução. Perante isto, Fernando Rosas indigna-se. “É óbvio que o doente deve seguir uma terapia que o ajude a controlar e a lidar com o estresse, a desenvolver as suas aptidões sociais, a relaxar, a lidar com a frustração etc. Mas se as perturbações de ansiedade revelam desequilíbrios no campo dos neurotransmissores e se esses desequilíbrios podem desaparecer com o recurso à terapia, parece-me ilógico não o fazer. Tem é que se ter atenção aos possíveis excessos e avaliar bem as situações antes de prescrever qualquer medicamento. Não faz sentido prescrever um tranquilizante perante um episódio esporádico de ansiedade ou um antidepressivo quando uma pessoa se sente triste. Mas aqui, são os especialistas que tem de tomar a atitude correta”.
João Paulo Ferreira, psicólogo clínico, partilha o mesmo ponto de vista e fornece, a título de exemplo, aquilo que acontece quando as pessoas depositam nos ansiolíticos todas as suas esperanças. “Os ansiolíticos ajudam a diminuir a ansiedade mas não ensinam a controlá-la. A pessoa sente um alívio relativamente às sensações de ansiedade quando toma o ansiolítico mas facilmente voltará a sentir o mesmo se deixar de tomá-lo. Portanto, estes medicamentos devem ser utilizados quando as situações o justifiquem mas não substituem uma terapia psicológica. As substâncias químicas ajudam a resolver as perturbações mas dificilmente serão a sua solução.” O que é certo é que a procura de ansiolíticos e de antidepressivos tem crescido. Mesmo no que toca aos produtos naturais, esta tendência mantém-se. O aumento da procura do Songha Night (medicamento natural que associa a valeriana e a cidreira) e o crescente consumo de valeriana demonstram bem que os adeptos dos produtos naturais recorrem cada vez mais às plantas medicinais para combaterem a ansiedade e a insônia.
Mas se tivermos em conta um estudo elaborado no ano 2000, que conclui que 62,7% das pessoas admitem ter alguma fobia e que, destes, 22,7% assumem que esta perturbação já interferiu no decorrer normal das suas vidas, talvez tal fato não seja de se espantar. E uma leitura rápida permite-nos concluir que se, por um lado, há cada vez mais pessoas sofrendo transtornos de ansiedade, o número de pessoas que recorre aos remédios de modo a encontrar alívio nos seus sintomas é cada vez maior.
Questionado sobre a sua posicão, em relação ao possível abuso no recurso a este tipo de remédios, Fernando Rosas afirma: “É preciso ter em atenção que estes medicamentos visam combater situações muito específicas e não devem ser tomados sem aconselhamento médico. Se tomados por um período longo, os ansiolíticos podem provocar dependência. No entanto, quando uma pessoa está fazendo um tratamento com ansiolíticos ou antidepressivos deve saber que não pode parar de os tomar de modo repentino. A retirada do medicamento tem que ser um processo gradual de modo a não provocar desequilíbrios”.
Um dos argumentos mais utilizados por aqueles que se mantêm contra a utilização destes remédios refere-se ao fato destes medicamentos contribuírem para uma fraca consciencialização dos indivíduos face aos seus problemas. O que, por um lado, pode ser verdade. De acordo com João Paulo Ferreira, “se há situações que justificam plenamente o uso dos remédios, há outras em que o recurso a estes medicamentos apenas revelam que é mais fácil comprar um medicamento do que decidir apostar na terapia psicológica”. A questão é que muitas vezes as pessoas sentem-se mal por não conseguirem lidar com a frustração, com o estresse ou com a tristeza e como não sabem o que fazer, recorrem aos medicamentos. “Quando o problema é ligeiro, os médicos devem aconselhar o paciente a procurar uma terapia... Ao invés, com os medicamentos, o mais natural é que este volte a aparecer. Portanto, tudo é uma questão de ponderar a gravidade e as necessidades de cada caso e decidir em conformidade com o diagnóstico”, afirma o psicólogo. Além destes medicamentos, existem outros aos quais os médicos recorrem com alguma frequência. São os medicamentos ‘placebo’ e não têm outro efeito que o de potenciar a auto-estima da pessoa. Alguns doentes sentem-se mais confiantes e menos ansiosos por saberem que têm consigo um medicamento capaz de parar as crises caso estas apareçam. E, por vezes, essa segurança é o suficiente para que a ansiedade diminua
Os comprimidos de Lincoln
Segundo um estudo publicado no número de verão de 2001, do boletim ‘Perspectivas da Biologia e Medicina’, a brusca mudança comportamental que, a dada altura da vida, Abraham Lincoln começou a manifestar – insônias, tremores e ataques de cólera – foi originada pelos comprimidos que lhe foram receitados quando lhe foi diagnosticada uma depressão. A questão é que os comprimidos continham uma quantidade de mercúrio 9 mil vezes maior do que a recomendada. Antes de ser eleito presidente dos EUA, Lincoln deixou de seguir a medicação, confessando a um amigo que “alguma coisa falhava desde que tomava aqueles comprimidos”.
Assim que os médicos consi
deraram as perturbações
mentais uma doença, começaram a tentar curá-las através dos métodos tradicionais em que confiavam. No entanto, durante muito tempo, a maioria destas tentativas fracassou. Hoje, apesar do muito que ainda falta saber sobre as causas (e logo a cura) das perturbações mentais, o panorama é mais animador. Nos últimos trinta anos, foram descobertas várias substâncias químicas que parecem aliviar algumas doenças mentais, bem como várias perturbações afetivas.
Além das intervenções de caráter psicológico (como as psicoterapias ou psicanálise) é possível intervir também no sistema biológico. Hoje, sabemos que as perturbações podem ser provocadas ou podem provocar distúrbios biológicos que podem ser cobertos com a administração de medicamentos adequados.
No campo das perturbações afetivas (fobias, depressão, neuroses de ansiedade), os medicamentos utilizados pertencem ao grupo dos ansiolíticos e ao grupo dos antidepressivos. De acordo com Henry Gleitman, professor de Psicologia da Universidade da Califórnia (EUA), “a eficácia dos antidepressivos prende-se com o fato de aumentarem a quantidade de norepinefrina e serotonina, que são substâncias químicas muito eficazes no combate à depressão”.
No entanto, estas substâncias não são eficazes em todos os pacientes. “A medicação não funciona de igual modo para todo mundo. Por vezes, é necessário fazer várias experiências até se acertar”, afirma o psiquiatra Fernando Rosas. No entanto, esta situação pode vir a mudar. Estudos recentes indicam a possibilidade da existência de “marcadores biológicos”(como os testes sanguíneos) que podem ajudar na adequação da medicação antidepressiva a cada doente.
Eficácia - O tratamento das perturbações mentais continua a suscitar opiniões nem sempre concordantes entre si. É que apesar das possibilidades terapêuticas que hoje existem, ainda são muitos aqueles que se negam a admitir a existência de um mecanismo biológico que pode ajudar a explicar a perturbação. Portanto, para estas pessoas, o recurso à terapia farmacológica nem sequer se coloca. Para a resolução do problema apontam o caminho da terapia psicológica como única solução. Perante isto, Fernando Rosas indigna-se. “É óbvio que o doente deve seguir uma terapia que o ajude a controlar e a lidar com o estresse, a desenvolver as suas aptidões sociais, a relaxar, a lidar com a frustração etc. Mas se as perturbações de ansiedade revelam desequilíbrios no campo dos neurotransmissores e se esses desequilíbrios podem desaparecer com o recurso à terapia, parece-me ilógico não o fazer. Tem é que se ter atenção aos possíveis excessos e avaliar bem as situações antes de prescrever qualquer medicamento. Não faz sentido prescrever um tranquilizante perante um episódio esporádico de ansiedade ou um antidepressivo quando uma pessoa se sente triste. Mas aqui, são os especialistas que tem de tomar a atitude correta”.
João Paulo Ferreira, psicólogo clínico, partilha o mesmo ponto de vista e fornece, a título de exemplo, aquilo que acontece quando as pessoas depositam nos ansiolíticos todas as suas esperanças. “Os ansiolíticos ajudam a diminuir a ansiedade mas não ensinam a controlá-la. A pessoa sente um alívio relativamente às sensações de ansiedade quando toma o ansiolítico mas facilmente voltará a sentir o mesmo se deixar de tomá-lo. Portanto, estes medicamentos devem ser utilizados quando as situações o justifiquem mas não substituem uma terapia psicológica. As substâncias químicas ajudam a resolver as perturbações mas dificilmente serão a sua solução.” O que é certo é que a procura de ansiolíticos e de antidepressivos tem crescido. Mesmo no que toca aos produtos naturais, esta tendência mantém-se. O aumento da procura do Songha Night (medicamento natural que associa a valeriana e a cidreira) e o crescente consumo de valeriana demonstram bem que os adeptos dos produtos naturais recorrem cada vez mais às plantas medicinais para combaterem a ansiedade e a insônia.
Mas se tivermos em conta um estudo elaborado no ano 2000, que conclui que 62,7% das pessoas admitem ter alguma fobia e que, destes, 22,7% assumem que esta perturbação já interferiu no decorrer normal das suas vidas, talvez tal fato não seja de se espantar. E uma leitura rápida permite-nos concluir que se, por um lado, há cada vez mais pessoas sofrendo transtornos de ansiedade, o número de pessoas que recorre aos remédios de modo a encontrar alívio nos seus sintomas é cada vez maior.
Questionado sobre a sua posicão, em relação ao possível abuso no recurso a este tipo de remédios, Fernando Rosas afirma: “É preciso ter em atenção que estes medicamentos visam combater situações muito específicas e não devem ser tomados sem aconselhamento médico. Se tomados por um período longo, os ansiolíticos podem provocar dependência. No entanto, quando uma pessoa está fazendo um tratamento com ansiolíticos ou antidepressivos deve saber que não pode parar de os tomar de modo repentino. A retirada do medicamento tem que ser um processo gradual de modo a não provocar desequilíbrios”.
Um dos argumentos mais utilizados por aqueles que se mantêm contra a utilização destes remédios refere-se ao fato destes medicamentos contribuírem para uma fraca consciencialização dos indivíduos face aos seus problemas. O que, por um lado, pode ser verdade. De acordo com João Paulo Ferreira, “se há situações que justificam plenamente o uso dos remédios, há outras em que o recurso a estes medicamentos apenas revelam que é mais fácil comprar um medicamento do que decidir apostar na terapia psicológica”. A questão é que muitas vezes as pessoas sentem-se mal por não conseguirem lidar com a frustração, com o estresse ou com a tristeza e como não sabem o que fazer, recorrem aos medicamentos. “Quando o problema é ligeiro, os médicos devem aconselhar o paciente a procurar uma terapia... Ao invés, com os medicamentos, o mais natural é que este volte a aparecer. Portanto, tudo é uma questão de ponderar a gravidade e as necessidades de cada caso e decidir em conformidade com o diagnóstico”, afirma o psicólogo. Além destes medicamentos, existem outros aos quais os médicos recorrem com alguma frequência. São os medicamentos ‘placebo’ e não têm outro efeito que o de potenciar a auto-estima da pessoa. Alguns doentes sentem-se mais confiantes e menos ansiosos por saberem que têm consigo um medicamento capaz de parar as crises caso estas apareçam. E, por vezes, essa segurança é o suficiente para que a ansiedade diminua
Benzodiazepinas
Constituem, atualmente, o grupo de remédios mais abundante dentro do grupo dos ansiolíticos.
Modo de atuação: o Gaba-ácido gamaaminobutírico é um neurotransmissor presente no SNC que atua através do ‘salto’ do impulso nervoso que se estabelece entre os neurônios, inibindo ou refreando a atividade neurotransmissora. As benzodiazepinas potenciam a sua ação inibidora.
Efeitos secundários: enjôo, cansaço, reação demorada, sonolência, descoordenação motora. Importante síndrome de abstinência. A mistura com bebidas alcóolicas pode ser perigosa.
Remédios destacados: Valium, Tranxen, Lexotan, Xanax, Victan
Inibidores da mono-aminooxidase (MAO)
São um pequeno grupo de antidepressivos que se empregam fundamentalmente nos pacientes que não correspondem a outro tipo de tratamentos
Modo de atuação: inibem a enzima monoaminooxidase, pelo que conseguem aumentar a concentração de uma série de neurotransmissores: a epinefrina, a norepinefrina e a serotonina, muito eficazes no combate à depressão.
Efeitos secundários: mudanças da pressão sanguínea, alterações de peso, insônias e redução do impulso sexual.
Remédios destacados: Aurorix
Antidepressivos tricíclicos (ADT)
Os antidepressivos tricíclicos são os mais amplamentes utilizados. Além de tenderem a ser os mais eficazes, provocam menos efeitos secundários perniciosos, pelo que costumam ser uma opção viável.
Modo de atuação: aumentam a quantidade de norepinefrina e de serotonina disponíveis para a transmissão sináptica
Efeitos secundários: confusão mental, alterações cardiovasculares, boca seca, visão turva, sudação, alteração do trato urinário, alterações do comportamento sexual.
Remédios destacados: Tofranil e Anafranil
Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (SSRI)
Os SSRI são um grupo de antidepressivos recentes que têm se mostrado eficazes em muitos casos em que os outros antidepressivos falharam. Apesar de poderem aumentar, transitoriamente, a sensação de ansiedade, provocam menos efeitos secundários e são, geralmente, bem tolerados. Com o uso continuado, transmitem grande sensação de segurança.
Modo de atuação: regulam a concentração de serotonina, um dos neurotransmissores mais importantes do cérebro.
Efeitos secundários: náuseas, vômitos, alterações do sono, ansiedade, excitação e diminuição do apetite sexual. Não se podem combinar com os MAO.
Remédios destacados: Prozac e Serotax.
Assim que os médicos consi
deraram as perturbações
mentais uma doença, começaram a tentar curá-las através dos métodos tradicionais em que confiavam. No entanto, durante muito tempo, a maioria destas tentativas fracassou. Hoje, apesar do muito que ainda falta saber sobre as causas (e logo a cura) das perturbações mentais, o panorama é mais animador. Nos últimos trinta anos, foram descobertas várias substâncias químicas que parecem aliviar algumas doenças mentais, bem como várias perturbações afetivas.
Além das intervenções de caráter psicológico (como as psicoterapias ou psicanálise) é possível intervir também no sistema biológico. Hoje, sabemos que as perturbações podem ser provocadas ou podem provocar distúrbios biológicos que podem ser cobertos com a administração de medicamentos adequados.
No campo das perturbações afetivas (fobias, depressão, neuroses de ansiedade), os medicamentos utilizados pertencem ao grupo dos ansiolíticos e ao grupo dos antidepressivos. De acordo com Henry Gleitman, professor de Psicologia da Universidade da Califórnia (EUA), “a eficácia dos antidepressivos prende-se com o fato de aumentarem a quantidade de norepinefrina e serotonina, que são substâncias químicas muito eficazes no combate à depressão”.
No entanto, estas substâncias não são eficazes em todos os pacientes. “A medicação não funciona de igual modo para todo mundo. Por vezes, é necessário fazer várias experiências até se acertar”, afirma o psiquiatra Fernando Rosas. No entanto, esta situação pode vir a mudar. Estudos recentes indicam a possibilidade da existência de “marcadores biológicos”(como os testes sanguíneos) que podem ajudar na adequação da medicação antidepressiva a cada doente.
Eficácia - O tratamento das perturbações mentais continua a suscitar opiniões nem sempre concordantes entre si. É que apesar das possibilidades terapêuticas que hoje existem, ainda são muitos aqueles que se negam a admitir a existência de um mecanismo biológico que pode ajudar a explicar a perturbação. Portanto, para estas pessoas, o recurso à terapia farmacológica nem sequer se coloca. Para a resolução do problema apontam o caminho da terapia psicológica como única solução. Perante isto, Fernando Rosas indigna-se. “É óbvio que o doente deve seguir uma terapia que o ajude a controlar e a lidar com o estresse, a desenvolver as suas aptidões sociais, a relaxar, a lidar com a frustração etc. Mas se as perturbações de ansiedade revelam desequilíbrios no campo dos neurotransmissores e se esses desequilíbrios podem desaparecer com o recurso à terapia, parece-me ilógico não o fazer. Tem é que se ter atenção aos possíveis excessos e avaliar bem as situações antes de prescrever qualquer medicamento. Não faz sentido prescrever um tranquilizante perante um episódio esporádico de ansiedade ou um antidepressivo quando uma pessoa se sente triste. Mas aqui, são os especialistas que tem de tomar a atitude correta”.
João Paulo Ferreira, psicólogo clínico, partilha o mesmo ponto de vista e fornece, a título de exemplo, aquilo que acontece quando as pessoas depositam nos ansiolíticos todas as suas esperanças. “Os ansiolíticos ajudam a diminuir a ansiedade mas não ensinam a controlá-la. A pessoa sente um alívio relativamente às sensações de ansiedade quando toma o ansiolítico mas facilmente voltará a sentir o mesmo se deixar de tomá-lo. Portanto, estes medicamentos devem ser utilizados quando as situações o justifiquem mas não substituem uma terapia psicológica. As substâncias químicas ajudam a resolver as perturbações mas dificilmente serão a sua solução.” O que é certo é que a procura de ansiolíticos e de antidepressivos tem crescido. Mesmo no que toca aos produtos naturais, esta tendência mantém-se. O aumento da procura do Songha Night (medicamento natural que associa a valeriana e a cidreira) e o crescente consumo de valeriana demonstram bem que os adeptos dos produtos naturais recorrem cada vez mais às plantas medicinais para combaterem a ansiedade e a insônia.
Mas se tivermos em conta um estudo elaborado no ano 2000, que conclui que 62,7% das pessoas admitem ter alguma fobia e que, destes, 22,7% assumem que esta perturbação já interferiu no decorrer normal das suas vidas, talvez tal fato não seja de se espantar. E uma leitura rápida permite-nos concluir que se, por um lado, há cada vez mais pessoas sofrendo transtornos de ansiedade, o número de pessoas que recorre aos remédios de modo a encontrar alívio nos seus sintomas é cada vez maior.
Questionado sobre a sua posicão, em relação ao possível abuso no recurso a este tipo de remédios, Fernando Rosas afirma: “É preciso ter em atenção que estes medicamentos visam combater situações muito específicas e não devem ser tomados sem aconselhamento médico. Se tomados por um período longo, os ansiolíticos podem provocar dependência. No entanto, quando uma pessoa está fazendo um tratamento com ansiolíticos ou antidepressivos deve saber que não pode parar de os tomar de modo repentino. A retirada do medicamento tem que ser um processo gradual de modo a não provocar desequilíbrios”.
Um dos argumentos mais utilizados por aqueles que se mantêm contra a utilização destes remédios refere-se ao fato destes medicamentos contribuírem para uma fraca consciencialização dos indivíduos face aos seus problemas. O que, por um lado, pode ser verdade. De acordo com João Paulo Ferreira, “se há situações que justificam plenamente o uso dos remédios, há outras em que o recurso a estes medicamentos apenas revelam que é mais fácil comprar um medicamento do que decidir apostar na terapia psicológica”. A questão é que muitas vezes as pessoas sentem-se mal por não conseguirem lidar com a frustração, com o estresse ou com a tristeza e como não sabem o que fazer, recorrem aos medicamentos. “Quando o problema é ligeiro, os médicos devem aconselhar o paciente a procurar uma terapia... Ao invés, com os medicamentos, o mais natural é que este volte a aparecer. Portanto, tudo é uma questão de ponderar a gravidade e as necessidades de cada caso e decidir em conformidade com o diagnóstico”, afirma o psicólogo. Além destes medicamentos, existem outros aos quais os médicos recorrem com alguma frequência. São os medicamentos ‘placebo’ e não têm outro efeito que o de potenciar a auto-estima da pessoa. Alguns doentes sentem-se mais confiantes e menos ansiosos por saberem que têm consigo um medicamento capaz de parar as crises caso estas apareçam. E, por vezes, essa segurança é o suficiente para que a ansiedade diminua
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Além de verdadeiras estrelas do mercado, os ansiolíticos e os antidepressivos são também um bálsamo para a alma.
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