Vidabrasil circula em Salvador, Espírito Santo, Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo Edição Nº: 314
Data:
15/9/2002
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Entrevista

A amizade começou há mais de  
20 anos, quando se encontra-  
ram na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), onde estudavam, e participaram da reorganização do Diretório Central dos Estudantes (DCE). Começava, na verdade, uma caminhada política de um grupo de amigos que, hoje, está prestes a “tomar o poder” pelo voto no Estado. Mas este é apenas um dos atributos que fizeram de Lelo Coimbra, 48 anos completados no último dia 21 de junho, companheiro de chapa do senador Paulo Hartung (PSB) na disputa pelo governo do Estado.  
“Vice é uma função que não se disputa, mas é o resultado de uma convergência”, filosofa Lelo, o escolhido de Paulo Hartung. Os dois militaram juntos no Partido Comunista Brasileiro (PCB), como muitos jovens de sua época. Lelo formou-se em Medicina e foi fazer especialização em Saúde Pública e Medicina do Trabalho na Universidade de São Paulo (USP). Por lá, envolveu-se nos movimentos pela anistia e plena redemocratização do país.  
De volta ao Estado, Lelo passou no concurso público para ser médico do Ministério do Trabalho. De 1985 a 1987, foi delegado do Centro Estadual da Fundacentro e, de 1987 a 1990, foi subsecretário de Estado de Saúde na administração de Max Mauro, ironicamente hoje adversário da dupla na disputa pelo Palácio Anchieta.  
Lelo ficou como primeiro suplente de deputado estadual em 1990 e, dois anos depois, o amigo Paulo elegeu-se prefeito de Vitória e o convidou para ser secretário municipal da Saúde. Em 1994, agora sim, Coimbra tornou-se deputado estadual, cargo que voltou a ocupar nos últimos dois anos, destacando-se no grupo de oposição ao governo do Estado.  
Diferentemente de muitos vices que há por aí, meros desconhecidos, Lelo Coimbra tem posições políticas firmes, fala muito e não foi fruto de composições políticas. O candidato a governador Paulo Hartung o escolheu pelos critérios de competência e lealdade. Confira a seguir porque ele virou candidato a vice-governador e o que pensa que será um eventual governo de Paulo Hartung para o Espírito Santo.  
– Deputado, normalmente a posição de vice numa chapa ao governo é muito disputada. O seu caso foi diferente, o sr. foi escolhido pelo candidato majoritário. Qual o peso de sua presença na chapa de Paulo Hartung?  
– Em primeiro lugar, entendo que os grandes conflitos nessa função devem-se ao fato de ela ter sido disputada em outros momentos. E não é uma função que se dispute, é o resultado de uma convergência de situações em determinado momento. Até 72 horas antes das convenções, essa possibilidade não estava nos meus planos. O registro das candidaturas teria que ser feito até às 19 horas de uma sexta-feira, e na quarta-feira eu estava preparando para o sábado o lançamento de minha candidatura à reeleição como deputado estadual.  
Eu estava com dois mil kits prontos, com adesivo, santinho e um brinde, para lançar minha candidatura. Eu estava taxiando na pista para decolar para deputado. Na quarta-feira à noite, recebi um telefonema do senador Paulo Hartung me consultando se meu nome poderia ser considerado como alternativa de vice. Respondi que isso era um convite para cumplicidade de campanha e de governo e que, se fosse assim, poderia considerar. Mesmo assim, continuei os preparativos para minha festa e, na sexta-feira, a Executiva Regional do PSB e os aliados me chamaram para conversar e se entendeu que eu deveria ser o vice-governador. Isso aconteceu às cinco horas da tarde da sexta-feira limite para inscrição de chapas, e a ata deu entrada no TRE a um minuto do prazo final. Pegamos um trânsito ruim e foi um estresse muito grande.  
Não se disputa vice. Há que se ter atributos pessoais para se tornar uma alternativa para uma posição como essa, além da confiança construída, porque a titularidade da função de governo é do governador e essa relação precisa estar bem clara entre o governador e o vice, e bem articulada entre os aliados que fizeram a montagem política e vão articular para que o governo aconteça.  
A função de vice não pode ser de dissenso, mas de consenso.  
– O grupo político de vocês sempre esteve localizado numa estrutura partidária mais forte, e hoje o PSB não é exatamente isso, aqui no Estado. Eu também nunca vi um vice-governador que aparecesse numa campanha com propaganda política própria, e o sr. está saindo com um prospecto de divulgação pessoal, embora não vá disputar voto. Isso é uma estratégia para compensar essa fragilidade da estrutura partidária da chapa?  
– As estruturas partidárias são colocadas nacionalmente. No Estado, o PSB também sofre muito. É um partido de médio porte, não sem expressão, porque tem participações históricas em coligações com o PT em outros momentos, e tem hoje seu candidato a presidente. Agora, as referências das pessoas nas eleições estão muito fora dos partidos, muito nominais, na história do político. O próprio tempo de televisão é decorrente da verticalização, um ato arbitrário, tomado depois de vencidos os prazos de opções partidárias.  
A alegação do TSE foi de que a verticalização reforçaria os partidos. Até poderiam reforçar, mas dentro de uma proposta integral de mudança de política eleitoral, de introdução do voto distrital misto e facultativo, elementos de fidelidade partidária definidos em conjunto com outras medidas.  
Da forma como foi estabelecida, a verticalização criou uma confusão que estabelece traços particulares para as eleições em todo o país, tendo coligações que fizeram um modelo de alianças, mas com alianças externas envolvendo outros blocos e forças políticas compartilhando o processo eleitoral muito mais por afinidades construídas em determinado momento do que pela legislação.  
Esperávamos uma campanha tomando forma após a Copa do Mundo e isso não aconteceu, como não aconteceu em julho nem em agosto. Estamos a pouco mais de 30 dias das eleições, e agora é que a campanha começa a tomar algum viço.  
– Está faltando empolgação do eleitor?  
– É uma campanha fria. O eleitor está ressentido, desconfiado. No Espírito Santo, particularmente, mais desconfiado ainda. Então, a ocorrência de um material próprio de propaganda política do vice é para atender a uma demanda do próprio eleitor. As pessoas querem mais informações sobre o vice e, com esse material, elas poderão saber quem é o vice da chapa de Paulo Hartung.  
Esse vice tem com o candidato Paulo Hartung uma relação fraterna, construída desde o movimento estudantil, mas não é o único atributo que nos faz estarmos juntos. Tem as condições da legislação e os atributos pessoais do exercício de mandato e de vida pública. Não sou apenas um nome colocado numa chapa para fins legais, mas um parceiro com o compromisso de fazer com que esse Estado, na titularidade de governo e no apoio de vice-governadoria, e na articulação da aliança e de aliados, possa se orgulhar de seu comando.  
Essa propaganda própria reforça a parceria conjunta, não é nenhum indicativo de coisas futuras. É para que as pessoas saibam quem é o político e o homem Lelo Coimbra.  
– Dificilmente se consegue um vice como o sr., com estatura política à altura do candidato principal, o governador. O sr. também se vê assim?  
– Nossas histórias são diferentes. O Paulo Hartung tem uma trajetória muito particular, com dois mandatos de deputado estadual bem exercidos e bem avaliados, um mandato parcial de deputado federal, uma presença importante na gestão da cidade de Vitória, presença relevante numa das direções do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e com quatro anos de um bom exercício de mandato no Senado da República.  
São qualidades e atributos que o colocaram na condição de candidato a governador com grande apelo popular, com grande carinho e respeito popular.  
Essa possibilidade de estabelecer um comparativo de competitividade de funções não está colocada em momento algum. É exatamente o oposto dessa visão que faz com que a possibilidade de harmonia e compromisso com o futuro sejam bem estabelecidos na montagem da chapa.  
Do ponto de vista pessoal, tenho uma história que ajudou a construir essa história que envolve o Paulo Hartung desde a Universidade. Do ponto de vista público, ao exercer cargos de segundo mandato de deputado estadual, subsecretário de Estado de Saúde, secretário de Saúde de Vitória num momento importante da administração com Paulo Hartung, de ser concursado do Ministério do Trabalho, de ter sido diretor da Fundacentro, um órgão do sistema, e Delegado Regional do Trabalho são qualificações que foram exercidas positivamente perante a opinião pública, dentro das mesmas diretrizes de pensamento desse grupo de pessoas que caminham juntas há algum tempo.  
Minha presença na vice, pela experiência que adquiri, pelo compromisso público e pelo respeito que angariei da população, expresso por meio do voto e do apoio, reforça e é positiva na montagem da chapa para o governo. Não há em absoluto qualquer possibilidade de concorrência, mas de complemento mediante os desafios de tirar o Estado da situação de descrença. Se esse interesse público não for o norte em qualquer momento à frente desse em que nós estamos, não estaremos cumprindo nossa função nem o compromisso de reconstruir o Espírito Santo.  
– Como se pretende fazer essa reconstrução, já que se sabe das dificuldades que o Estado vive e viverá? Um eventual governo de Paulo Hartung vai pegar o Estado com dificuldades financeiras, baixa capacidade de investimento, pendências com os servidores que vêm desde governos passados.  
– As dificuldades são visíveis para todos. Estima-se a possibilidade de enfrentarmos o equivalente a quase uma arrecadação de ICMS anual como déficit corrente a ser encontrado, há uma crise de confiança grande entre Estado, servidores, prestadores de serviço e sociedade, bem como no ambiente de investimentos do Estado para com a política e o exercício de governo.  
O primeiro desafio é estabelecer um ambiente onde a confiança entre a função pública e a sociedade possa estar muito fortemente argamassada. Acho que isso começa na campanha, onde é preciso estabelecer um pacto sólido com a sociedade, para que entenda estar diante de um momento novo com a possibilidade de eleição da chapa Paulo Hartung e Lelo. E que ela saiba que estará compartilhando, participando e defendendo um momento de governo onde a eliminação dos interesses privados será o norte central da atividade pública.  
Teremos uma política saudável, um ambiente onde as intermediações financeiras entre os setores privados e os agentes públicos sejam suprimidas. O investidor, que terá sua atividade expandida no Estado, ao obter uma concessão ou qualquer procedimento aprovado pelo Estado, ao fazer seu investimento com base em planejamento estratégico, saiba que terá negociações todas previsíveis, dentro de um processo onde o poder público será um agente promotor e não para criar desconforto e dúvidas para o investidor.  
Da mesma forma, o servidor público, que saiu de um governo anterior com salários atrasados. Esses salários foram pactuados dentro de uma regra criada pelo governo e há 10 parcelas do contingenciamento atrasadas. Há previsões de que, além disso, poderemos ter folhas de salários atrasados, além dessa.  
É preciso um ambiente onde a confiança no Estado seja fundamental, e que as relações com o governador e o vice-governador sejam saudáveis.  
A responsabilidade de governar é do governante eleito, mas a responsabilidade social tem que ser permanente a partir das eleições. A eleição de um governador tem que estar associada à eleição de deputados na Assembléia Legislativa, o que é um ponto importante a ser visto com carinho pela população.  
Precisamos de uma base de apoio capaz de dar sustentação a um projeto político que tenha o interesse público de desenvolver o Espírito Santo, com capacidade de estabilizar as relações com a sociedade. Uma Assembléia não subalterna ao Executivo, mas que tenha um compartilhamento positivo em relação a um Estado moderno, ágil, com procedimentos administrativos corretos. Superadas as dificuldades iniciais, é preciso que os contratos de prestação de serviços ao Estado sejam pagos nos dias aprazados, em rede bancária, eliminando o pagamento em balcões de secretarias, situações que criam relações de baixa qualidade, com intermediações processuais.  
– Isso já é uma indicação de uma prática de governo no futuro?  
– Com certeza. Práticas desse tipo são um compromisso que temos de estabelecer, no mais curto prazo possível. Toda vez em que, numa crise financeira, com atraso de pagamentos, você escolhe quem vai pagar primeiro, está estabelecendo um ambiente de corrupção, negativo, que não é saudável nem para o servidor, submetido ao risco de se envolver quanto aos outros estímulos num ambiente desse tipo.  
O compromisso de mudar esse ambiente de governo é fundamental, onde a possibilidade de desvios de conduta possa ser coibida de imediato, em tempo real, para que não haja margem de dúvida quanto ao interesse público em nossa administração.  
– Seguidos governos têm sido marcados pelo fortalecimento de determinados secretários que sequer obedecem às ordens do governador. E isso não é exclusividade do governo atual. A esfera de poder se transfere, por exemplo, para o secretário da Fazenda, em cuja porta os gestores públicos têm que fazer fila para obter repasses de verbas de orçamento aprovados e não cumpridos. Pelo que o sr. está falando, essa figura do supersecretário, que já é cultural no Estado, vai acabar. Como será feito isso?  
– A primeira coisa é que nenhum governo é feito sozinho pelo governador, mas por forças políticas articuladas sob o comando de quem recebeu o voto popular. Todas as vezes em que se têm superestruturas intermediárias, tem-se uma deformação do exercício do poder, por omissão do governante principal ou por deixar transcorrer em algumas áreas situações em que não tenha total controle, muitas vezes porque compartilhou de forças que têm sobre o governador força maior do que o governador tem que ter sobre o Estado.  
Embora o poder seja compartilhado, um governo tem que ser harmônico e equilibrado. Quando Paulo Hartung foi prefeito de Vitória, mostrou que o comandante de um processo de governo é aquele a quem o povo delegou essa responsabilidade, e é quem vai responder perante os órgãos controladores. Nenhum secretário, que não teve voto, pode ter uma expressão maior do que o governador, que recebeu essa delegação do povo, e a quem cabe a responsabilidade pelo realizado ou pelo mal realizado.  
– O sr. sabe que o eleitor é muito pragmático. Tanto o discurso do senador Paulo Hartung quanto o do sr. criam muita expectativa. Já tivemos um ex-prefeito de Vitória muito bem sucedido, que foi Vitor Buaiz, que como governador saiu-se muito mal. Costuma-se dizer que administrar Vitória é muito diferente de administrar Estado. O sr. não teme que já no primeiro ano se cobre muito e o governo tenha muitas dificuldades mediante cobranças da população?  
– A vida é de riscos. Administrar Vitória não é tão fácil. Há cidades, como São Paulo, muito ricas e mal administradas. E outras, nem tão ricas, mas bem administradas. O Pronager (Programa Nacional de Geração de Emprego e Renda), cuja experiência em Vitória é pioneira no Brasil, é um exemplo de como conseguir um ambiente positivo em várias áreas. As experiências positivas custaram enfrentamentos, decisões, que Vitor, Paulo Hartung e Luiz Paulo tomaram.  
A complexidade da gestão pública do Estado envolve vários interesses municipais, outros interesses cruzados, interesses privados embutidos no interesse público, e cabe ao governante identificar de maneira precisa como essa predominância, com vistas aos interesses do Estado, se organizaram para as políticas públicas. Tenta-se criar um estigma em relação a Vitória, mas não se avalia corretamente como os governantes que saíram da capital para o Estado agiram nessas questões.  
Acho que isso está ligado mais a qualidades pessoais na forma de gestão do que a uma relação automática de que aqui é bom e lá necessariamente não o será. Os desafios de governo são grandes, a complexidade dos interesses é enorme, e a capacidade política articulando uma boa base para apoiar, debater e divergir é que deve buscar a convergência para os interesses públicos.  
Para obter sucesso, é preciso dar visibilidade muito grande às medidas para estabelecer o equilíbrio das finanças públicas. Ao mesmo tempo, buscar estabelecer desenhos e características das políticas públicas para educação, saúde e segurança, que possam estar tomando um contorno claro, com participação e compartilhamento social e comprometimento das alianças políticas que envolvam o governo.  
Serão quatro anos de um grande desafio, mas lembro-me de Santa Catarina, que no mandato passado tinha um governo que projetava o Estado pelas fraudes e precatórios, e três anos e meio depois tem um governo premiado por suas realizações e com o maior financiamento já concedido por uma agência pública internacional a um governo no Brasil.  
O Espírito Santo está, nos últimos 12 anos, com o melhor desempenho econômico entre todos os Estados brasileiros. É um Estado promissor, com empreendimentos locais, na fruticultura, confecções, indústria moveleira e, agora, o petróleo, que tem que ser tratado com realismo e não com messianismo, o que faz o Estado só andar para a frente. E a política tem obrigação de criar um ambiente para que isso aconteça.  
São ações como a do ministro Guilherme Dias, do Planejamento, que numa articulação com o senador Paulo Hartung colocou no Orçamento da União R$ 50 milhões para a ampliação do aeroporto de Vitória no próximo ano, beneficiando toda a economia capixaba.  
A expectativa da sociedade é sempre renovada em cada eleição, e cabe ao governante estabelecer um compromisso com esse ponto futuro, que tem passos a se cumprir e que não são fáceis. Temos a determinação de dar os passos necessários, mas sem vender ilusões. Não prometeremos terreno na lua, nem com escritura nem sem escritura, porque não o entregaríamos.  
– O sr. tomou como referência Santa Catarina, que encontrou seu caminho com um governo de direita, do Esperidião Amin. Mas eu quero traçar um outro paralelo para saber qual o caminho que um eventual governo Paulo Hartung vai seguir. Este país construiu nos últimos 40 a 50 anos um sistema de circulação e transportes radial concêntrico levando às concentrações urbanas como a Grande Vitória, enquanto regiões situadas a oeste do Estado, entre as BR 262 e 259, não têm sequer ligações entre si. Tudo dirige-se para a Região Metropolitana. O que um futuro governo Paulo Hartung faria para equacionar esse problema, já que Santa Catarina, aí sim, é um exemplo de planejamento, com vários pólos de desenvolvimento descentralizados, sem os problemas sociais do Espírito Santo?  
– A ocorrência de grandes aglomerados urbanos é decorrente do desenvolvimento histórico do Brasil. O Espírito Santo é um deles. Aqui se construiu uma Região Metropolitana que concentra 63% da população, muito centrada nos seus negócios. A sociedade se move onde as oportunidades estão presentes – sociais, econômicas, culturais. Este é o fato histórico.  
Uma das questões importantes é estabelecer uma gestão bem articulada na Região Metropolitana, que não será desfeita, mas servirá de exemplo para outros pólos do Estado. A outra questão é como estimular novos pólos para o interior do Estado, para que esse fluxo migratório seja interrompido e até se ofereça alternativa de retorno para quem está na Grande Vitória. Para isso, é preciso gerar condições econômicas regionais de sustentação.  
Um bom exemplo é que, associada à fruticultura do norte do Estado, se tem hoje uma indústria de polpas em Linhares, um processamento intermediário que permite a geração de emprego, tecnologia e, naturalmente, formação de mão-de-obra, criando todo um aparato em torno de uma cadeia de produção como essa.  
Temos várias experiência, como o coco em São Mateus, e a partir de outubro uma trade de Aracruz estará, com tecnologia local, exportando toneladas de cascas de eucalipto para a extração de óleo. Isso gera uma movimentação da economia local.  
A região sul do Estado sofre muito, porque o Mercosul tirou a competitividade da agropecuária brasileira e isso gerou um esvaziamento econômico do sul capixaba, que precisa ser repensado. Acredito que essas estratégias estão sendo articuladas com agentes econômicos e, com ambiente saudável de relações políticas, o empresário vai acreditar.  
Temos uma estrutura de agricultura em base familiar no Espírito Santo muito semelhante à de Santa Catarina, o que permite criar estímulos para que isso seja bem articulado dentro das cadeias produtivas.  
É intenção de Paulo Hartung articular o Fundap, dando a ele um traço social para, num compartilhamento com essa base familiar da agricultura, promover o desenvolvimento e até dar uma roupagem positiva ao sistema Fundap, que é nossa grande vantagem comparativa em relação a outros Estados.  
– Essa também já é uma diretriz de governo?  
– É uma diretriz e vai estar no documento, a ser colocado para a população no último mês de campanha, do programa de governo, que será aberto a contribuições até a eleição. E, se confirmando nossa eleição, continuará aberto a contribuições.  
– Há indicativos de que, se eleito governador, Paulo Hartung dificilmente conseguirá iniciar o governo com maioria na Assembléia. Como o governo pretende estabelecer essa relação com a Assembléia?  
– Acho que essa eleição vai ser atípica, encontrando um eleitor muito sensível e com uma taxa de definição para o Legislativo de pouco mais de 10%, a pouco mais de um mês das eleições. Portanto, não está definido que a Assembléia será desse ou daquele tipo.  
Fala-se a favor de uma Assembléia mais renovada. A verticalização gerou facilitadores nas chapas estaduais, mais solteiras. A grande aglomeração de legendas tradicionais não foi possível e as dificuldades de reeleição serão maiores. Devemos ter uma renovação de 19 a 21 cadeiras na Assembléia. A qualificação dessa renovação vai depender de como as forças políticas vão se organizar nesse final de campanha.  
Estamos otimistas a que consigamos estabelecer um equilíbrio de forças. Embora se tenha uma Região Metropolitana com maior densidade de habitantes, não se tem uma representação parlamentar vigorosa. Acredito que a Assembléia futura está ainda por ser desenhada em sua expressão final.  
Independentemente disso, e essa é uma determinação de diretriz de Paulo Hartung, é preciso haver um relacionamento com o Legislativo, onde as relações de troca pura e simples, como ocorrem hoje, possam ser rompidas; onde o respeito à representação regional fique bem estabelecido, mas a partir das políticas de governo nas regiões a serem implementadas com o compartilhamento das lideranças eleitas pelo voto; e as relações com a Assembléia não sejam de submetimento. Um dos aspectos importantes do governo que envolve a profissionalização da máquina pública. Não se admite mais que os governos contratem de 7 a 11 mil designações temporárias. Tem-se hoje quase 15 mil DTs, e muitas delas por pressão de base política parlamentar. Isso é uma desorientação da função pública de grande monta. É um desvirtuamento. Há secretarias de propriedade de determinados deputados. Governo que quer ser moderno tem que romper com essas relações, enfraquecendo-as.  
Haverá uma renovação na Assembléia, ainda que nominal, mas que representa situações e momentos novos. É importante que a sociedade eleja, acompanhe e cobre de seus representantes a confirmação de um ambiente saudável na política.  
– Na construção dessas relações, o governo vai precisar de um bom articulador, já que o governador não tem tempo de cuidar disso. É aí que entra a figura de um político com experiência e habilidade que se encaixa bem no seu perfil. Essa função pode vir a ser exercida pelo eventual futuro vice-governador?  
– Acho que essa função é igual almoço comunitário: cada um faz uma parte. Acho que as tarefas são tão complexas que você não conseguirá estabelecê-las concentradas numa figura sozinha. A figura do vice, confirmada pelo voto, permite uma posição de destaque nessa articulação, mas não é isolada, porque a própria experiência do governador é capaz de levá-lo a dar esse desenho à nova situação política.  
Minha expectativa pessoal é poder estar disponível para que seja parte ou elo muito positivo na construção dessa pluralidade de intenções e características de cada força política envolvida nesse processo. Do mesmo modo que não se pode pensar em superfunções executivas, também não se pensa em superfunções políticas, que vão estar concentradas na figura do governante principal, compartilhadas com as articulações políticas que possamos fazer. Tudo para que possamos ter um desenho harmônico e positivo da política do Espírito Santo

  

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