Vidabrasil circula em Salvador, Espírito Santo, Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo Edição Nº: 324
Data:
15/2/2003
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Comportamento

Nunca como agora se falou tanto de sexualidade, mas a quantidade de informação veiculada está longe de ser diretamente proporcional à satisfação obtida. A maioria dos casais concorda que o sexo é fundamental numa relação afetiva, no entanto, vários estudos indicam que só uma pequena porcentagem diz ter uma vida sexual verdadeiramente satisfatória. Aos outros, segundo os psicólogos americanos Sheree Conrad e Michaell Milburn, da Universidade de Massachusetts, deve faltar inteligência sexual, precisamente o título do livro que publicaram. Estes autores transpuseram para a sexualidade o conceito da inteligência emocional de Daniel Goleman e, à semelhança deste autor, também o consideram exclusivamente humano. O erotismo é a combinação perfeita entre os estímulos sensoriais - provenientes do que vemos, ouvimos, tocamos, cheiramos – e a nossa inteligência, que se conjugam em busca do prazer, físico e intelectual. E o nosso potencial de atração e de envolvimento provém de tudo o que somos hoje, mas também do nosso percurso de vida, das nossas experiências, bem ou malsucedidas, que são o nosso capital de sedução, dizem os psicólogos. E também do nosso grau de auto-conhecimento e capacidade de conhecer os outros. Em suma, da nossa inteligência sexual.  
Competência humana – Enquanto nos animais o impulso sexual está associado à reprodução, nos humanos a sexualidade é uma área de prazer, comunicação e afetos, podendo ter paralelamente, claro, também uma dimensão de procriação. Devido à intensa malha de conexões entre a área pré-frontal e as estruturas límbicas tradicionais, a espécie humana é aquela que apresenta maior variedade de sentimentos e emoções. Daí que a sexualidade dos humanos tenha outra diferença abismal em relação à dos outros animais, especificamente aos que lhes estão mais próximos – os primatas – tornando o sexo algo muito mais complexo.  
As neurociências conseguiram identificar grupos de neurônios localizados em todo o hipotálamo, ricos em receptores de hormônios sexuais que se ativam quando os animais começam a aquecer, ou seja, quando sentem o impulso sexual. De tal modo, que se estes neurônios são destruídos, perdem todo o interesse pelas fêmeas, ficando, pelo contrário, verdadeiramente obcecados com o sexo quando os neurônios são estimulados eletricamente. Por isso, um gorila mesmo que esteja bastante satisfeito deliciando-se com uma banana, não fica indiferente a uma fêmea no cio. Mais do que estímulo visual é pelo olfato que o seu instinto de acasalamento é despertado. Por seu lado, os seres humanos, principalmente os homens, também não são indiferentes aos estímulos visuais. Por vezes, basta uma mulher cruzar o seu olhar para despertar o interesse. Mas não se enganem os que pensam que as curvas ideais são suficientes para os tornar inteligentes sexuais; o processo é mais exigente, segundo Milburn e Conrad.  
Imaginação – O interesse pelo outro é muito mais do que a sua imagem física, e a nossa criatividade não tem limites. “Vejo o outro com os olhos da imaginação, o lugar físico onde se encontra é aquilo que desejo contemplar”, descreveu Italo Calvino. Muito mais do que a limitadora realidade física, a fantasia é a chama do erotismo, que combina sabiamente as emoções e as projeções de cada um.  
Por isso, enquanto nos animais a retirada dos testículos conduz inevitavelmente à ausência de atividade sexual, o mesmo não acontece com os humanos, que podem criar fantasias eróticas e sentir apetite sexual. “A mente humana pode produzir sofisticadas fantasias eróticas sem ser com o intuito de as materializar”, explica a bióloga Herminia Pasantes, da Universidade Nacional do México. “O hipotálamo encontra-se sob outras influências nervosas, principalmente o córtex, que fazem parte do nosso cérebro desde a origem do pensamento e da imaginação”. Assim, o desejo humano pode ser despertado com a simples imaginação de uma carícia. É esta complexa rede neuronal que une o nosso cérebro primário ao mais desenvolvido, às emoções e ao pensamento, o que separa o nosso erotismo do sexo animal.  
Mas afinal, como é que podemos aumentar o nosso poder de atração? Há muito que os populares livros de auto-ajuda batem na mesma tecla: gostando de nós próprios. E isso tanto é válido para melhorar a vida profissional, fazer amigos como para ter bom sexo. “Não depende da sorte, da beleza ou do sex appeal inato”, escrevem os psicólogos americanos. A inteligência sexual está ao alcance de todos os que apostem em estimulá-la, porque “depende de capacidades que as pessoas podem adquirir, desenvolver e dominar”, esclarecem. Os autores que desenvolveram um teste para determinar o grau de inteligência sexual de cada um enfatizam a necessidade de conjugar conhecimentos científicos sobre sexo, sobre si próprio (o que me atrai, o que me excita...) e a capacidade para comunicar com os outros, ou seja, é preciso aprender a falar de sexo, mas não de forma desligada como muitas vezes ocorre. No livro não faltam receitas práticas para melhorar a via sexual, e os pesquisadores chegam mesmo ao ponto de definirem o número de relações sexuais semanal considerado ideal.  
“O sexo depende de reações neuroquímicas do cérebro, mas a zona que controla a excitação recebe sinais de duas fontes: da estimulação física e de outras regiões que regulam as emoções e as recordações”, dizem os psicólogos americanos, para reforçar a importância dos afetos. Para o psicólogo José Pacheco, responsável pelo serviço de Psicoterapia Comportamental do Hospital Julio de Matos, em Lisboa, não há dúvidas sobre a importância que atribuímos às emoções: “A forma como vivemos a nossa sexualidade remete-nos para o lado emocional, tanto durante a atividade sexual como na vivência de uma paixão”, afirma. Mas não concorda com a designação de “inteligência sexual”. “É um conceito como a inteligência emocional, não faz sentido. O cérebro é o centro das nossas emoções e nós temos consciência de que a inteligência pode interferir nas emoções”, concretiza.  
Associações afetivas – Na verdade, quando alguém nos desperta a atração, o conjunto de respostas que ocorre no nosso cérebro não é nada simples. Podemos ter sido literalmente apanhados pelo nariz, por exemplo. “Provavelmente o nosso bolbo olfativo captou um estímulo olfativo que despertou associações afetivas armazenadas nos neurônios do hipotálamo e de outras estruturas límbicas. A percepção do estímulo provoca alterações inconscientes e sensações enviadas através de sinais nervosos para o neocórtex pré-frontal”, afirmam os psicólogos Pablo Fernandez e Natália Ramos. Este vai organizar os sinais: tentar etiquetá-los, ordená-los graças a recordações táteis, visuais ou olfativas, o que vai exigir que lhe cheguem mais sensações, por exemplo, inspirando mais intensamente. “O que fazem os lobos pré-frontais é dar sentido às alterações químicas e hormonais e às respostas corporais que provocam. Tornam-nos mais completos emocionalmente, realizando uma representação intelectualizada das sensações emocionais básicas”, clarificam os autores. Mesmo quando se trata de uma mera atração física, o nosso cérebro “intelectualiza” as informações recebidas.  
Sensação de pleni-  
tude – O sexo ajuda a encarar a vida de uma forma mais positiva, ajudando a prevenir depressões, enquanto incita o organismo a produzir endorfinas – hormônios responsáveis por uma sensação de plenitude, além de inibirem a dor. A produção de testosterona também atua sobre o sistema nervoso, multiplicando as ligações entre os neurônios, o que acelera o fluxo nervoso, havendo, inclusive, alguns estudos que relacionam este hormônio com uma capacidade acrescida de memorizar. A libertação de hormônios no sangue é um bom antídoto para o estresse: a epinefrina, liberada nos primeiros momentos da relação sexual, contribui para aumentar a concentração de açúcar no sangue e reforçar as defesas contra o estresse. Mas a ação da epinefrina desaparece rapidamente, sendo necessário que a relação se prolongue para que intervenha outro hormônio – a DHEA – que aumenta a libido e que ajuda a diminuir a ansiedade, o mesmo acontecendo com a testosterona. Mas é a progesterona o principal anti-estresse, proporcionando uma sensação de paz a ambos. Para conseguir usufruir destes benefícios é importante que o sexo seja satisfatório. Para Conrad e Milburn, o sexo é uma negociação entre o casal, em que será bem sucedido quem compreenda o outro e consiga expressar as suas necessidades e desejos e saiba utilizar as suas emoções  
 
Um circuito neurológico só para as carícias  
Existem neurônios específicos só para registrar e reagir ao contato amoroso  
Ao analisar as sensações de uma mulher que perdeu a capacidade de sentir estímulos táteis, os cientistas constataram que ela reagia a uma leve carícia de um pincel no braço. As imagens mostram as áreas do cérebro que são ativadas quando o braço da mulher é acariciado, as mesmas que entram em funcionamento nas pessoas normais quando têm pensamentos românticos ou ficam sexualmente excitadas. Os estudo foi publicado na revista ‘Nature Neuroscience’.  
 
Palavras-chave do  
sábio erótico  
Os psicólogos americanos Michael Milburn e Sheree Conrad definiram a inteligência sexual, depois de estudarem a fundo a vida sexual de 500 pessoas  
1 – A qualidade não está no físico, a não ser no olhar erótico, na disposição para o prazer e na aceitação dos sentimentos e gostos do parceiro. Eros está na psique e não entre as pernas. Uma pessoa como Don Juan, presunçoso e pretensioso, preocupado apenas com a lista das suas conquistas e avesso a aprofundar o prazer, seria um ignorante sexual.  
2 – Confiança e compreensão em relação ao outro é o que define a inteligência sexual, e não ser o mais rápido a levar alguém para a cama.  
3 – O talento, a sabedoria, a qualidade do discurso, em suma, a imaginação, são outros fatores que definem o sábio sexual. Cleópatra foi assim, sem dúvida. Não era a beleza irresistível que nos mostram os filmes: era de pequena estatura, gordinha e com um nariz proeminente; mas deslumbrou Júlio César e Marco Antônio, os dois homens mais poderosos da época.  
4 – Manter o interesse sexual idades muito avançadas também é um sinal de inteligência sexual. Foi o caso de Anne Cumming (1917), autora de ‘Confissões Sexuais de uma Mulher Madura’. No final do livro, promete a continuação das suas experiências sexuais até depois dos 70!  
5 – Coisa a dois. Em geral, a inteligência sexual é uma coisa a dois, por isso, manifesta-se em toda a plenitude quando ambos os membros do casal são sexualmente inteligentes. Por outras palavras: todos podem praticar sexo, mas ter um relacionamento sexual intenso, profundo e variado, com um único parceiro, só está ao alcance dos mais inteligentes.  
6 – Aprendizagem: a inteligência sexual é uma variação da inteligência emocional, por isso a aprendizagem e a experiência têm muito a ver com ela. No livro chinês ‘Jou Pu Tuan’, de Li Yü (1611 – 1680), o protagonista começa por ser um ignorante sexual para quem a mulher não passa de uma propriedade, mas no decurso da sua viagem circular de grande conteúdo sexual torna-se um sábio.  
 
A “pequena morte” a nu  
A ciência desvendou as características físicas do orgasmo  
Durante o orgasmo, produzem-se descargas sincrônicas causadas pelos neurônios da área septal, da amígdala e dos núcleos talâmicos. Dura entre 3 e 20 intensos segundos, em que o homem ejacula e a mulher sente uma explosão de prazer que envolve todo o seu organismo. Perde-se parcialmente o controle muscular e sucedem contrações involuntárias (com intervalos de menos de um segundo entre os primeiros três a seis espasmos). Os ritmos cardíaco e respiratório aceleram ainda mais e o cérebro é invadido de endorfinas que transmitem uma sensação de plenitude. A progesterona é a responsável pela sensação calmante.  
A mesma equipe holandesa, recorrendo também a ressonância magnética, analisou o coito e constatou que o pênis no interior da vagina adquire a forma de um bumerangue e não de um S, como se pensava  
Em 1999, uma equipe de cientistas holandeses conseguiu através de  
uma ressonância magnética registrar a grande dilatação que  
ocorre na vagina depois do orgasmo  
 
Meça a sua inteligência erótica  
Para conhecer a capacidade erótica, Milburn e Conrad, dois psicólogos norte-americanos, elaboraram um teste. Esta que aqui apresentamos é uma versão reduzida.  
Serve para ter uma idéia. Pegue no lápis e responda, sem mentir para si mesmo...  
Para os que estão interessados em fazer o teste completo, convém salientar que Conrad e Milburn, no seu livro, esqueceram-se de assinalar que o resultado deve ser multiplicado por 100.  
1 – Como avalia a sua atual vida sexual, comparando com a maioria das pessoas?  
a) Menos excitante do que a da maioria das pessoas  
b) Idêntica à da maioria  
c) Excitante  
d) Atualmente não mantenho nenhuma relação sexual  
 
2 – Alguma vez escondeu um segredo sexual do seu parceiro durante bastante tempo?  
a) Não, nunca  
b) Uma ou duas vezes  
c) Várias vezes  
d) Com freqüência  
 
3 – Comparando o esforço que dedica a outras áreas da sua vida cotidiana, que esforço dedica para ter uma vida sexual ativa e satisfatória?  
a) Passo grande parte do tempo imaginando como vou conseguir ter relações sexuais mais freqüentemente  
b) Para mim uma vida sexual satisfatória é tão importante como o meu trabalho e os meus passatempos  
c) Quando acabo as tarefas cotidianas, não me sobram tempo nem energia para pensar em formas de melhorar a minha vida sexual  
d) Tenho vergonha de a minha vida sexual ser tão insatisfatória, por isso não procuro pensar no assunto  
 
4 – Até que ponto acha que ter relações sexuais fantásticas é um sinal de que o amor é verdadeiro?  
a) Não tem nada a ver  
b) Significa que os membros do casal estão feitos um para o outro  
c) É uma garantia de que se está apaixonado  
 
5 – Se você acabou de conhecer uma pessoa de quem gosta muito e com a qual quer ter uma relação séria, tem logo relações sexuais?  
a) Espero até a conhecer melhor  
b) Algumas vezes tive relações sexuais com parceiros antes de os conhecer bem  
c) Decididamente, sim  
 
6 – Quando está excitado/a tem consciência de que o que sente é um impulso instintivo, um sentimento afetuoso ou necessidade de companhia?  
a) Nunca distingo entre impulsos físicos e emocionais  
b) Às vezes tenho consciência de que é uma necessidade meramente física  
c) Às vezes tenho consciência de que procuro companhia  
d) É sempre uma combinação de ambos  
 
7 – Até que ponto tem noção das características físicas que constituem o seu gênero?  
a) Sinto-me logo atraída/o por pessoas de determinado tipo  
b) Atraem-me pessoas com um determinado aspecto, mas nem sempre opto por ter uma relação com ela  
c) Atraem-me muitos gêneros físicos  
d) Nunca pensei por que tipo de pessoa me sinto atraído.  
 
8 – Acha que uma experiência sexual traumática influencia posteriormente a capacidade de desfrutar de sexo?  
a) Não, se tiverem passado vários anos  
b) Se não se sentir ameaçado pelo parceiro atual é muito improvável  
c) Só se a pessoa está demasiado obcecada com o sucedido  
d) Em muitos casos é muito proável  
 
9 – Habitualmente, com que freqüência tem relações sexuais?  
a) Algumas vezes por ano  
b) Uma a duas vezes por mês  
c) Uma ou duas vezes por semana  
d) Três vezes por semana  
e) Quatro vezes por semana  
 
10 – Quantas vezes já teve relações sexuais sem lhe interessar, só para agradar ao parceiro?  
a) Nunca  
b) Diversas vezes  
c) Ocasionalmente  
d) Freqüentemente  
 
11 – Até que ponto está de acordo com a afirmação: a paixão sexual tem sempre um preço, às vezes muito alto?  
a) Totalmente de acordo  
b) De acordo  
c) Em desacordo  
d) Completamente em desacordo  
 
12 – Alguma vez se envergonhou da sua conduta ou dos seus desejos sexuais?  
a) Com freqüência  
b) Às Vezes  
c) Nunca  
 
13 – Como é que seu peso afeta a possibilidade de ter relações sexuais?  
a) Não me afeta de todo  
b) Podia sentir-me mais contente com o meu corpo  
c) Estou demasiado gordo(a) para ter uma boa vida sexual  
d) Não estou suficientemente em forma para ter uma boa vida sexual  
Resultados  
1 A –2 B +3 C 0 D 0  
2 A +3 B 1 C –1 D –3  
3 A –1 B +3 C –1 D –2  
4 A +3 B 0 C –3  
5 A +3 B +1 C –3  
6 A –1 B +1 C +1 D +1  
7 A 0 B +1 C +3 D 0  
8 A 0 B 0 C –2 D +3  
9 A 0 B +1 C +2 D +3 E +2  
10 A+3 B 0 C +1 D –3  
11 A –1 B 0 C +1 D +3  
12 A –3 B 0 C +3  
13 A +3 B 0 C –3 D –3  
Some 26 ao resultado, divida-o por 63 e multiplique-o por 100. Esta é a sua pontuação, a sua “inteigência sexual”.  
90 ou mais: excelente • 80-89: boa • 70-79: corresponde à média obtida pelos autores no estudo • 60-69: baixa  
Inferior a 60: inteligência erótica muito baixa  
Quantidade não é qualidade?  
A nova teoria americana sobre a inteligência  
sexual põe em  
destaque alguns  
amantes famosos  
Tendo em conta todas as variáveis que os psicólogos americanos Conrad e Milburn definiram, alguns dos amantes mais famosos da história revelam-se uns incompetentes sexuais, só preocupados consigo próprios, atentos apenas à quantidade e não à qualidade e profundidade dos relacionamentos.  
Marcelo Mastroianni  
A imagem do funeral, que reuniu a viúva e várias das mulheres que amou, deixou claro que a sua marca foi indelével, o que só se consegue tendo em conta as necessidades do outro.


Um circuito neurológico só para as carícias
Segundo os psicólogos americanos Conrad e Milburn, 75% dos americanos carece de inteligência sexual. Mas, acrescentam, esta incapacidade não é inata e pode corrigir-se
Leonardo da Vinci descreveu em 1492 a anatomia de um coito. O desenho mostra como Da Vinci acreditava que o sêmen era conduzido do cérebro ao pênis

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